Afinal, o que se passa? E o mais importante, o que vai acontecer?

Por Pablo Sáez, Partner, Head of Brazil Digital Technology at NTT Data Europa & LATAM
A semana passada, a Meta anunciou a demissão de 11.000 funcionários. O corte, que representava 13% da empresa, foi reportado como o maior corte feito por uma empresa tecnológica. A notícia caiu como uma bomba e foi mais uma para apimentar a discussão polarizada em torno do Metaverso. Nos últimos dias, foram publicadas várias notícias com visões muito divergentes sobre este novo mundo. Pelo lado positivo, informações de que grandes empresas, como a Disney e a Procter & Gamble, estão a contratar, com salários exorbitantes, profissionais para atuarem como CMO– Chief Metaverse Officer. Na opinião destas empresas, o potencial económico e transformador do Metaverso é imenso, o que justificaria ter um perito de C-level. Poucos dias depois, um estudo da DappRadar sugere que duas plataformas reconhecidas no mundo do metaverso, avaliadas em quase 1,3 mil milhões de dólares, não estão a receber mais de 100 utilizadores ativos em 24 horas por enquanto.
Há outras notícias que indicam vieses opostas: por um lado, um hype em cima do Metaverso. Por outro lado, informações como a perda de valor de mercado da Meta, despedimentos e investidores céticos quanto à aplicabilidade real do Metaverso nos negócios.
Afinal, o que se passa? E o mais importante, o que vai acontecer?
De facto, esta aparente contradição é normal no ciclo de vida de uma nova tecnologia. É algo que o Gartner chama de “ciclo de hype”.

Toda a tecnologia que se torna uma tendência começa a gerar algumas expectativas e um rápido aumento de interesse. Este frisson rapidamente atinge o seu ápice. Este ponto, chamado de “pico de expectativas”, é marcado por avaliações extremamente positivas e grandiosas do impacto desta tecnologia.
Logo este período passa. Assimilados à novidade, ao ceticismo e às críticas contra as expectativas criadas surgem. É o chamado abismo da desilusão. Este é um momento importante. Como exemplos, podemos mencionar a Ultrawideband, RSS Enterprise, Desktop Linux for Business ou o caso que sempre representa, por exemplo, Mesh Networks, que apareceu em 2003 e desapareceu em 2013 sem ter passado pelo vale.

As inovações que conseguem atravessar esse período chegam à “rampa de consolidação” e, finalmente, atingem o “platô da produtividade” — quando apresentam o quanto podem impactar nos negócios e na vida das pessoas.
Entendido o ciclo, podemos ver que o Metaverso está a passar pela transição entre o “pico de expectativas” para o “abismo da desilusão”. É verdade que as expectativas sobre o Metaverso estão a ser muito elevadas. E, como diz a sabedoria popular, o que sobe rápido pode cair rápido.
A pergunta importante agora é: o Metaverso irá superar esta fase, atingir a “rampa de consolidação” e, finalmente, o “platô de produtividade”? Ou será apenas um hype passageiro — e entrará para a lista de tecnologias que não entregaram o que um dia se esperou?
Posso afirmar com convicção: não tenho dúvidas de que o Metaverso irá superar o período de baixa. Sim, as críticas continuarão. Algumas são justas e construtivas. Há, de fato, uma confusão sobre o que algumas empresas vendem como sendo Metaverso e o real potencial dessa tecnologia. Depois de um hype muito grande, algumas marcas apresentaram o Metaverso como um Second Life repaginado. A desilusão foi inevitável. Mas não acreditamos que o Metaverso se irá limitar a ser uma rede social com avatares no lugar de um feed com imagens e textos.
O potencial do Metaverso é muito maior e, ao nosso ver, evidente. Podemos dizer que ainda nem temos real dimensão. Quem, em 1999, acreditaria que a internet se ia tornar no que se tornou — e ter o papel que tem nas nossas vidas?
A minha teoria é que, na passagem pelo “vale”, o Metaverso poderá perder o seu nome. Isso deve acontecer porque o Metaverso como foi anunciado — um mundo digital com experiencia imersiva total, bidirecional e contínua — vai demorar a existir. As tecnologias precisam de avançar mais. Porém, as peças fundamentais do Metaverso, como são a RV-Realidade Virtual, a RA- Realidade Aumentada, a WEB3 e o Spatial Computing, junto com a inteligência artificial, que já são uma realidade, já estão prontas para transformar os negócios e a sociedade.
Um cenário provável é que o Metaverso fique “em suspensão” sem poder mostrar todo o seu potencial. Isto deve ocorrer durante um tempo, enquanto as tecnologias que lhe dão suporte passarão por essa fase e avançarão na curva. Isto acontecerá porque já impactam os negócios e as vidas das pessoas. Nesta teoria, o Metaverso reaparecerá algum tempo depois já no “platô da produtividade”, aportando o valor prometido no hype, juntando todas as peças, depois de um “pulo” pela curva de vários anos.
Durante este tempo de suspenção, as tecnologias que de fato “fazem” o Metaverso continuarão a desenvolver-se, aportando valor pelo caminho, tempo sendo que o Metaverso prometido, como esse mundo virtual imersivo, bidirecional e contínuo, precisará de mais tempo para entregar todo o potencial de negócio que sabemos ter.
Por isso, podemos dizer: Metaverso está morto, vida longa ao Metaverso!