“Empresas de software não respondem às actuais necessidades das autarquias”

Carências nas capacidades de interoperacionalidade e evolução são os principais problemas, nota o presidente da Câmara Municipal de Águeda, Gil Nadais.

Gil Nadais, presidente da Câmara de Águeda

Um dos desafios com o quais se debate o poder local em Portugal é que as “empresas fornecedoras de software não respondem às actuais necessidades das autarquias”, assinala Gil Nadais, presidente da Câmara Municipal de Águeda, em fim de mandato (termina esta terça-feira).

O edil participou numa mesa redonda de uma conferência sobre transformação digital na Administração Pública, organizada pela EY Portugal. Em declarações para o Computerworld, Nadais esclarece que as plataformas disponibilizadas estão baseadas em “sistemas proprietários muito antigos e fechados”.

Isso no seu entender leva a dificuldades muito grandes face a novas exigências de interoperacionalidade e na “criação de respostas a novas situações”.

Quando a câmara esteve a digitalizar processos, teve de investir muito em formação e as próprias empresas estiveram a aprender. “Conhecem mal o mundo das  autarquias”, considera.

A evolução tecnológica muito acelerada nos últimos anos teve influência, admite, num segmento de mercado que considera dominado pela Medidata e Airc. Mas apesar dos problemas a câmara municipal já conseguiu que todas as suas aplicações comuniquem entre si. Todavia subsistem dificuldades.

A edilidade tinha uma aplicação para registo de ocorrências e problemas nas infra-estruturas da cidade, a aplicação móvel “A minha terra”, e a interligação com outros evidenciou-se problemática. “Os registos entravam no sistema de atendimento, depois tinha de ir para o das obras municipais para haver nota de serviço, fazer folha de obra sobre custos imputados

Gil Nadais (Câmara Municipal de Águeda) não desvaloriza o risco de dependência tecnológica (“vendor lock-in”), mas para ele perde relevância, por já acontecer [antes de se adoptar cloud computing]

Isso só era possível se os dados fossem introduzidos manualmente nos diferentes sistemas, o que se tornava moroso, explica. Gil Nadais confirma ter sentido “algumas” dificuldades em contratar profissionais de TI e considera que a linha de evolução mais clara para as autarquias é a adopção de cloud computing.

As câmaras municipais acabam por ser pequenas, diz, face à dimensão do que é preciso resolver e a cloud ajuda a direccionar mais recursos para solucionar problemas do cidadão. O ainda presidente da Câmara de Águeda não desvaloriza o risco de dependência tecnológica (“vendor lock-in”), mas para ele perde relevância, por já acontecer [antes de se adoptar cloud computing].

“O que temos de fazer é estabelecer contratos capazes de nos garantir o acesso aos dados e no momento em que o pretendemos, para poder migrá-los [para outras plataformas]”, considera. Não obstante, Nadais revela que o município ainda só tem alguns serviços em cloud computing. O núcleo da operação mantém-se na câmara.

Retirar os servidores de lá, esbarra na resistência dos serviços técnicos da edilidade, confirma, porque os profissionais sentem alguma perda de poder, que reconhece. “Receiam também perder o emprego, mas isso não acontecerá porque há muito para fazer, mudar e aperfeiçoar”, sustenta.




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