A falta de oferta de recursos humanos em Évora obrigou a adiar as metas traçadas pela Capgemini para o Centro de Excelência na cidade. Quando querem preencher os 200 postos disponíveis? “Por nós, já amanhã”, mas sem recursos disponíveis, essa intenção só deverá ser cumprida em 2020.
A Capgeminni inaugurou esta semana as novas instalações do Centro de Excelência da empresa em Évora, para onde se mudaram os actuais 70 colaboradores da consultora na cidade. O CoE abriu em 2014 e esteve, até agora, a funcionar em instalações provisórias na Universidade.
Os objectivos iniciais de contratação apontados na altura (150) já deveriam estar preenchidos – mas não foram, devido a problemas de escassez de oferta. A disponibilidade de lugares ascende agora a 200. E os postos não foram preenchidos, porque “não há oferta de jovens licenciados à saída da universidade” de Évora, explicou Paulo Morgado, vice-presidente executivo da Capgemini, em entrevista telefónica ao Computerworld.
Há falta de recursos disponíveis na região e a empresa não quer desvirtuar o modelo que passa por empregar pessoas formadas ou a viver em Évora, diz Paulo Morgado, Capgemini.
O Computerworld quis perspectivar saber um prazo razoável ou limite para o preenchimento das 200 posições. Paulo Morgado foi claro: “por nós, já amanhã!” Mas o responsável está consciente de que tal não será possível. Há falta de recursos disponíveis na região e a empresa não quer desvirtuar o modelo que passa por empregar pessoas formadas ou a viver em Évora.
Paulo Morgado explicou ainda que as expectativas iniciais falharam porque “houve aspectos que não considerámos inicialmente como o número de desistências a meio do curso”. Outro factor que não foi devidamente valorizado foi o aumento exagerado dos preços das rendas como consequência do turismo. “Os jovens não encontram em Évora condições para viver. Não há casas disponíveis com as tipologias as rendas adequadas para jovens em início de carreira”, lamentou.
Capgemini propõe comité para facilitar atracção de jovens para Évora
A Capgemini apresentou as suas preocupações à autarquia, que participou na inauguração do novo espaço, e que se mostrou sensibilizado para resolver a situação, revelou Paulo Morgado. O vice-presidente acredita que a solução da escassez de recursos passa por criar um “stearing commitee”, um comité que integre empresas, a Universidade e o poder local para encontrar soluções quer para aumentar o número de pessoas formadas necessárias para alimentar as empresas que para ali se estão a deslocar. E também para resolver o problema da escassez de tipologias de habitação disponíveis e do aumento exagerado das rendas, explica o responsável.
“As Universidades nas Astúrias fornecem todos os recursos que precisamos e todos os anos contratamos um número significativo de pessoas”.
Para prosseguir parte daqueles objectivos, a Capgemini quer “desenvolver parcerias na área da formação que nos ajudem a crescer ao mesmo tempo que diversificamos e fortalecemos as que já temos, nomeadamente, com a Universidade de Évora”. E como podem essas parecerias materializar-se? “Acreditamos que a Universidade deve acelerar o processo de atribuição de competências”, disse Paulo Morgado. Para ilustrar deu o exemplo de Espanha em que “as Universidades nas Astúrias fornecem todos os recursos que precisamos e todos os anos contratamos um número significativo de pessoas”. Paulo Morgado refere que o plano deve ser ambicioso e rápido, “não pode ser a 10 anos”. É importante que “a oferta acompanhe a procura”.
Paulo Morgado considera que o sector das TI pode ser a solução para “acabar com a interioridade do nosso país”. E acrescenta: “é uma oportunidade que não se pode perder”, sublinha o vice-presidente. “O nosso objectivo não é competir com os centros já existentes, mas garantirmos que, em Évora, temos um espaço de excelência para receber clientes nacionais e internacionais, onde criamos e desenvolvemos soluções inovadoras, diferenciadoras que respondem às necessidades concretas dos nossos clientes, e que formamos e contribuímos para o desenvolvimento das competências dos nossos colaboradores nas mais variadas áreas, assegurando a sua especialização nas tecnologias mais inovadoras do mercado,” explica aquele responsável.
“Apesar do Centro de Évora estar fisicamente distante da maioria dos nossos actuais clientes, estamos equipados com as melhores e mais modernas tecnologias que nos permitem, em segundos, participar em reuniões, em chamadas em conferência ou, até, mesmo fazermos apresentações de novos conceitos para qualquer lugar no mundo”, acrescenta.
Um centro inovador que lembra uma startup
A empresa tem 200 postos físicos, mas o número de colaboradores poderá, eventualmente ser mais elevado. O responsável assinala que “em regra temos 20% dos recursos no cliente ou noutro local”. O centro é um espaço “moderno, inovador, atraente, tecnológico e muito inspirador, no qual acolhemos os nossos clientes para sessões de design thinking, prototipagem, criação colaborativa de novas soluções, e muito mais. Há quem compare o espírito do nosso CoE a uma startup”, descreve Paulo Morgado”.
Tal como definido desde o início, o CoE presta serviços especialmente na área de Salesforce, mas também em Dynamics e Outsystems, “uma tecnologia portuguesa de sucesso em todo o mundo”, a clientes da multinacional em língua portuguesa, inglesa, espanhola, francesa e alemã.
O centro é igualmente uma forma da subsidiária se destacar junto do grupo. Actualmente, o CoE conta com cerca de 70 recursos especializados com um total de 214 certificações. Entre os clientes do centro de competências estão empresas como a Solvay, a Linde, o Grupo Auchan, a L’oreal, a Coca-Cola e a IKEA, entre muitas outras.