Na iminência de um segundo Confinamento Obrigatório, urge refletir sobre a gestão da pandemia nos últimos dez meses.
Por Luís Newton

Na iminência de um segundo Confinamento Obrigatório, urge refletir sobre a gestão da pandemia nos últimos dez meses.
Esta reflexão é fundamental para se compreender como é que é possível que em janeiro de 2021, tenhamos que regressar a março de 2020.
Já havia sido evidente que o Governo não soube olhar para o que se passava no resto do mundo (com especial ênfase na realidade europeia), por forma a implementar medidas preventivas que protegessem Portugal do mesmo destino.
Certamente que todos recordamos que enquanto a Europa começava a explodir, Portugal vivia em negação, como se o Governo se tivesse resignado a só rezar, pedindo a proteção dos portugueses a Nossa Senhora de Fátima.
Com um mês de atraso, um rápido crescimento de pessoas infetadas e depois de mais um episódio caricato e de incompetente negação de evidências, por parte do Conselho Nacional de Saúde Pública (lembra-se?), foi a própria população que se decidiu por um confinamento voluntário, levando o Governo, dias depois, a declarar Estado de Emergência.
E hoje, à beira deste novo confinamento, o Governo não compreendeu, novamente, os sinais da Europa. Voltámos a ter aviso atempado do descontrolo da situação no panorama europeu, sinal claro do que se seguiria em Portugal se não implementássemos medidas cuidadas.
Obrigar as pessoas a concentrarem-se no comércio até às 13h ao fim de semana, mais do que um desastre anunciado, foi um rastilho para a trágica decisão de criar exceções às medidas em vigor no período de Natal e Ano Novo.
Aqui vemos que este Governo, uma vez mais, pretendeu gerir esta pandemia, mais preocupado com a imagem política e menos com a saúde pública. Não se salvaguardou a proteção da população e agora corremos o risco de destruir a economia.
Foram duras as lições que deveríamos ter aprendido com esta amarga experiência, que agora poderíamos estar a aplicar.
Desde a total falta de preparação tecnológica para mergulhar um país em teletrabalho, à evidente impossibilidade de manter crianças fora da escola.
O fecho das escolas significou uma enorme sobrecarga sobre os pais que, mais do que prejudicar a sua produtividade em teletrabalho, forçou-os a acumular um trabalho a tempo inteiro de educadores, potenciou muitas situações de acompanhamento deficiente às suas crianças. E não falo só do ponto de vista académico, mas falo também do ponto de vista humano. Uma criança não alcança que os pais, estando ali ao seu lado, possam não ter disponibilidade para estar com eles.
Esta má experiência foi ainda mais gritante, sobretudo quando todos perceberam a impossibilidade de garantir a qualidade do ensino à distância.
A isto acresce que a realidade de hoje é a constatação de que o Governo prometeu e não cumpriu a entrega de computadores a quem não os tem, deixando a descoberto as enormes fragilidades do sistema de telescola.
Porém, andar na escola não é apenas fundamental porque se aprendem as bases do conhecimento.
É também um exercício de aprendizagem para a vida em sociedade, onde o contacto humano e a proximidade definem a nossa evolução enquanto indivíduos, que compreendem que a vida não acontece “escondida” atrás de um ecrã.
É onde aprendemos a interagir com a divergência de opiniões e de intenções, desenvolvemos aptidões de comunicação e interação social.
Um espaço para compreender que as ações têm consequências e onde aprendemos a importância de escutar e respeitar os outros.
Como pai e como político, não posso deixar de me debruçar com cuidado sobre esta matéria fundamental, procurando aprender com as lições do passado para não repetir erros no futuro.
Não fechar as escolas é uma decisão que exige coragem política para compreender o desafio civilizacional e o dano geracional com que esta pandemia nos ameaça, se o imperativo de regulação de saúde pública nos obrigar a fechar. Que fechem escolas de 3º ciclo de ensino, do ensino secundário e do ensino superior. Porque os mais velhos têm mais autonomia e também são estas as idades com maior incidência de casos.
Temos de dar segurança e tranquilidade a todos os que frequentam os estabelecimentos escolares, fazendo cumprir as mais rigorosas indicações de saúde. Mas por tudo o que foi aqui escrito, e por tudo o que faltou escrever, temos de manter as nossas crianças nas escolas.
Este é o desafio para além da política… é um desafio civilizacional.