Zuckerberg quer maior controlo sobre aplicações de terceiros

A partir de 9 de Abril, a Facebook mostrará uma ligação na parte superior do fluxo de notícias, com a qual os utilizadores poderão ver com que aplicações estão a partilhar dados.

Mark Zuckerberg, chairman e CEO da Facebook

A Facebook poderia simplesmente decidido desligar a ligação mais próxima mantida com programadores e produtores de aplicações sobretudo móveis, no quadro do escândalo que envolve a Cambridge Analytica. Em vez disso promete corrigir estruturas internas, incluindo tecnológicas, com nove medidas para mudar a sua gestão do fornecimento de dados para aplicações de terceiros.

Contudo as iniciativas surgem só depois de confirmado o acesso indevido da Cambridge Analytica a dados de 87 milhões de utilizadores da rede social, para atingir o eleitorado americano com campanhas de conteúdos.

Nesta quinta-feira, o Diário de Notícias avançou que no conjunto dos membros, a cujos dados a segunda empresa acedeu, estão potencialmente 63 mil utilizadores portugueses. Um grupo de 15 descarregou e usou a aplicação móvel utilizada pela Cambridge Analytics para a recolha de elementos, a “”thisisyourdigitallife”. Mas nem todos foram afectados por este conjunto.

Uma das mudanças previstas para a rede social notar-se-á a partir de 9 de Abril e envolve uma ligação a ser mostrada na parte superior da área de notícias. Com a mesma os utilizadores poderão ver que aplicações estão a usar os seus dados. E desactivá-las, se desejarem.

“Como parte deste processo, também informaremos às pessoas se as suas informações poderão ter sido partilhadas de maneira imprópria com a Cambridge Analytica”, acrescenta a Facebook.

Num plano mais geral há dois focos de problemáticos ligados à rede social ou à empresa gestora. Primeiro, o surgimento de notícias falsas e segundo, o fornecimento de informações recolhidas pela estrutura, a terceiros.

O CEO da Facebook, Mark Zuckerberg, respondeu a perguntas de repórteres na tarde de quarta-feira sobre os dois tópicos. Rejeitou várias sugestões de que poderia renunciar ao cargo e confirmou a intenção de ser interpelado sobre a questão da privacidade de utilizadores pelo congresso dos EUA.

Zuckerberg identificou três fontes de “notícias falsas” que ajudaram a influenciar eleições e continuarão a fazê-lo no futuro, a menos que o Facebook faça mudanças

“Ao fim e ao cabo, é a minha responsabilidade”, considerou. “Tem havido uma série de perguntas sobre isso [a potencial renúncia]. Eu comecei esta organização. Eu dirijo a sua gestão. Sou responsável pelo que acontece aqui”, declarou.

Zuckerberg identificou três fontes de “notícias falsas” que ajudaram a influenciar eleições e continuarão a fazê-lo no futuro, a menos que o Facebook faça mudanças:

‒ “agentes económicos”: inventam notícias falsas para obterem cliques e dinheiro de publicidade;
‒ grandes contas estatais: como a da agência patrocinada pela Rússia, a Internet Research Agency, organização a que a Facebook removeu acesso à rede;
‒ médias “legítimas”: que simplesmente escolhem discussões para apoiar uma posição.

Zuckerberg garantiu que a Facebook está a trabalhar contra as redes de publicidade que financiam notícias falsas e também está a tentar promover fontes de jornalismo de confiança.

“Eu acho que neste momento eu claramente cometi um erro ao considerar as notícias falsas como uma loucura [inconsequente]”, admitiu Zuckerberg.

Mas os utilizadores americanos receberam notícias falsas precisamente porque essas terceiras partes, assim como a Facebook, sabiam muito sobre os seus utilizadores. Muitas das mudanças descritas na última quarta-feira são uma tentativa de limitar a recolha e o uso de tais informações. Mas isso surge apesar de Zuckerberg ter reiterado várias vezes que a Facebook nunca “vendeu” informações pessoais a terceiros.

