Falta de recursos de TI: Urgência não pode ser sinónimo de compromisso de qualidade

A falta de recursos de TI é global, mas há algumas competências que são verdadeiras “agulhas num palheiro” – profissionais altamente qualificados, com competências muitos específicas em áreas “hardcore” das TI. E como encontramos, atraímos, retemos e gerimos esse talento?

Por Felippe Siqueira, co-fundador e CEO da WEDOIT

A falta de mão de obra tecnológica não é um pesadelo passageiro. Várias previsões apontam para um agravamento deste cenário nos próximos anos, e não existe uma fórmula mágica de atração e retenção de talento. 

Pior ainda, esta crescente dificuldade tende a diminuir o grau de exigência e os padrões de qualidade de quem procura. O objetivo é encontrar o melhor, mas rapidamente a urgência dita as regras e já basta um qualquer que queira trabalhar. Isso resolve o problema no momento, mas pode ter um preço a pagar bastante alto. 

É que a falta de recursos de TI é global, mas há algumas competências que são verdadeiras “agulhas num palheiro” – profissionais altamente qualificados, com competências muitos específicas em áreas “hardcore” das TI. E como encontramos, atraímos, retemos e gerimos esse talento?

A boa notícia é que já não temos de ir à procura na cidade, no país, ou sequer no continente onde estamos. A importação de talento ou o recrutamento de talento noutros locais que integram as equipas de trabalho de forma 100% remota não são escolhas ainda entranhadas na cultura das empresas portuguesas… mas caminhamos inevitavelmente para aí. 

Há talento altamente qualificado em países insuspeitos, que pode resolver os problemas de muitas empresas. É só preciso ultrapassar a barreira da “presença física” e da desconfiança que ainda rege muitas estratégias de negócio a este nível. Isto não quer dizer que qualquer um funcione. A escolha tem de ser ajustada aos projetos, à cultura empresarial e aos objetivos.

Adicionalmente, não bastam aos profissionais terem as competências técnicas adequadas ao projeto. É necessário que o profissional possua outras competências tão importantes como as técnicas tais como comunicação, habilidade para trabalhar em equipa e orientação para o cliente. O equilíbrio entre as competências técnicas e não técnicas vai assegurar ao profissional uma boa integração ao projeto e consequentemente garantir o sucesso do projeto. A busca por profissionais com perfil equilibrado de competências técnicas e não técnicas é o grade desafio dos recrutadores. 

Esta desconfiança existe ainda associada à contratação de parceiros especializados com equipas qualificadas. Em todas as empresas? Não! Mas a ideia de colocar equipas de terceiros em projetos relevantes continua a gerar algum desconforto, e o problema é cultural.

Se podemos levar ao cliente uma equipa altamente qualificada, sem termos qualquer preocupação ou custos com a contratação, gestão de talento e saída de talentos, qual é o ponto negativo? Pode existir um ponto muito negativo se o parceiro for mal escolhido. Se tiver uma equipa pouco coesa, desajustada ao projeto, que desencadeie problemas de comunicação, de execução ou mesmo cenários de abandono a meio de um trabalho. Porque no final quem é que “dá a cara” pelos serviços contratados?

A urgência é muita e a oferta é pouca. Mas não vale tudo. Independentemente de importar talento, contratar recursos noutro país, recorrer a parceiros ou apostar exclusivamente em profissionais de TI nacionais, as preocupações com a qualidade têm de estar sempre presentes. 

O mercado está cada vez mais competitivo, o online leva o nome e a reputação das empresas para todo o mundo, em alguns segundos, para o bem e para o mal, e apesar de estarmos a evoluir a um ritmo acelerado, as referências continuam a ser muito importantes na hora de garantir aquele voto de confiança crucial. 

Urgência não pode ser sinónimo de compromisso de qualidade porque, de facto, o preço a pagar pode ser muito elevado.  




Deixe um comentário

O seu email não será publicado