A UPM, juntamente com outras organizações europeias, está a promover a videoconferência ultra-segura para garantir que os dados transmitidos através de uma rede sejam imunes a qualquer tentativa maliciosa ou ciberataque.

Por Irene Iglesias Álvarez
A Digital Assembly, organizada pela Presidência sueca do Conselho da União Europeia e pela Comissão Europeia, teve lugar em Estocolmo. Um evento que serviu para mostrar a liderança da Europa na criação da sua própria tecnologia em diferentes domínios: da inteligência artificial às comunicações quânticas.
Estas linhas de investigação são impulsionadas por uma forte colaboração público-privada e transfronteiriça em toda a zona euro. Um exemplo disso é o projeto de videoconferência ultra-segura apresentado pela Universidade Politécnica de Madrid (UPM) em colaboração com outras organizações europeias de renome. Esta solução visa garantir que os dados transmitidos através de uma rede são imunes a qualquer tentativa maliciosa de intercetar ou desencriptar informações.
Sobre a experiência
A demonstração da iniciativa consistiu numa videoconferência entre o palco principal do evento e a área de exposição. Esta comunicação foi protegida por uma tecnologia emergente que encripta a informação partilhada para a tornar invulnerável a ataques. Esta tecnologia baseia-se na comunicação quântica, que explora as propriedades fundamentais da mecânica quântica para atingir níveis de segurança sem precedentes. Utilizando a chamada “distribuição de chaves quânticas”, é possível garantir que os dados transmitidos através de uma rede são invulneráveis a qualquer tentativa maliciosa de interceção ou desencriptação, mesmo que o atacante seja um computador quântico.
Com o aumento de ciberameaças sofisticadas, o desenvolvimento de tecnologias de comunicação quântica oferece uma forma segura de proteger informações sensíveis e permite novos canais de comunicação fiáveis.
A novidade desta videoconferência é o facto de ser a primeira demonstração técnica à escala daquilo a que se chamará a Infraestrutura Europeia de Comunicações Quânticas (EuroQCI). O objetivo é estabelecer um canal de comunicações ultra-seguro para as administrações públicas, salvaguardar as infraestruturas críticas e reforçar os sistemas de encriptação em toda a União Europeia.
A Europa ao ritmo da computação quântica
Para estabelecer a ligação, a informação viajou de forma segura entre os laboratórios e as instalações das diferentes organizações participantes, que a processaram remotamente a partir de diferentes locais em Espanha, Itália, Alemanha e Suécia, entre outros. Assim, tal como um coração, produziram uma sístole e uma diástole de informação através da Europa para ligar de forma segura ambas as extremidades da videoconferência. Para que tal fosse possível, foram utilizados dois pares de dispositivos quânticos que constituem a camada quântica da infraestrutura. Estes dispositivos estabeleceram chaves quânticas seguras entre dois locais, garantindo a máxima proteção das comunicações.
Cérebro espanhol
A Universidade Politécnica de Madrid desempenhou um papel central nesta experiência: o Grupo de Investigação em Informação Quântica (GIICC) do Centro de Simulação Computacional forneceu, para além da sua vasta experiência, o próprio desenho da rede da experiência e um novo software de rede baseado no paradigma disruptivo das redes definidas por software (SDN). Isto permite a gestão de chaves quânticas, bem como de todos os elementos da rede, incluindo dispositivos de comunicação quânticos, de uma forma transparente. A tecnologia também utiliza normas desenvolvidas na Europa que também foram promovidas pela UPM.
O novo software permite a criação de redes quânticas complexas e desempenha um papel fundamental no funcionamento, integração de dispositivos e gestão de recursos da Rede Quântica de Madrid (MadQCI). A tecnologia, baseada no paradigma SDN, permite que novas tecnologias de rede, como as baseadas na mecânica quântica, funcionem em cooperação com as redes clássicas que utilizamos, facilitando a integração dos diferentes dispositivos dos vários fornecedores industriais envolvidos na rede.
A implantação de SDN em infraestruturas de rede de produção permite um elevado grau de heterogeneidade e versatilidade que faz da rede quântica de Madrid uma referência no domínio das comunicações quânticas. E foi precisamente este software que desempenhou um papel crucial em Estocolmo, pois serviu de elemento coesivo, funcionando como o cérebro da rede, para garantir a interoperabilidade dos vários fornecedores europeus que fazem parte da rede pan-europeia que foi simulada durante a videoconferência.