China recruta talento às escondidas, Estados Unidos reforçam restrições

O conflito aberto entre as duas potências revela as diferentes posições e estratégias de Pequim e Washington. A luta pela soberania tecnológica abre um novo capítulo nesta história.

Por Irene Iglesias Álvarez

Durante a década passada, a China terá procurado recrutar uma elite científica internacional formada no estrangeiro no âmbito de um programa generosamente financiado. Uma iniciativa que Washington encarou como uma ameaça aos interesses e à supremacia tecnológica dos Estados Unidos. Dois anos depois de o Plano Mil Talentos (PMT) ter sido relegado para o esquecimento no meio de uma exaustiva investigação norte-americana, a China reacendeu discretamente a chama do passado. Desta vez, porém, optou por dar um novo nome e um novo formato ao projeto, no âmbito de uma missão mais vasta para acelerar a sua proficiência tecnológica. De acordo com a Reuters, citando três fontes ligadas ao caso e uma análise documental de mais de 500 documentos governamentais que abrangem uma série de datas entre 2019 e 2023.

Segundo a agência de notícias britânica, a nova campanha de recrutamento oferece benefícios que incluem subsídios para a compra de casa e bónus de assinatura que variam entre 3 e 5 milhões de yuans, ou seja, entre 420 mil e 700 mil dólares. A este respeito, vale a pena notar que a potência asiática tem programas de talentos a vários níveis governamentais, visando uma mistura de peritos chineses e estrangeiros. O principal substituto do PMT, de acordo com a agência noticiosa, é um programa conhecido como Qiming. De acordo com vários documentos referenciados pela Reuters, este programa é supervisionado diretamente pelo Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação.

Independência tecnológica

A corrida para atrair talento tecnológico está a ter lugar por entre uma guerra aberta com a Administração Biden, num contexto em que o Presidente Xi Jinping está a enfatizar a necessidade de a China alcançar a autossuficiência em semicondutores face às restrições norte-americanas. A regulamentação adoptada pelo Departamento de Comércio dos EUA limita os cidadãos americanos e os residentes permanentes no apoio ao desenvolvimento e à produção de chips avançados na China, entre outras medidas.

Assim, embora nem o Gabinete de Informação do Conselho de Estado da China nem o ministério tenham respondido a perguntas sobre Qiming, esta nova informação sugere duas estratégias e planos de ação para o mesmo conflito. De um lado, Pequim; do outro, Washington.




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