Christian Klein, CEO da SAP disse, ao Financial Times, que o continente europeu precisa “fazer melhor” e construir uma pipeline de talentos se não quiser ficar para trás dos Estados Unidos e da Ásia em tecnologia.

A maior empresa de softwre europeia, está a ajudar a União Europeia a construir a sua própria infraestrutura de dados. Embora Christian Klein acredite que a região tenha condições de construir mais empresas como a SAP, diz que há “claramente uma falta de talento” Eurorpa.
“Quando temos vagas abertas para um engenheiro de software na Europa, vejo que cerca de 20 a 30 pessoas se candidatam ao cargo”, disse. “Quando ofereço a mesma posição na Ásia, tenho centenas de pessoas que querem ter este mesmo emprego. E, é claro, também nos EUA, você vê, quando está perto de ótimas universidades, você tem um ótimo acesso a talentos”.
A Comissão Europeia tem um plano para melhorar este cenário e aumentar a soberania tecnológica do bloco. Este plano, apresentado no início do ano, quer garantir que a Europa tenha condições de competir com os EUA e a Ásia no que diz respeito a tecnologias como inteligência artificial e análise e uso de dados.
Bruxelas planeia gastar 600 milhões de euros em formção com mais de 250.000 pessoas em toda a Europa para obtenção de skills tecnológicas avançadas.
A UE ainda tem em plano construir a Gaia-X, uma rede de computação em nuvem e serviços de dados, que será protegida pelas leis da UE e oferecerá uma alternativa aos fornecedores norte americanos Amazon, Microsoft e Google.
Formação
A SAP emprega mais de 100 mil funcionários em todo o mundo, com cerca de 25.000 na sua sede na Alemanha, no entanto, realiza a maior parte dos seus negócios fora do continente europeu, sendo os EUA seu maior mercado, reperesentado cerca de um terço da receita total da empresa.
No meio a uma grande transformação de negócio para uma base de computaçãoa em nuvem, a empresa colocou seus maiores laboratórios de desenvolvimento de computação em nuven na Ásia e na América, com bases em Palo Alto, Vancouver, Seattle, Bangalore e Xangai, entre outros. Na Califórnia, a SAP abriu, recentemente, um centro de inovação, devido à sua proximidade com universidades com fortes desmpanhos em IA.
Christian Klein alerta para a escassez de mão de obra que não atinge somente a empresa. No ano passado, a associação da indústria digital Bitkom alertou que a Alemanha tem um déficit de mais de 124.000 trabalhadores de TI qualificados e que as vagas de tecnologia tendem a não ser preenchidas em seis meses.
“A Europa precisa tomar cuidado”, disse ainda Klein, ao Financial Times, “porque as skills digitais não são relevantes apenas para a SAP, mas também para todos os outros setores. […] Isto é algo que os países da Europa precisam dobrar”, acrescentou.
Embora tenha prosperado durante a pandemia, com crescimento de 7%
entre abril e junho, os os clientes da SAP continuam frustrados com a falta de integração entre o seu principal pacote de software, o S/4HANA, e uma série de grandes aquisições feitas sob o antecessor de Klein, Bill McDermott.
McDermott gastou dezenas de milhões de dólares na compra da companhia especialista em despesas de viagem Concur, a empresa de software de gestão de pessoal SuccessFactors e a Qualtrics, que fornece dados de feedback dos clientes, entre outas.
Na semana passada, a SAP anunciou que abrirá o capital da Qualtrics para dar maior autonomia e permitir que ela prossiga suas próprias aquisições. A empresa de software com sede em Utah, fornecedora de dados de feedback dos clientes, foi comprada pela SAP em 2018 por oito mil milhões de dólares.
“Acho que isto sinaliza que a SAP está potencialmente mais focada no mercado europeu principal”, disse Julian Serafini, Analista da Jefferies, embora acrescente que outros produtos devam continuar a ser incluídos no pacote principal da marca nos próximos meses.
“Cerca de 10% de nossa capacidade de desenvolvimento está atribuída
agora para fazer a integração do processo de negócios”, acrescentou,
revelando que 50% do trabalho necessário já foi realizado. “Até o final
do ano, atingiremos 90%”. Pelo menos até que as compras de McDermott
sejam devidamente integradas, a SAP concentrar-se-á no “crescimento
orgânico”, disse Klein.
Entretanto, o CEO da SAP não descarta novas aquisições caso “os clientes vejam benefícios para isso”. “A cloud da indústria para o retalho não será desenvolvida predominantemente na Europa, faremos isso em estreita co-inovação com nossos clientes de retalho dos EUA”.
No entanto, algumas das maiores empresas da UE relutam em migrar para serviços baseados em cloud e até pagam à SAP para garantir que seus dados sejam armazenados em servidores europeus e geridos apenas por funcionários com passaportes da UE.
Isto pode significar a existência de algum conservadorismo ainda existente em alguns executivos do velho continente. Há que mexer depressa nos modelos de gestão e habilitar as pessoas de capacidades digitais, se não na Europa será sempre a perder.