O passado, as crenças infundadas e os falsos determinismos, não podem ser usados para justificar os medos do decisor, sustenta Carlos Costa, director de marketing e desenvolvimento de negócio da Quidgest.

Carlos Costa, director de marketing da Quidgest
Dizia-me há tempos um amigo que, quem não age de acordo com os seus princípios éticos, é um corrupto. Não, não era propriamente a propósito de fogos de que falávamos mas sim dos decisores que pagam fortunas por software ineficiente e que dizem “não há nada a fazer” e acrescentam que não foram eles que decidiram isso.
Mas eu retorqui:– Mas isso de corrupção não tem mais a ver com dinheiro?
E dizia ele: – Não. O dinheiro pode ser uma das causas mas há muitas outras: inércia, conservadorismo, crenças, medo, ambição, incompetência, etc.
– Nunca tinha pensado nisto desta forma. Então ao usar o meu automóvel de casa para o trabalho, que tem quatro lugares vazios todos os dias, se começar a defender princípios ambientais, de eficiência energética e de minimização dos efeitos das alterações climáticas, estou a ser corrupto?
– Sim.
– Mas… não recebo qualquer pagamento.
– Não importa. Se não segues aquilo em que acreditas, és um corrupto!
Claro que esta é uma ideia radical, desculpem mas, como é a forma que gosto de usar para expressar melhor as minhas opiniões, não resisti a citá-la.
Eficiência
Na física e na engenharia, define-se eficiência como sendo “a relação entre a energia fornecida a um sistema e a energia produzida por ele (normalmente na forma de trabalho)” – in Wikipedia. Quase todos os dispositivos elétricos e mecânicos têm sempre perdas na transformação de energia em trabalho.
É assim. Não há nada a fazer. Mas uma coisa é termos uma eficiência de 10% e outra de 90%. E, espero estarmos todos de acordo, 90% é melhor.
Por isso não compreendo como é que uma empresa que diz apostar na eficiência mas que paga meio milhão de euros de manutenção por ano por um software de contabilidade, não quer ouvir falar de soluções alternativas.
Todas as organizações estão a apostar na melhoria da sua eficiência. Começa na financeira, passa pela administrativa, documental e energética e termina no desempenho dos seus recursos humanos.
É também uma necessidade de competitividade e sobrevivência mas, acima de tudo, uma questão de responsabilidade ética e social. O planeta, as novas gerações, o mercado e a sociedade em geral agradecem.
O desperdício é visto cada vez mais como um crime em todas as áreas. E lá voltamos nós ao início da conversa. Uma vez conscientes disto, se não fazemos nada, segundo o meu amigo, somos corruptos!
Corrupção
Há diversas formas de corrupção, mas vamos à Wikipedia que diz “é o ato ou efeito de se corromper, oferecer algo para obter vantagem em negociata onde se favorece uma pessoa e se prejudica outra. É tirar vantagem em um «projeto de poder» atribuído. E continua: “Busca oferecer ou prometer vantagem indevida a qualquer pessoa, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício conforme Art. 333. do Código Penal.
Segundo Calil Simão, a corrupção social ou estatal é caracterizada pela incapacidade moral dos cidadãos de assumir compromissos voltados ao bem comum. Os cidadãos mostram-se incapazes de fazer coisas que não lhes tragam uma gratificação pessoal.
Entre os crimes contra a administração pública, previstos no Código Penal, estão o exercício arbitrário ou abuso de poder, a falsificação de papéis públicos, a má gestão praticada por administradores públicos, a apropriação “indébita previdenciária”, a lavagem ou ocultação de bens oriundos de corrupção, emprego irregular de verbas ou rendas públicas, contrabando ou descaminho, a corrupção ativa e passiva, entre outros.”
Mesmo num âmbito mais restrito como este da Wikipedia, comparado com o do meu amigo, a corrupção é algo profundamente injusto que nos prejudica a todos e é talvez um dos maiores flagelos da nossa sociedade. Não no sentido mais baixo de pagamentos e troca de favores escondidos, por baixo da mesa, que certamente também haverá mas, sim, no sentido mais geral de falta de respeito pelo bem comum ou, ainda mais fundo, da violação de princípios éticos pessoais de cada um de nós como seres humanos adultos e responsáveis.
Epigenética
Até há poucos anos acreditava-se que o DNA determinava totalmente a vida presente e futura dos seres vivos. Não havia nada a fazer se um determinado gene fazia com que uma data fisionomia ou doença se desenvolvesse, a não ser modificar intrusiva e artificialmente os genes.
Recentemente descobriu-se que não é bem assim. Nem tudo o que acontece biologicamente é determinado pela genética e, mais importante que tudo, há formas naturais de modificar a nossa genética. O ambiente e a crença estão na base deste processo de modificação genética natural e é, atualmente, uma das inovadoras áreas de investigação. (Bruce Lipton – “A biologia da crença”).
Também nos sistemas de gestão pode ser aplicado este conceito. Claro que as decisões de passado, motivadas por crenças da época, continuam com um papel muito forte no desempenho atual das organizações.
Mas é pela mudança de crenças e do ambiente circundante que elas se preparam para as revoluções que vierem a ameaçar o seu ecossistema, como é o caso da tão falada Transformação Digital em curso.
Boa decisão
Todas as decisões, racionais, baseadas em números fiáveis, que façam aumentar a eficiência e diminuir (ou reciclar) os resíduos, sem efeitos secundários são, por definição, boas. Tanto para a organização como para o seu ecossistema evolutivo. Aquelas que forem no sentido de manter ou agravar esses mesmos indicadores, são tendencialmente más. Se, além disso, tiverem como prioridade o bem individual em vez do bem comum, podemos chamá-las de crime económico.
Alguns decisores mais habilidosos (também apelidados de “maus políticos”) conseguem inventar uma série de “faits divers” para colocarem na ordem do dia todo o tipo de assuntos para ver se “a coisa se resolve por si”. Também pode acontecer mas, claramente, estamos a falar de sorte e probabilidades tipo lotaria. E, todos sabemos, que essa não é a forma de melhor decidir.
O passado, “não fui eu que decidi isto”, as crenças infundadas “este é o melhor sistema do mundo” e os falsos determinismos, “não há nada a fazer”, não devem ser usados para justificar os medos do decisor.
O medo da mudança é talvez o pior obstáculo à tomada de boas decisões mas, todos sabemos que, especialmente quando há demasiado despesismo e baixa eficiência, se tudo for decidido e planeado com alguma racionalidade, há sempre uma grande probabilidade de a mudança ser para MUITO MELHOR. Votos de boas decisões!
Dívida
As más decisões ao longo das últimas décadas levaram-nos a uma situação estrutural insustentável ao nível da dívida, pública e especialmente externa. Esta última tem mostrado alguma tendência de inversão devido às exportações dos mais audaciosos e às receitas favoráveis do turismo.
Mas só uma consciência séria da necessidade de mudança dos nossos indicadores de eficiência, corrupção e coragem para decidir corretamente, aliados a uma ambiciosa autoestima, nos levará para a 1ª liga da Europa ao nível económico, financeiro e social.