Biotech espanhola liderada por portugueses está a desenvolver uma solução para o diagnóstico precoce de cancro. O objetivo é entrar no mercado com um primeiro teste para detetar cancro do pulmão e do cólon em 2024.

Por Sónia Santos Dias
A Flomics Biotech, uma startup de biotecnologia dedicada à deteção precoce de cancro, acaba de fechar uma ronda de financiamento privada de 1 milhão de euros. A startup com sede em Barcelona vai aplicar os fundos no desenvolvimento da sua solução para o diagnóstico precoce de cancro, através de biopsias líquidas, com o auxílio de sequenciação de nova geração de moléculas de ARN e de inteligência artificial (IA). Os fundos vão permitir impulsionar os ensaios pré-clínicos para a deteção de cinco tipos diferentes de cancro, através de apenas uma amostra de sangue. O objetivo é entrar no mercado com um primeiro teste para detetar cancro do pulmão e do cólon, em 2024, e evoluir para uma versão que permita a deteção de cinco tipos de cancro, em 2026.
A ronda de 1.000.000€ foi liderada por um Family Office, com sede nos Estados Unidos, com um portfolio de investimentos em biotech e tecnologia, completada por vários business angels nacionais e internacionais e por Arcano ImasD, o veículo de inversão R&D gerido pela firma espanhola Arcano Partners. Esta ronda de investimento privado foi complementada com outras ajudas e bolsas públicas premiadas à Flomics ao longo do último ano, ultrapassando os 500.000€ em investimento não diluído. A Flomics conta com o apoio do Ministério de Ciência e Inovação de Espanha, ACCIÒ da Generalitat da Catalunha e com o Programa de Saúde Europeu EIT Health.
“Este apoio financeiro e o capital angariado nesta ronda permite ampliar os nossos estudos pré-clínicos com coortes maiores na deteção de diferentes tipos de cancro em colaboração com vários hospitais, em particular no cancro do cólon e cancro do pulmão, que são o que se encontram em fases de desenvolvimento mais avançadas. Continuaremos também a explorar outras oportunidades no que toca ao desenvolvimento de diagnóstico, prognóstico e estratificação de outras doenças complexas, como a Covid-19”, refere João Curado, CEO e cofundador de Flomics.
Atualmente, esta tecnologia encontra-se em fase de validação pré-clínica em colaboração com o Hospital Clinic de Barcelona e o Biobanco do Sistema Sanitário Público de Andaluzia. A Flomics colabora também noutros projetos com o Instituto de Investigação do Hospital Vall d’Hebron, o Hospital Sant Joan de Deu e com a Pangaea Oncology, todos localizados em Barcelona.
Biopsias líquidas de nova geração
O rápido desenvolvimento das tecnologias de sequenciação de nova geração (NGS) levou a uma redução considerável do custo desta técnica e a uma melhoria de performance, favorecendo, assim, a sua utilização a nível clínico, explica a startup em comunicado. Uma das aplicações mais interessantes da NGS é a análise de biomarcadores em fluidos biológicos, conhecidos como biopsias líquidas, dirigidas aos ácidos nucleicos circulantes no sangue. No passado, estudos de biopsias líquidas focaram-se principalmente na deteção de mutações específicas no ADN circulante (cfDNA). No entanto, a capacidade de diagnosticar cancro com esta biomolécula, num estágio inicial, é bastante limitada.
A Flomics está a trabalhar numa biopsia líquida de nova geração que se baseia numa molécula muito mais dinâmica: o ARN circulante livre das células (cfRNA), que considera ser o melhor ácido nucleico para obter um diagnóstico precoce confiável, já que permite quantificar o estado das células antes do aparecimento dos primeiros sintomas da doença. A startup propõe uma nova solução baseada na molécula cfRNA com a combinação de NGS e a sua plataforma de bioinformática Stratus®, que usa inteligência artificial e mecanismos de machine learning para a identificação de biomarcadores que permitam um diagnóstico fiável e conclusivo.
Para além de diagnosticar cancro, a Flomics está também a explorar outros projetos e oportunidades, particularmente a nível do microbioma, atrofia cerebral, esclerose múltipla, e também na deteção e identificação das variantes virais da Covid-19.