“Sente-se uma preocupação muito maior com as questões da cibersegurança”

Rita Mourinha, representante da Seresco em Portugal

A propósito da publicação de um estudo sobre  tendências que marcam o sector dos Recursos Humanos, o Computerworld entrevistou Rita Mourinha, responsável para Portugal da Seresco. Segundo o estudo, a “a tecnologia é mais do que um instrumento utilizado na gestão de pessoas, tornando-se cada vez mais o ambiente em que esta gestão deve ser feita”. 

Com base no estudo a empresa espanhola de desenvolvimento de software e de prestação de serviços no âmbito das TIC conclui que “big data é considerada o futuro dos recursos humanos”, uma vez que as empresas têm cada vez “mais acesso a dados dos seus colaboradores, tanto no processo de selecção como na retenção de talento”. Com os dados disponíveis, as “empresas conseguem trabalhar para uma melhor experiência do colaborador”.

Para perceber melhor o papel da Seresco nesta área, a empresa apresentou um “volume total de negócio de 26,6 milhões de euros”, disse Rita Mourinha. A área de processamento salarial aproximou-se dos sete milhões de euros, o que representa um crescimento de 20% face ao exercício anterior.

Para este e para o próximo ano, a estratégia da empresa passar por “uma grande aposta na criação de novas soluções e na modernização das plataformas e serviços que oferecemos” e ainda pela “inovação e segurança das soluções que fornecemos”.

Computerworld – Quais são as principais tendências de outsourcing de Recursos Humanos para o segundo semestre de 2018 e quais as principais alterações?

Rita Mourinha – Ao longo deste ano, o tema dos dados pessoais esteve muito presente e continua a estar presente no segundo semestre.

Desde a big data – a quantidade imensa de dados disponíveis – à cibersegurança. Também a inteligência artificial figura entre as tendências para o segundo semestre, bem como o aprendizagem automática, fundamentais para uma automatização cada vez maior dos softwares. A blockchain e a computação em nuvem são tendências que acompanham o outsourcing já há algum tempo, mas que continuam a ser um “hot topic”, principalmente face às questões de cibersegurança. Consideramos que, face ao ano passado, se sente uma preocupação muito maior com as questões da cibersegurança.

CW – As tecnologias de informação estão a ganhar peso enquanto instrumento e ambiente de trabalho na área dos Recursos Humanos? Como e porquê?

RM – A economia é cada vez mais digital e isso é transversal a todos as áreas, sendo o ambiente em que vivemos.

Trabalhamos e vivemos numa sociedade em rede que está dependente das novas tecnologias da comunicação e informação. Nos RH em particular trabalhamos sobretudo com dados pessoais e, atualmente, conseguimos ter esses dados todos integrados numa só plataforma. Nesse sentido, enquanto ferramenta, as TIC vieram agilizar algumas tarefas que consumiam muito tempo.

“Enquanto ferramenta, as TIC vieram agilizar algumas tarefas que consumiam muito tempo”, Rita Mourinha.

CW – Referem no vosso estudo recente, o incremento da importância de soluções que combinam IA e aprendizagem automática. Até que ponto é que tornar parte do processo automatizado para fazer a pré-selecção é um risco?

RM – Pode ser um risco, mas daí a importância da intervenção humana. Um dos temas que se tem discutido é a questão ética na inteligência artificial. Com a robotização, torna-se possível evitar os enviesamentos próprios do ser humano. No entanto, é importante que estes enviesamentos não sejam incorporados nos algoritmos criados, de forma a que as decisões tomadas pela IA não sejam, também elas, enviesadas.

CW – O estudo refere, o exemplo do Linkedin em que são combinados big data, inteligência artificial e aprendizagem automática. Como funciona e quais as vantagens e desvantagens?

RM – No LinkedIn observa-se a combinação destas três tecnologias na utilização dos algoritmos, uma ferramenta que coloca os computadores a agir de forma inteligente e a trabalhar de forma autónoma. Esta combinação reflecte-se quando aparece uma vaga baseada nos interesses de carreira de cada um, nos seus perfis, ou mesmo relacionada com os “clicks”, visualizações ou interesses.

