O círculo virtuoso do 5G: o Estado da Arte de uma inovação para a História

E se um dia efetuar uma intervenção cirúrgica num hospital português, assistido pelo seu médico, embora este se encontre eventualmente em Londres, ou até Melbourne? Ainda mais radical, já pensou reunir os seus amigos num jantar, sem que ninguém saia do sofá da respetiva casa?

Por Luís Muchacho, Networks Presales Lead da Ericsson Portugal

O futuro, que até há poucos anos era apenas uma peça de cultura, da literatura de Asimov ou K. Dick, ou do cinema de Spielberg, parece estar mesmo a chegar. Com maior ou menor probabilidade de tal ocorrer a muito breve prazo, o potencial do 5G, que faz desta a geração sem fios mais rápida de sempre, vai revolucionar o modus vivendi da Humanidade. 

O que nos espera é de tal forma transformador que se torna impossível associar a qualquer outra revolução tecnológica (das muitas a que assistimos nas últimas décadas). Os seus benefícios não se restringem a conceitos mais ou menos digitais, pelo contrário, a economia e a sociedade vão sofrer grandes impactos. Desde logo, pelo aumento da competitividade e surgimento de novos modelos de negócios, que permitirão, em especial às PME, criar dinâmicas que se esperam de crescimento económico e capacidade de definir estratégias consentâneas com um mundo em evolução exponencial. 

Mas prepare-se, muito irá mudar nas indústrias de Media, de Manufatura, Agrícola, Energia e Utilities ou, como acima terá percebido, na Saúde. Não só, as cidades tornar-se-ão mais inteligentes, com a gestão do espaço público decidida racionalmente ao minuto, os portos poderão ser mais eficientes e capazes de responder a quaisquer constrangimentos que surjam no seu funcionamento. E as relações de trabalho, em face do que foi vivenciado nos últimos anos, poderão ter no 5G um auxiliar crucial para o sucesso de novas estratégias laborais.

Mas, e como?

PARTE I: PREPAREM-SE PARA A TRANSFORMAÇÃO DIGITAL DE ECONOMIAS E SOCIEDADES

Importa, desde já, concretizar através de algum contexto exemplificativo. No caso da indústria de media, o aumento fará sentir-se no tráfego de dados que irá elevar a qualidade do serviço. Já a indústria de manufatura estará habilitada a suportar plataformas de comunicação mais resilientes, mais seguras e com reduzida latência, o que vai beneficiar a operação dos complexos industriais. Na agricultura, por sua vez, o 5G tenderá a permitir que esta indústria desenvolva equipamento agrícola automatizado, enquanto no setor energético se considera deveras plausível que reúna condições para controlar em tempo real sistemas e geradores de energia em locais sem instalação de redes de fibra. Já na saúde, a inovação promovida pelo 5G possibilita assegurar cuidados de saúde remotos, que estarão cada vez mais presentes na nossa vida.

Também os crescentes cuidados globais com a Sustentabilidade têm na tecnologia 5G um importante ativo. Desde logo, porque é expectável que permita uma diminuição que pode atingir as 10 vezes no que respeita à redução de emissões de carbono através da transformação industrial. No caso da Ericsson, estamos cientes do nosso papel neste desafio que a todos diz respeito, ou não fosse a introdução da próxima geração móvel dar-nos a oportunidade de reduzir a pegada climática das redes móveis. 

Este objetivo pode ser atingido com as poupanças que podem ser alcançadas através da preparação da rede com as soluções mais recentes, mas também pela ativação de software economizador de energia, da construção de 5G com precisão ou pela operacionalização da infraestrutura do local de forma inteligente.

Um impacto mensurável, com expectativas entusiasmantes

Todos temos a perfeita noção que muito do acima exposto aborda a capacidade do 5G como solução que visa criar condições para a implementação de um grande processo de transformação e capacitação digital, algo que será apenas evidente a breve trecho, nos próximos anos. 

Mas, na verdade, no exato momento em que estiver a ler este artigo no seu dispositivo móvel, assiste-se já a um novo paradigma. Ou não se verificasse globalmente uma crescente procura pela tecnologia. Se não, como seria possível que só no último ano tenhamos assistido a um valor diário que ultrapassou o milhão de novas subscrições 5G por dia? Como resultado desta crescente procura, e embora este número ainda exija a devida confirmação, prevê-se que em 2021 tenham sido efetuadas mais 649 milhões de subscrições 5G. 

Quanto à quantificação do impacto económico, as estimativas globais quanto ao seu valor a nível mundial apontam para um número gigantesco, que pode chegar aos 250 mil milhões de euros, só na economia europeia, nas próximas duas décadas. 

