Confiança do cliente é “maior trunfo” da banca tradicional

Há, sobretudo, três opções para os bancos enfrentarem a vaga de fintech, mas a modernização da sua infra-estrutura de TIC é basilar, considerou o CEO da Temenos, David Arnott, em Lisboa.

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David Arnott, CEO da Temenos

A confiança do cliente e a capacidade de manter conformidade regulamentar são os maiores trunfos da banca tradicional, face à potencial ameaça das fintech, afirmou o CEO da Temenos, David Arnott, durante o Temenos Community Forum, em Lisboa.

Para o sector bancário, esta concorrência engloba desde startups com sistemas de crédito “peer to peer” (P2P) ou multinacionais como das TIC, como a Apple e a Google. A situação torna-se ainda mais difícil para os grandes bancos, a braços com a gestão de tecnologia legada e complexa e de uma vaga de nova regulamentação, como o regulamento de protecção de dados e o PSD2.

No entanto, uma das razões pelas quais talvez ainda não aconteceu um “momento-Uber” no sector, é que os bancos têm uma série de vantagens sobre seus concorrentes mais ágeis. Em Lisboa, Arnott considerou que as instituições devem concentrar-se nos seus principais pontos fortes se quiserem ter sucesso num mercado cada vez mais digital:.

A lista engloba os muitos anos de experiência e capacidade de fornecimento de serviços financeiros aos clientes, ao mesmo tempo que progridem numa paisagem regulatória em mutação. Os bancos devem aproveitar a tecnologia moderna e, fundamentalmente, tirar vantagem do maior activo que têm: os clientes, os dados, as plataformas, especificou.

“Vocês passaram pela dor dos regulamentos que vos permite aceitar depósitos, têm um balanço de contas que vos permite emprestar. Há empresas que brincam nas franjas [do sector], mas, embora ajude [os clientes] a descarregar ficheiros de música, não estamos a ver a Apple a ajudar as pessoas a pagar pela sua primeira casa”, ironizou.

Há dois ou três anos, refere, 90% das organizações financeiras tinham medo de perder quota de de mercado para as fintech e hoje são apenas 21%, referiu David Arnott (Temenos)

Na sua opinião a banca já tem esse foco no cliente. Mas Arnott considera que há uma série de outros métodos para lidar com as mudanças no sector.

Por exemplo, a entrada em vigor da regulamentação PSD2 exige aos bancos a abertura no fornecimento de dados para terceiras entidades, por via de API. No entanto, isso tem várias desvantagens.

Uma delas está ligada ao modelo tradicional de banca universal, onde uma organização financeira “fabrica” e distribui os seus próprios produtos através da sua própria rede, mantém os seus ambientes regulatórios e distribui pelos seus próprios canais. “A chave neste ponto aqui é que hoje a maioria dos grandes bancos estão a oferecer produtos puramente proprietários”, diz.

Há dois ou três anos, refere, 90% das organizações financeiras tinham medo de perder quota de de mercado para as fintech e hoje são apenas 21%. “O que eles estão a conseguir é afectar o preço e são muito perturbadores”, ilustra o responsável.

Outra opção é tornar-se um “’player’ de infra-estrutura”, oferecendo serviços de nível inferior sobre os quais outros poderão desenvolver negócio. Dessa forma “consegue-se partilhar o fardo dos custos de infra-estrutura, de conformidade regulatória, com outros agentes”, propôs, resslavando que há inconvenientes nesta abordagem também.

Ser agregador mas tirar proveito de activos

“Em última análise, é um jogo de escala, pode-se partilhar alguns dos custos de back-office, mas, finalmente, mas não acrescenta diferenciação. Não existe efeito de rede”. Outra opção é os bancos serem agregadores de serviços bancários.

“Um agregador de pleno direito é alguém que reúne, usando o seu vasto conhecimento de um segmento de clientes, uma série de produtos que não possuem e tomar a iniciativa de recomendar esses produtos”, explicou Arnott. “É como o modelo da TripAdvisor, no qual usam um efeito de rede: têm grande volume de recomendações combinado com muitos produtos, enquanto fica no meio e aproveitam o efeito de rede.

Mas o desafio nesta perspectiva é que dessa forma não se tira proveito dos principais activos existentes nos bancos, nota o CEO. Para fornecer aos clientes uma gama de opções e evitar melhor as armadilhas, Arnott disse que os bancos precisam de modernizar a infra-estrutura de TIC, investir em analítica e estar abertos a parcerias, para se tornarem em plataformas.

Um cliente bancário vai querer mais do que produtos proprietários. “Há bancos que não entendem isso e estão as gastar fortunas em soluções e canais digitais colocadas sobre sistemas legados mas vão perder vantagem em poucos anos e eu temo por essas organizações”, declarou Arnott.




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