Afinal, a empresa gestora da rede social não implementou salvaguardas suficientes para impedir que essas informações fossem recolhidas. Zuckerberg defendeu que a Facebook concentrou-se mais na protecção contra ataques tradicionais, como os de phishing.

Facebook teme por não ter observado “impacto significativo” na privacidade dos membros da rede social.

Um desses ataques, garante, envolveu o uso de ferramentas de recuperação de informação para monitorizar utilizadores. Embora a Facebook imponha limites nesses procedimentos, restringindo o número de vezes que a técnica podia ser usada, os atacantes mudavam de endereço IP, de modo a automatizar o processos.

“Eu diria que se um utilizador manteve determinada configuração activada e [tornando a sua informação pública pesquisável] em algum momento houve alguém a aceder à sua informação pública dessa maneira”, confirma Zuckerberg. Mas o responsável também admite que os utilizadores não podem deixar de sentir que houve uma “enorme quebra de confiança”.

O executivo observou que, apesar de toda a indignação em relação à privacidade, “não houve nenhum impacto significativo que a empresa tenha observado”. E acrescentou logo: “Mas isso não é bom”.

Facebook tenta maior escrutínio sobre aplicações

As mudanças, descritas no blogue da Facebook, abordam o uso de API por produtores terceiros de aplicações:

‒ A Facebook irá restringir às aplicações utilizadoras da sua API “Events”, o acesso à lista de convidados de utilizadores presentes em eventos. Apenas as aplicações aprovadas pela empresa, mediante “requisitos rígidos”, poderão usar a referida API.

‒ Todos as aplicações de terceiros que usam a API “Groups” vão precisar da aprovação da Facebook e de um gestor para garantir que são benéficos aos grupos. As aplicações deixarão de poder aceder à lista de membros dos mesmos. A empresa também removerá informações e conteúdos pessoais, como nomes e fotos de perfil, anexadas a publicações ou comentários, a que aplicações aprovadas possam acessar.

‒ As aplicações capazes de “ler” comentários em publicações usando a API “Pages” precisarão de aprovação por parte da empresa.

‒ A Facebook vai ter de aprovar todas as aplicações que solicitam acesso a informações como as de indicação de presença, “gostos”, fotos, publicações, vídeos, eventos e grupos, e haverá “requisitos rigorosos” para acederem a esses dados. As aplicações deixarão de poder solicitar informações pessoais, como as de visão política ou prática religiosa, estado e detalhes de relações pessoais, listas de amigos, histórico escolar e de actividades físicas, de leitura de livros, audição de música, leitura de notícias, vizualização de vídeos e usufruto de videojogos;

‒ A API “Instagram” está suspensa, com efeito desde a última quarta-feira;

‒ Foi eliminada a possibilidade de inserir um número de telefone ou endereço de email de outra pessoa para se poder descobri-la na rede. A Facebook admite agora que o recurso pode ser usado de forma maliciosa;

‒ A empresa vai excluir do Messenger e Facebook Lite usado nos dispositivos Android, os históricos de chamadas e mensagens dirigidas a utilizadores. Não vai guardar a hora das chamadas;

‒ A Facebook vai encerrar as “Partner Categories”, para parceiros, que permitiu a fornecedores terceiros de dados, oferecerem segmentações de consumidores directamente na rede social.

‒ a rede social mostrará que aplicações se ligaram à sua estrutura e os dados por elas partilhados. A Facebook considera que isso dará aos utilizadores maior controlo sobre as aplicações. “A partir de segunda-feira, 9 de Abril, mostraremos às pessoas um ‘link’ na parte superior do seu fluxo de notícias com o qual poderão ver que aplicações usam e as informações partilhadas com elas”, explica a Facebook. As pessoas também poderão remover aplicações, confirma.

*Actualizada com informação avançada pelo Diário de Notícias




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