Verifica-se que estes próximos anos são uma cabal oportunidade para o que se espera que seja uma real implementação da transformação digital de indústrias verticais e serviços públicos capazes de aproximar o nosso país dos índices de crescimento e produtividade médios que se verificam na União Europeia. 

Um estudo desenvolvido pela Analysis Mason procurou avaliar os benefícios económicos do que se pode considerar como um “5G completo” para Portugal. Ou seja, através de uma cobertura na faixa de baixa frequência dos 700 MHz em conjunto com a faixa superior de 3,6 GHz. Este é um aspetofundamental para colocar em prática todo o tremendo potencial do 5G nos mais variados setores estratégicos para a economia, em especial, a Agricultura, Indústria, Transportes Ferroviários e Estradas. 

Também a Ericsson quis perceber qual o significado económico para Portugal. E os números indicam um impacto adicional de 3.6 mil milhões de euros até 2030, no âmbito da indústria das tecnologias de informação e comunicação em Portugal, com mais de metade a recair na Saúde, Manufatura, Energia, Setor Automóvel e Segurança Pública. Outros trabalhos desenvolvidos recentemente mencionam uma criação de valor no país a aumentar exponencialmente na década de 30; nada menos que 17 mil milhões de euros por volta de 2035.

No que concerne às empresas portuguesas, o 5G permite novas formas de chegar ao consumidor final, ao alargar as suas áreas de atuação em termos geográficos ou em termos de portfólio de serviços. Mas isso é apenas a parte mais visível; também internamente esta solução disruptiva irá facilitar as operações, ao permitir a digitalização de processos ou adotar modelos de trabalho mais flexíveis. Há toda uma economia digital que poderá despontar, mas que dependerá da iniciativa e capacidade dos nossos empreendedores de inovar.

PARTE II: 5G, A TECNOLOGIA EM STRICTO SENSU

O 5G irá, sem dúvida, melhorar ainda mais as nossas vidas e abrir caminho para novas inovações. Mas será interessante, antes de mais, aferir como funciona uma rede móvel. Esta é a verdadeira inteligência por trás dos smartphones, que mantém as pessoas conectadas, mesmo quando viajam em alta velocidade, os quais, independentemente da geração de rede, usam os mesmos princípios básicos de funcionamento.

As redes móveis consistem em três partes. Em primeira instância, o Acesso por Rádio, ao qual o nosso telemóvel está ligado. As antenas podem frequentemente ser vistas nos telhados dos edifícios que se espraiam nas grandes urbes ou em postes e torres, localizados nas zonas rurais. Depois, temos o Núcleo de Rede – o cerne desta tecnologia – que, por exemplo, encaminha as chamadas para a pessoa certa ou para os utilizadores do serviço de Internet. Por fim, temos a Rede de Transporte, que junta o Acesso por Rádio e o Núcleo.

Outra premissa fulcral é a onda de rádio, que conecta os dispositivos à rede, a qual é usada para comunicação sem fios há 120 anos, bem como para a transmissão de rádio e televisão, comunicações móveis e WiFi.

As ondas de rádio são como a luz, uma espécie de ondas eletromagnéticas. Têm frequências mais baixas do que a luz, o que significa que viajam pelos cantos e até alcançam edifícios, o que as torna perfeitas para a comunicação móvel. Uma antena 5G usa uma quantidade relativamente pequena de energia, desde abaixo de 1W a algumas centenas de watts, aproximadamente o mesmo alcance das lâmpadas tradicionais. O nosso telemóvel usa bastante menos energia, cerca de 0,2W no máximo. Com uma potência de saída tão baixa, é quase surpreendente que as comunicações móveis funcionem. Podemos dizer que foi preciso muita engenharia de rádio inteligente para chegar lá.

Ora, o 5G significa velocidade e capacidade. Por exemplo, qual a diferença face ao 4G? Com o 4G, atualmente existe um limite para a quantidade de informação que as ondas de rádio podem transportar, que depende da banda de frequência. Assim, e se chegarmos a esse limite, para alguém conseguir atingir uma maior velocidade de rede, outra pessoa irá perder velocidade. O que o 5G faz é adicionar mais capacidade, mais “espaço” para o uso, o que significa que há mais espaço para todos e os dispositivos obtêm velocidades de dados mais altas. Isto é importante porque o tráfego de dados cresce cerca de 60% ao ano, à medida que as pessoas transmitem mais vídeos e usam mais serviços digitais. O 5G foi projetado para fornecer uma capacidade superior de espaço para as redes sociais, streaming de vídeos e outras necessidades que já temos hoje em dia. Mas foi também pensado para situações inovadoras, como o streaming de vídeos de alta qualidade em segurança, a partir de uma ambulância para o hospital, o que possibilitará uma variedade de novos tipos de dispositivos inteligentes e digitalização desta indústria em concreto.

