Floresta 4.0, a oportunidade para transformar a floresta

Os produtos ou serviços provenientes da floresta requerem um eficiente alinhamento dos esforços de todos os participantes, o que implica aderir a padrões de produção, adotar boas práticas de gestão florestal, utilizar recursos de forma responsável e cumprir as regulamentações estabelecidas, estando intrínseco a tudo isto, obter dados, colocar questões e procurar respostas.

Por Daniel Guerreiro de Almeida, Account Manager na Esri Portugal

O Pacto Ecológico Europeu exige que a União Europeia se torne climaticamente neutra até 2050, ou seja, que a sua economia até lá tenha um impacto neutro no clima. Esta transição é desafiante e mobiliza todos para agarrar esta exigente oportunidade de transformar e tornar a natureza o maior aliado contra as alterações climáticas. Isto envolve e obriga à mitigação do impacto antrópico, recuperação de ecossistemas e a uma otimização de um sistema económico que tenha por base e princípio, a sustentabilidade. Para abrandar as alterações climáticas, promover a conservação e biodiversidade e encontrar novos vetores de desenvolvimento sustentável, a Comissão Europeia reconhece a importância da floresta para esse caminho, dando incentivos no sentido de que consigamos replantar 3 mil milhões de árvores, até 2030.  

Ora, ao abraçar esta visão, é essencial explorar soluções inovadoras que possam orientar a gestão florestal, para que esta se torne sustentável e eficaz nesse processo. E é neste contexto que surge a ideia emergente da Floresta 4.0, a Floresta Inteligente. Mas o que significa realmente “tornar algo inteligente”? Esta abordagem da floresta inteligente refere-se a novos métodos de geração de conhecimento que permitem pensar novas abordagens, avaliar opções e tomar as melhores decisões. Este processo de tornar algo inteligente implica conhecer, debater opções, mediar posições, conciliar interesses e gerar conhecimento que possibilite desenvolver técnicas sustentáveis baseadas em evidências para enfrentar desafios e mudanças num mundo cada mais complexo e instável, sem perder o rumo aos nossos objetivos comuns, como é o Pacto Ecológico Europeu.  

A tecnologia e a digitalização das coisas desempenham um papel significativo nesse quadro, não como um objetivo final, mas como uma ferramenta para conectar diferentes elementos e obter um conhecimento mais amplo e aprofundado sobre o comportamento dessas mesmas coisas. Através da digitalização da floresta, temos conseguido entrar numa nova era, não sendo surpresa que um dos temas em destaque e uma área de investimento crescente no âmbito da produção, conservação e valorização florestal sejam os Sistemas de Informação Geográfica (SIG). Dessa forma, retomando a ideia inicial de tornar algo inteligente, a adoção de SIG integrada com novas tecnologias tem-se revelado fundamental.

Os SIG não são desconhecidos na gestão florestal, contudo, com as tecnologias disponíveis, temos vindo a conseguir criar uma postura ativa e estratégica na conjugação do desenvolvimento desta fileira com melhores práticas de produção e conservação, otimizando a sua cadeia de valor. 

Os produtos ou serviços provenientes da floresta requerem um eficiente alinhamento dos esforços de todos os participantes, o que implica aderir a padrões de produção, adotar boas práticas de gestão florestal, utilizar recursos de forma responsável e cumprir as regulamentações estabelecidas, estando intrínseco a tudo isto, obter dados, colocar questões e procurar respostas, utilizar novos métodos, gerar conhecimento, comunicá-lo e mobilizar meios com base em evidências. Na verdade, esta cooperação é essencial na construção de um futuro em que a floresta desempenhe um papel central na superação dos desafios, que enquadram as agendas políticas e as exigências dos consumidores.  

As oportunidades trazidas pela digitalização da floresta são vastas, mas como tirar proveitos delas de forma eficaz? É esse inteligente de que falamos. Não nos basta representar os limites de uma área florestal. É necessário evocar a abordagem geográfica e recolher dados – sejam eles espaciais para conhecer a distribuição geográfica e as suas caraterísticas físicas, temporais e espectrais, que nos permitem adotar estas novas abordagens para depois explorar o seu potencial.   

Apesar da exigência desafiadora, esta Floresta Inteligente implica uma reformulação de toda a cadeia de valor que, por sua vez, implica uma coordenação entre as várias etapas dessa mesma cadeia, em que os dados geográficos acompanham todas as etapas: o produtor/proprietário é como a raiz que sustenta a estrutura, fornecendo a base para o crescimento (precisamos de identificar proprietários e cadastrar o território), as organizações de produtores florestais são como os troncos sólidos e robustos, unindo e conectando os diversos elementos da cadeia (dados para gerir as propriedades em escala de forma mais eficiente). Os fornecedores de matéria-prima são como os ramos que se estendem, oferecendo recursos essenciais para o desenvolvimento da indústria (dados para certificação de produtos e serviços), que por sua vez, são as folhas que transformam esses recursos em produtos de valor acrescentado (no caso de serem também proprietários de áreas florestais têm obrigações legais que têm de fazer cumprir, o que implica terem uma gestão mais rigorosa que os pequenos proprietários; além disso, cruzar informação geográfica com financeira, de forma a monitorizar as operações e garantir que os produtos cumprem os requisitos das certificações). No meio disto, os reguladores desempenham o papel de guardiões, garantindo a sustentabilidade e o equilíbrio dessa Floresta Inteligente (sendo os principais produtores de informação aberta para todos, simetricamente, terem capacidade de proceder com um planeamento adequado aos propósitos das agendas políticas, como os Instrumentos de Gestão Territorial que garantem os princípios do das Políticas de Ordenamento do Território). E, por fim, os consumidores, que habitam essa floresta, interagindo com seus produtos e serviços, disseminando o valor e desfrutando dos benefícios.

Prevê-se que o PRR e outros financiamentos tragam novidades e impulsos à floresta portuguesa, iniciativas fundamentais para um novo paradigma no Mercado Florestal, onde se destaca o novo voo LiDAR que cobrirá Portugal Continental. A Floresta Inteligente que procuramos ter, requer cooperação e procurar sinergias para criar ecossistema de progresso, inovação e bem-estar de todos os envolvidos. Este é o momento de agarrar a oportunidade para mudarmos a forma como nos relacionamos com a floresta, é o momento de tornar a floresta o maior aliado na mitigação das alterações climáticas e na constituição de um caminho para um futuro mais sustentável. 




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