Por Catarina Santos Nunes, Head of Operations & Compliance da Starkdata
Para quem como eu cresceu a ver os Jetsons o futuro nunca esteve tão perto.
No desenho animado, quase todos os aspectos da vida eram automatizados e assistidos por robots, o que transformava a vida da família Jetson numa maravilha do mundo moderno.
Para quem não se lembra, ou não é do tempo – O George, a sua mulher Jane, os filhos Judy e Elroy e o fiel Astro, o cão da família viviam no futuro imaginado nos anos 60 e mais tarde nos anos 80.
O George Jetson ia para o trabalho num veículo voador que se convertia numa pasta de documentos, e que ainda continha 3 plataformas voadoras, uma espécie de veículos voadores auto-tripulados, que levavam os diferentes membros da família para os seus destinos respectivos.
A família era assistida por um robot doméstica, a Rosie, que cuidava da casa, e até as refeições eram geradas por uma máquina.
Não vivemos ainda no futuro da família Jetson, mas caminhamos para lá. Pelo menos, é isso que nos sugere a recente expansão da Inteligência Artificial.
Num ritmo bastante acelerado, a Inteligência Artificial passou a fazer parte do nosso dia-a-dia.
Já usamos Inteligência Artificial para programar rotinas de exercício, organizar refeições, planificar jardins, acelerar decisões… entre tantos outros exemplos possíveis.
Nas empresas, há, contudo, um ritmo bastante diferente de adopção da tecnologia, por um lado por força da maior complexidade de implementação de Inteligência Artificial, por outro, pelo impacto e riscos consideravelmente maiores de aplicação de Inteligência Artificial a processos de negócio.
Talvez por isto, ainda que 4 em cada 5 executivos americanos declare que o uso de Inteligência Artificial nos seus negócios é absolutamente estratégico, apenas 1 em cada 5 empresas nos EUA efectivamente testaram um use case de Inteligência Artificial nos seus negócios, e apenas 1 em cada 20 implementou um produto internamente de forma continuada.
Existem, no entanto, alguns casos de uso em empresas que revelam já o potencial e impacto da tecnologia no ambiente das empresas, e os resultados são muito promissores.
Alguns exemplos:
Humana
A Humana é uma das maiores companhias de seguros dos Estados Unidos, tendo cerca de 13 milhões de clientes.
Pela dimensão da base de clientes é simples compreender que o volume de recursos para satisfazer as necessidades de suporte é enorme.
Para garantir um atendimento mais eficaz aos seus clientes, a Humana implementou um chatbot com tecnologia IA da IBM, de modo que este pudesse efectuar uma melhor triagem dos problemas apresentados pelos clientes e lhes garantisse um atendimento mais eficaz e célere.
Vertical: Banca, Seguros e Serviços Financeiros
País: USA
Solução: Adaptação do IBM Watson Chatbot
Resultados: Após a implementação da solução, a Humana conseguiu reduzir os seus custos para cerca de um terço, aumentar para o dobro a capacidade de resposta e melhorar os tempos de resposta aos seus clientes.
Cosabella
A Cosabella, é um retalhista de lingerie de luxo italiano que decidiu implementar uma solução de AI para automação do seu marketing. Escolheram a plataforma Albert, que ficou “responsável” pela execução e gestão autónomas do Marketing Digital, executando tarefas como targeting de audiências de alto valor e condução de campanhas de marketing.
Vertical: Retalho – Marketing
País: Itália
Solução: Albert, by Adgorithms
Resultados: No primeiro mês após a implementação da plataforma Albert, a Cosabella conseguiu aumentar em 50% o seu ROAS (Return on ad spend) e reduzir os seus custos em ads pagos em cerca de 12%. No final do terceiro mês, o ROAS tinha subido 336% e o revenue subiu 155%.
Berry, Appleman and Leiden
A Berry, Appleman and Leiden (BAL) é uma sociedade de advogados americana com 13 escritórios nos Estados Unidos e escritórios parceiros em 140 países. Grande parte das horas de trabalho dos seus profissionais eram passadas a extrair manualmente informação relevante de documentação, ficando menos tempo disponível para o acompanhamento efectivo dos clientes.
A Sinaptiq em conjunto com a equipa de tecnologia da BAL, desenvolveu um conjunto de modelos de machine learning e machine vision para extrair a informação relevante de documentos físicos.
Vertical: Serviços Jurídicos
País: USA
Solução: Sinaptiq
Resultados: Depois da implementação da solução, a BAL reporta ter poupado milhares de horas de trabalho de leitura e análise de documentos aos seus advogados, possibilitando assim que estes passassem a ter mais tempo para acompanhar clientes e desenvolver tarefas de maior valor.
Os casos de uso acima demonstram que a Inteligência Artificial aplicada à realidade das empresas tem impactos extremamente positivos, e que a promessa é de um aumento de eficiência de processos, satisfação dos clientes, redução de custos operacionais e aumento de lucros, possibilitando-se ainda o desenvolvimento de tarefas e projectos para os quais simplesmente não existiam recursos, tempo e/ou dados.
Assumindo que num futuro não muito distante as empresas adoptem soluções de inteligência artificial cada vez mais ambiciosas, não estaremos assim tão longe de uma sociedade completamente suportada por Inteligência Artificial.
Não estamos ainda no ponto em que conseguimos gerar uma refeição completa através de uma máquina-restaurante que até sabe quais os nossos ingredientes preferidos. E temos de esperar um pouco mais por veículos auto-tripulados voadores (mais alguém como eu sonha com isto para fugir do trânsito da A2?), mas sabemos que casos como os que descrevemos acima serão o primeiro passo para uma realidade próxima da automação total.
E com ela surge-nos uma questão, que coisas incríveis conseguiremos pensar e contruir com o tempo que nos sobra?