Podemos estar seguros de que o 5G vem também resolver o problema da conexão de dispositivos, com a transmissão de forma inteligente para cada um, com alta precisão e redução do ruído, o que permite chegar até 1 milhão de dispositivos por quilómetro quadrado.  Esta capacidade é muito importante, pois o número daqueles que se encontram conectados aumenta cerca de 25% ao ano.

Mas o 5G foi projetado para mais do que smartphones. Para um relógio inteligente que funcione com uma bateria pequena, o 5G pode fornecer uma conexão que consuma pouca energia. Para um robot industrial, o 5G pode facilitar a integração de uma conexão extremamente estável e rápida. E esta mais valia é muito importante, pois no futuro veremos cada vez mais novos tipos de dispositivos interligados, cada qual a exigir conexões com diferentes níveis de desempenho e caraterísticas.

Esta inovação radical (podemos identificar o 5G desta forma) tem tanto poder de processamento integrado que se torna mais do que uma rede. Pode atuar como um data center distribuído que executa tarefas de processamento, com a utilização de todo o poder dos recursos centralizados ou uma capacidade de resposta de computação de ponta, feita com proximidade ao utilizador. O processamento de tarefas reconhecidas pela sua maior intensidade, como Realidade Aumentada ou Gaming, pode ser feito em detrimento do telemóvel, com a melhoria do desempenho e poupança de bateria. Isto torna viáveis os novos tipos de dispositivos alimentados por bateria, como óculos de Realidade Aumentada, ou inovações como frotas coordenadas por drones destinados a entregas.

Esta fantástica tecnologia 5G foi projetada para um uso muito flexível. Pode até funcionar em várias dimensões – todas em simultâneo – no que se pode denominar como uma Fração de Rede. Estes segmentos podem ser adaptados para um propósito específico e atuar de forma independente. Cada fração pode otimizar as características que são necessárias para um serviço específico, sem desperdiçar recursos em aspetos mais supérfluos. É o Smart 5G Core – Núcleo de Rede inteligente – que possibilita esta divisão, e que também garante a conexão e o desempenho com que cada fração foi configurada.

Uma nova Geração para um novo mundo. E a Europa na vanguarda do movimento

Resta abordar um aspeto pouco destacado, mas que deve merecer a maior atenção: a nova geração de redes de telecomunicações beneficia de um sistema de patentes que permite um ambiente colaborativo entre empresas. 

A implementação progressiva do 5G baseia-se num sistema de patentes que evoluiu com o objetivo de proteger os direitos de autor em todos os domínios científicos e académicos. Em poucas palavras, se houver inovação, há uma propriedade intelectual que deve ser reconhecida. Mas a Revolução Industrial à qual temos o prazer de estar associados, pelo seu ritmo elevado e intenso, está a mudar radicalmente a situação. Os avanços já não são lineares, mas exponenciais: Internet, Redes Sociais, Inteligência Artificial, Internet das Coisas, Computação Híbrida, Quântica, Cloud… 

O 5G promove um ambiente que permite a hibridização de tecnologias, ao combinar, tome-se como exemplo, com a Inteligência Artificial. E toda a indústria utiliza da melhor forma este sistema. No caso da Ericsson, temos acima de 57.000 patentes concedidas. Há mais de uma década que desenvolvemos trabalho correlacionado com esta disrupção, com claro enfoque no setor das telecomunicações. Não por acaso, somos líderes quanto ao patenteamento de soluções essenciais, com cerca de 20% do total global. Algo que coloca a União Europeia como a região global líder na inovação de tecnologia 5G, posicionando-se à frente de potências com a história, dimensão e natural tendência inovadora, como são os EUA, China ou Coreia do Sul.

O 5G já não se baseia na simples evolução dos conceitos anteriores, os quais, por sua vez, têm como base um conceito herdado da agora tão “paleolítica” telefonia fixa, bem como da Internet. Pelo contrário, surge-nos algo tão extraordinário como a comercialização de veículos com capacidade de deslocação autónoma, os espetáculos com realidade aumentada, a disseminação da cirurgia remota e, quem sabe, reuniões por holograma. Cabe ao setor proteger a capacidade dos players em desenvolver conceitos capazes de redefinir as diretrizes pelas quais a sociedade se rege. Cabe-nos também criar condições para nos mantermos na vanguarda, com tudo o que isso trará de significativo para a Europa e para os valores pelos quais pugna um continente; continente, esse, de menor dimensão geográfica e demográfica, face a outras regiões do globo, mas com uma história e conhecimento científico de excelência. Que assim se mantenha.


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