Isto é muito vantajoso no sentido em que, no caso de vagas por exemplo, os resultados são muito mais optimizados ao “user” com base na sua interacção digital. As desvantagens passam pelas questões de cibersegurança que temos enfrentado: a disponibilização de dados pessoais deixa-nos muito mais vulneráveis e os nossos dados podem ser utilizados para fins dos quais não temos conhecimento, o que pode ser perigoso. Vê-se cada vez mais casos desta má utilização de dados pessoais e é nesse sentido que houve também o reforço da protecção com o novo regulamento de dados.

CW – Ainda sobre o Linkedin, tudo indica que estão a ser replicadas algumas “más práticas” relacionadas com o envio de candidaturas. Quem se candidata a vagas através do Linkedin não recebe, muitas vezes, qualquer feedback. É uma prática comum em todo o mundo? 

RM – É um fenómeno que acontece além-fronteiras. Há muita gente que tenta entrar em contacto via mensagem privada no LinkedIn, ou candidatar-se através de formulários presentes na plataforma e não obtém feedback. No entanto, penso que este é um fenómeno que está a mudar e cada vez mais há uma noção de que o Linkedin é uma plataforma de extrema importância, sobretudo para o “employer branding”.

CW – Como podem a IA e a ML contribuir para uma melhor relação entre os candidatos e os potenciais empregadores?

RM – Estas tecnologias podem contribuir para uma maior aprendizagem: as empresas podem conhecer mais sobre os candidatos e estes sobre a empresa empregadora, podendo haver um estreitamento da relação logo no seu início.

“Os perfis das redes sociais de potenciais colaboradores dizem mais sobre estes do que um CV ou numa carta de apresentação”. 

CW – Quais as melhores práticas para seleccionar e reter talentos?

RM – Uma selecção cuidada de um futuro colaborador é da extrema importância, sobretudo no sector das TIC, onde os colaboradores são bastante requisitados e a oferta dificilmente consegue satisfazer a “fome” do mercado.

Para as actuais gerações à procura de trabalho, ter um salário não é tudo. Para estes jovens é mais importante desfrutar do que fazem, serem respeitados pela sua identidade e ser reconhecidos pelo seu contributo.

Ter estes aspectos em conta é fundamental para reter talento, a par do fomento de um ambiente colaborativo (onde todos se sintam parte da equipa) e criativo, que permita que cada um expresse a sua identidade, um factor cada vez mais importante. É importante também apostar na formação constante dos colaboradores e promover canais de comunicação abertos.

CW – Como fazem para dar resposta à escassez de RH qualificados na área das TI?

RM – Têm sido estabelecidas algumas medidas para combater a escassez de RH na área das TI como, por exemplo, o “nethunting”, isto é, recrutamento através de redes sociais. Os perfis das redes sociais de potenciais colaboradores dizem mais sobre estes do que um CV ou numa carta de apresentação. Além destas novas formas de recrutamento, consideramos também essencial apostar na formação dos nossos atuais colaboradores e dar-lhes as competências digitais que necessitam.

CW – Qual tem sido o impacto do RGPD nos departamentos de RH?

RM – Dada a natureza dos dados tratados nos departamentos de RH, o impacto do Regulamento Geral de Protecção de Dados (RGPD) é considerável. Este novo regulamento amplia consideravelmente as exigências de segurança relativamente ao processamento de dados.

CW – O que mais está a mudar no mercado das RH na sua relação com as TI?

RM – Penso que a maior mudança que está a acontecer é que as TI estão a tornar-se cada vez mais o ambiente em que todos os sectores vivem, mais do que simples ferramentas de trabalho. Assim, há uma necessidade cada vez maior de ter profissionais preparados e formados, com as competências adequadas, e isto muda, claro, o mercado dos RH.

Recomendações de cibersegurança para os colaboradores

Para promover um ambiente mais seguro, “recomendamos aos colaboradores que cifrem toda a informação guardada em dispositivos de armazenamento, que não deixem o escritório com o computador ligado (o qual deve estar sempre protegido por uma password) ou que não “abandonem” o telefone em lugares públicos, mesmo quando estes são dentro das empresas.

Também é desaconselhado deixar informação confidencial na mesa de trabalho, no “scanner” ou na impressora pois aumenta a possibilidade destes serem lidos por outras pessoas. Os e-mails com informação sensível ou dados pessoais devem igualmente ser cifrados e enviados com assinatura digital”.




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