Coffee Break: “Web Summit uma ponte entre a Europa e a América Latina”

Conversámos com Artur Pereira, Country Manager do Web Summit em Portugal, sobre a importância da marca no universo das TIC em Portugal e a importância do evento na dinâmica do ecossistema das startups no nosso país e além-fronteiras.

Por João Miguel Mesquita

Em 2014 andava eu entre as ruas do Bairro da Consolação, em São Paulo e as do Chiado, em Lisboa, liga-me o Frederico Carvalho: – “João quer vir a Dublin ao maior evento de Internet que o mundo dos negócios pode assistir?”. Não fui, achei que o Frederico estava a exagerar, percebi erradamente, algum exagero nas suas palavras e convenci-me que era mais um evento bíblico dos marketeers do digital, armados em profetas. Mas não era, o Frederico estava, como sempre, à frente do seu tempo. 

O Web Summit era um lugar onde se aprendia sobre como empreender, inovar e acima de tudo, onde se mostrava o valor de cada negócio para os investidores, quais as tendências que marcavam o futuro das TI e as necessidades do mercado pelo menos para o ano imediato. A verdade é que as gigantes estavam lá todas e as startups vendiam as suas capacidades a quem gosta de apostar sem perder, ou pelo menos sem tempo para perder.

Nos anos seguintes a história é conhecida por todos, o evento veio para Portugal e abriu portas que nunca imaginámos. O ecossistema das de startups em Portugal não subiu apenas um patamar, colocou-se ao nível de muitos outros e superou até grande parte dos ecossistemas de países congéneres europeus. Sim, é verdade, não foi o Web Summit que criou o ecossistema de startups em Portugal, ele já existia, mas era desconhecido e pouco atraente, não por causa das empresas e dos empreenderdes, mas por falta de massa crítica, mais uma vez a questão de sermos periféricos e conservadores nos negócios, com tudo o que isso tem de bom e de mau. O Web Summit veio mostrar ao mundo que para lá do Sol, da hospitalidade, dos excelentes serviços, Portugal também tem empreendedores com capacidade em marcar tendências.

Nos últimos anos nasceram sete unicórnios de ADN português a Farfetch, a OutSystems, a Talkdesk, a Feedzai, a Remote, a SWORD Health e mais recentemente, a Anchorage Digital.

Portugal já tem mais unicórnios que Espanha, Grécia e Itália juntos. O nosso país está a ficar conhecido como um país unicórnio, o que contribui para aumentar a notoriedade de Portugal no mundo. Além disso, os unicórnios são uma forma de garantir o posicionamento de Portugal na Europa como um hub tecnológico. A qualidade do talento e a aposta constante nos mercados externos são consideradas as principais razões para o sucesso junto dos investidores. E ainda há uma imensidão de startups que legitimamente não se focam em ser unicórnios, mas optam por trabalhar junto de grandes empresas pelo mundo com soluções inovadoras contribuindo para a inovação nos mais variados setores.

Mais uma vez, quero referir que não foi o Web Summit que criou tudo isto, para que não fiquem dúvidas, nem é esse o propósito do evento criado por Paddy Cosgrave. Mas foi o Web Summit que abriu a porta de Portugal aos investidores, que desafiou as startups portuguesas a mostrarem-se e a venderem-se. Foi a imensidão de oportunidades que se criaram nos últimos Web Summit que permitiu mostrar ao mundo quem somos nós Portugal no que toca a empreender. Temos talento, conhecimento e organização e sabemos ser grandes quando nos dão essa oportunidade. 

Equipa ambiciosa, multidisciplinar e multicultural solidifica o contacto global

Nesta conversa com Artur Pereira, abordamos a importância da equipa que diariamente trabalha para que o Web Summit aconteça e o facto de esta ser disciplinada, qualificada e multicultural. Não há melhor que ouvirmos alguém que fala com o nosso sotaque, que compreenda a nossa filosofia de vida, ou que compreende pormenores únicos de cada geografia em setores específicos. A equipa do Web Summit é de uma multiculturalidade que consegue ter argumentos para qualquer startup ou investidor vir a Portugal, mostrar e investir exatamente o que pretende independentemente de cada estratégia local, e até mais do que isso conseguem perceber as oportunidades que uma solução ou aplicação em funcionamento em determinada geografia pode dimensionar ao mostrar-se a nível global. Parece magia mas não é, chama-se trabalho.

Uma ponte para a América Latina

Com uma economia de tecnologia e com startups em rápida expansão, o Brasil tem vinte e uma empresas unicórnios, estando o Rio de Janeiro a ganhar cada vez mais reputação internacional como hub de startups.

Esta é uma realidade e um ecossistema bem diferente do nosso. A proximidade e a paixão pelo Silicon Valley da parte dos empreendedores brasileiros fez com que o seu ecossistema de startups ganhasse uma dimensão eletrizante, que domina as conversas de todos os negócios em praticamente todos os Estados, Universidades, Conferências e Seminários de negócios. A presença de hubs de negócio, os temas da economia circular e a capacidade de formar uma equipa com base nos modelos de gestão de startups está na génese dos empreendedores brasileiros. Da arquitetura ao teatro, do desporto à medicina, do retalho à logística, da agricultura ao mercado financeiro, não há setor no tecido empresarial que não tenha um conjunto de business angels a fomentar centenas de pequenos negócios à sua volta, com a intensão de promover inovação nos mais diversos mercados. 

Andamos há anos a tentar descobrir como estabelecer uma ponte sólida e eficiente com o mercado brasileiro. Produtos? Não dá, só os que têm capacidade para instalar fábrica, o que não é para todos. Serviços? Apesar do esforço meritório das Câmaras de Comércio de Portugal em diversos Estados brasileiros, tem sido muito pouco o que temos tido capacida para oferecer. Mas com o advento da transformação digital no mundo e o posicionamento da Europa como principal player da indústria 4.0, temos aqui uma oportunidade que até agora não se tinha colocado. Vender talento, transparência, organização, metodologias de negócio, conhecimento, capacitação profissional e internacionalização global com selo UE. Portugal é mais do que nunca a porta de entrada na transformação digital global e pode trazer a diferença que as empresas brasileiras precisam para competir com as de Silicon Valley, é perante esta imensa oportunidade que o Web Summit chega ao Rio de Janeiro




Deixe um comentário

O seu email não será publicado