O projecto europeu de inteligência artificial e computação na nuvem promete, num futuro próximo, efectuar a manutenção predictiva dos aviões.

Carlos Lisboa Bento, Bernardete Ribeiro e Paulo Rupino da Cunha, coordenadores da equipa portuguesa do ReMAP
O projecto ReMAP obteve 6,8 milhões de euros de financiamento no âmbito do programa Horizonte 2020. O objectivo do projecto é “transformar radicalmente o paradigma da manutenção dos aviões, com significativo aumento de segurança e ganhos económicos”, mediante a utilização de inteligência artificial e computação na nuvem.
A solução será testada em meia centena de aviões da frota da KLM (20 aviões Boeing-787 e 30 Embraer 190).
O consórcio do projecto intera, entre outros, a Universidade de Coimbra (UC), através da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCTUC), e o Instituto Pedro Nunes (IPN). Outras organizações envolvidas estão vários centros de investigação e empresas dos sectores da aviação e de tecnologias de informação como a Embraer Portugal, Optimal Structural Solutions, KLM, UTRC Ireland e ATOS Spain.
Na equipa de consultores científicos estão a Airbus SAS, European Aviation Safety Agency, Thales Avionics e Royal Netherlands Air Force, avança a Universidade de Coimbra em comunicado.
O consórcio “vai desenvolver um sistema tecnológico inovador baseado em inteligência artificial, conjugando algoritmos inteligentes capazes de processar enormes volumes de dados em tempo real, aprendizagem automática, redes neuronais (inspiradas no funcionamento do cérebro) e uma plataforma informática de integração e computação na nuvem, para “tornar a manutenção nas grandes companhias aéreas mais segura e com menores tempos de imobilização das aeronaves”.
Num futuro próximo a tecnologia permitirá fazer “manutenção preditiva”. Ou seja, a manutenção de aeronaves, que atualmente é feita com base em intervalos de tempo ou de utilização fixos, passa a ser efetuada com base no estado real dos componentes relativamente ao seu ciclo de vida, determinando o momento certo para a sua substituição”, explicam os coordenadores da equipa portuguesa, Carlos Lisboa Bento, Bernardete Ribeiro e Paulo Rupino da Cunha.
Segundo o comunicado, a tecnologia ReMAP irá permitir “ganhos de 700 milhões de euros por ano na aviação europeia”.
Na prática, a tecnologia permite a análise de “um grande conjunto de dados heterogéneos gerados pelos vários sensores existentes nos sistemas da aeronave, bem como dados das condições ambientais no espaço aéreo percorrido. Os algoritmos de aprendizagem automática permitem que o sistema seja treinado a reconhecer, a partir desses dados, o estado real dos componentes e o seu tempo de vida útil”.
A manutenção predictiva permite que se substituam as components quando estão de facto em fim de vida. Em simultâneo, “é possível detetar antecipadamente a sua degradação, permitindo a intervenção antes que provoque danos ou cause disrupções nas operações”, notam os também investigadores do Centro de Informática e Sistemas da Universidade de Coimbra (CISUC).
O projecto é globalmente coordenado pelo investigador Bruno Santos, da TU Delft, Faculdade de Engenharia Aeroespacial, e antigo docente da Universidade de Coimbra.