A mudança de paradigma da supply chain

O paradigma mudou por completo, os consumidores passaram a adquirir segmentos mais altos em detrimento do segmento conhecido como entry level, fazendo cair o mercado em termos de unidades mas a crescer em termos de volume.

Por Vítor Santos, Endpoint Solutions Director da TD SYNNEX

Olhando para trás, para os inúmeros constrangimentos e impactos causados pela pandemia, é impossível não fazer referência à supply chain que, de um momento para o outro, perante a redução ou suspensão temporária do fluxo de matérias-primas e bens, viu a sua atividade comprometida. 

Hoje, passados praticamente dois anos, podemos afirmar que a grande maioria dos fabricantes têm a sua supply chain a funcionar a 100% ou dentro dos timings ditos normais, fruto da queda da procura durante os últimos meses no mercado.

E aqui centremo-nos nos endpoints – computadores, impressoras, telemóveis e periféricos – cuja procura, durante a pandemia, disparou consideravelmente, começando agora a haver uma regularização do mercado, com bastante disponibilidade de produto e entregas mais rápidas. Um aspeto positivo sem dúvida, mas que nos leva a um tema mais cinzento: a subida do preço dos componentes, durante a pandemia.

A verdade é que o dólar recuperou face ao euro e os preços começaram a subir, o que levou ao aumento não só da oferta, mas também das promoções (segmento do consumo) para manter os volumes de venda ou a necessidade de redução de inventário. 

Distanciando-me e observando o que está a acontecer, diria que o mercado não estava de todo preparado para uma recuperação tão rápida da parte logística. É certo que continuam a existir alguns constrangimentos pontuais, mas no geral está tudo a funcionar de forma regular, o que apanhou como que desprevenidos alguns segmentos.

Gostaria de realçar um outro aspeto ainda relacionado com a supply chain dos endpoints, que tem a ver com os grandes investimentos feitos em fábricas de chips e que nos leva à seguinte questão Perante a produção gigantesca e grande oferta, no mercado, de chips mais caros devido ao dólar, o que vai acontecer aos preços destes produtos quando se nivelar a procura com a oferta, como vai ser compensado o elevado investimento de vários grupos empresariais?”. 

O paradigma mudou por completo, os consumidores passaram a adquirir segmentos mais altos em detrimento do segmento conhecido como entry level, fazendo cair o mercado em termos de unidades mas a crescer em termos de volume, sendo bastante visível no mercado de PC’s ou mesmo no mercado de Smartphones. Neste último o mercado na sua globalidade cai sensivelmente 10%, mas a Apple a crescer 2%, muito alavancado nos Modelos Pro e Pro Max (segmentos premium). Esta alteração de paradigma nos PC’s advém do modelo híbrido, onde as pessoas passam a ter de se movimentar com os dispositivos entre dois locais de trabalho, privilegiando modelos mais premium, mais leves, maior qualidade de imagem e som, maior capacidade ou mesmo maior autonomia.

Como se vai comportar então o mercado? Acredito que no futuro, o mercado do consumidor individual vai cair, mas será compensado pelas empresas, nomeadamente as de grande dimensão, que na realidade nunca pararam os seus investimentos, mesmo durante a pandemia, e nunca tiveram quaisquer receios, pois são organizações estruturadas e têm as suas necessidades bem identificadas a dois ou mesmo a três anos. 

As outras empresas por sua vez, para recorrer aos fundos do Estado do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), terão de fazer alguma transformação, o que vai mexer também com o mercado em termos de unidades.

Aliando isto a um ambiente híbrido, onde é preciso ter mais salas de reuniões dentro das empresas, com menos lugares sentados e mais dispositivos de colaboração onde a experiência de cada colaborador seja efetivamente boa, continua-se a espectar que o mercado vá crescer.

Existem várias previsões de mercado onde todos estão muito dependentes da situação macroeconómica do próximo ano. Uma coisa é certa, no terceiro trimestre do ano, segundo a Context, o mercado de portáteis na europa caiu 9% em termos de unidades, mas cresceu 1% em termos de valor, prevendo nova queda em unidades no último trimestre mas um crescimento de 5% em valor. Estes números estão muito alicerçados nas top 20 empresas de cada país ou mesmo nas execuções de final de ano dos respetivos institutos governamentais, pois é no setor público que está a maior necessidade de transformação digital. 

Em suma, não há dúvida que vivemos tempos muitíssimo desafiantes, de profundas mudanças e incertezas, nem que seja pela imprevisibilidade com que o mercado se depara constantemente.

Enalteçamos então o fim dos constrangimentos da supply chain, e deixo-vos a pensar por agora na questão do comportamento de preço dos fabricantes… 




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