COI de Lisboa arrancará com quatro mil sensores

Baseado num sistema de consola integrador em cloud computing, o Centro de Operações Integrado (COI) deverá entrar numa primeira fase de funcionamento dentro de seis meses.

Jorge Máximo, vereador da Câmara Municipal de Lisboa

O processo de contratação de uma plataforma de cloud computing para o Centro de Operações Integrado (COI) de Lisboa sofreu importantes atrasos. A apresentação e implantação de um componente importante para o desenvolvimento do projecto de cidade inteligente ou “smart city” da urbe, tinham sido previstas para Janeiro, mas ocorreu na semana passada.

Isso não parece ter minado o entusiasmo do vereador Jorge Máximo, com o pelouro dos sistemas de informação, desporto e relacionamento com o cidadão, da Câmara Municipal de Lisboa (CML). Em entrevista para o Computerworld, explica como o COI deverá tornar-se numa coluna vertebral, flexível, aberta e integradora de múltiplos sistemas de gestão para a cidade.

À partida, a plataforma contratada estará dimensionada para suportar 60 mil acessos em simultâneo.

Computerworld ‒ Quando é que a plataforma e o COI  estarão operacionais?
Jorge Máximo ‒ O processo de contratação teve muitas provas de conceito e testes de análise. Portanto o projecto vai demorar a ser implementado. Uma primeira de fase funcionamento, ainda sem ser na sua plenitude, porque ainda vai obrigar a instalação de muito sensores, está prevista para cerca daqui a seis meses.

A plataforma tecnológica já está desenvolvida, embora tenha de ser adaptada ao negócio do município, de acordo com o caderno de encargos e vai dar resultados muito em breve. Mas para o COI estar operacional na sua plenitude vão ser precisos seis meses a um ano.

Estamos a falar de mais do que uma sala de operações, a funcionar o COI de uma forma ubíqua disponível por smartphone, com toda a informação integrada.

CW ‒ Quais são os sistemas ?
JM ‒ O COI nasce para dar resposta a necessidades de protecção civil, segurança e gestão de operações quotidianas. Mas a sua filosofia é mais de integração global de múltiplos sistemas e de abertura.

A sala de operações e a informação para as pessoas será a componente de resposta imediata à gestão de eventos à protecção civil. Neste momento temos já 40 entidades ligadas ao COI e isso fará com que exista complementaridade e intercomunicação com todos os sistemas dos grandes “stakeholders” da cidade para poderem fazer planeamento, gestão e desenvolver abordagens a novas oportunidades e serviços.

CW ‒ Não estava previsto que o COI arrancasse em Janeiro?
JM ‒ Não. O que tínhamos previsto para Janeiro era a conclusão desta fase que só agora terminámos. Era o lançamento da plataforma.

O concurso público arrastou-se um bocado, foi um processo muito complexo. Só para se ter uma ideia, o caderno de encargos tinha como parte mais importante uma grande componente de teste, foram testadas 95 tipos de situações para a prova conceito. Além de outras situações na plataforma.

Foi também um processo de contratação muito concorrido e colocaram-se muitas questões. Depois foi preciso obter o visto positivo do Tribunal de contas e só há cerca de um mês ficou tudo fechado.

CW ‒ Que desafios antevê sobre a implantação da plataforma?
JM ‒ Acho que o COI vai representar sobretudo uma mudança de cultura. Nós lançamos várias iniciativas na área dos sistemas de informação da cidade, mas o COI representa aquilo que deve ser a filosofia do futuro.

Caracteriza-se por uma arquitectura de integração global com o conjunto de sistemas da cidade, com uma visão global em vez de vertical e sectorial dos sistemas de informação. Vai permitir sobretudo, criar novas oportunidades.

Ter capacidade de resposta sobre ocorrências de segurança na via pública, por exemplo. para isso é preciso que os sistemas verticais comuniquem entre si. E a própria cultura da Câmara tem de mudar para uma perspectiva mais colaborativa.

CW ‒ Mas os sistemas legados já estão preparados para funcionarem com esse grau de interoperacionalidade?
JM ‒ A CML tem muito sistemas de informação. Alguns mais antigos e outros que têm sido substituídos. Desde que lançamos em 2015 o programa de transformação digital, todos os novos sistemas estão a ser implantados de acordo com a filosofia COI, já com API, entre outras facilidades.

É uma exigência que fazemos nos requisitos. Estamos com grandes programas de transformação nessa matéria abarcando, a área do urbanismo, atendimento , dados abertos, desmaterialização.

Esses sistemas vão ter de comunicar com o COI porque este que vai mandar nas regras de base de integração. Quanto aos sistemas mais antigos, não podemos criar grandes disrupções, vamos paulatinamente mudando-os e esta nova plataforma também tem soluções.

Vamos ter de automatizar procedimentos e pensar em novos modelos de governação com um período de aprendizagem.

CW ‒ Qual vai ser a dimensão da rede de sensores?
JM ‒ Para a fase de arranque e a plataforma é expansível, nós montamos o concurso para a estrutura poder tratar cerca de 60 mil acessos simultâneos, a partir da sala de operações ou de smartphone, porque também vai dar informação aos cidadãos.

Terá a capacidade tratar informação proveniente de quatro mil sensores, do ambiente, da mobilidade, das câmaras de CCTV, entre outros. Os vereadores que quiserem agora desenvolver iniciativas para a área por exemplo do ruído, vão definir as áreas que pretendem “sensorizar” e se houver necessidade de dar maior capacidade de resposta, poder-se-ão fazer ajustamentos.

Mas o ponto de partida já é de uma grande capacidade que permite ter uma rede bastante exaustiva.

CW ‒ A plataforma está em parte baseada num sistema de cloud computing externo, certo?
JM ‒ Sim, mas funciona numa lógica de Platform as a Service (PaaS). Quando lançámos o projecto, discutiu-se muito a capacidade de resposta e manutenção, da cidade, quanto à sua estrutura de centros de dados e arquitectura.

Nos últimos dois anos investimos muito na melhoria do nosso centro de dados e está muito mais seguro e sofisticado do que há dois anos. Mas a interoperacionalidade faz-se cada vez mais com serviços de cloud e esta plataforma é obrigatoriamente compatível com um conjunto de normas internacionais, como por exemplo a FiWare. Foi um das nossas exigências.

Isso foi uma forma de evitar barreiras de dependência tecnológica (“vendor lock-in”). Trata-se de permitir que outros módulos possam ser adicionados, com outras tecnologias e projectos, usando peças API.

Quem ganhou o concurso [a NEC] já tem a ferramenta capaz de responder a muitas necessidades, mas outras teremos de desenvolver. Daqui a dez anos a plataforma pode ser outra, mas esta é que vai dar o ponto de partida em termos de lógica.

CW ‒ A cloud da NEC está num centro de dados, dentro ou fora do país?
JM ‒ Neste momento não sei dizer, mas a informação não vai estar na cloud da NEC. Vai estar apenas nos vários sistemas que se tornam interoperacionais com a cloud. Os dados estão no município e vão continuar no município. E os sistemas de segurança e robustez foram definidos segundo as normas adoptadas pelos ISEL, que participou na consulta ao mercado, e estão de acordo com as normas internacionais.

CW ‒ Então o que fica em cloud é a consola e as interfaces com os sistemas?
JM ‒ Sim, é isso. Já temos um novo concurso para novos servidores, um específico exactamente para dar suporte à cloud do COI. A consola de tratamento de dados estará na cloud da NEC, mas os dados estarão no nosso centro de dados.

Acima de tudo vão ficar com os de outros de parceiros do COI e nos servidores dos serviços municipais. Estão com o máximo de segurança possível actualmente.




Deixe um comentário

O seu email não será publicado