A organização quer usar o conjunto de tecnologias para sustentar uma rede de transacções e distribuição de fundos de investimento.

José Veiga Sarmento, presidente da APFIFF
A Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Patrimónios (APFIPP), apresentou esta terça-feira o seu projecto, já com protótipo, de plataforma de distribuição de fundos de investimento assente em tecnologias de blockchain.
Na mesma ocasião foi assinado um protocolo de colaboração entre a entidade, a CMVM, que acompanha a iniciativa do ponto de vista regulatório, e o Instituto Superior Técnico, focado na validação tecnológica sobretudo na segurança. O projecto tem também a consultoria técnica da Deloitte há cerca de três meses, embora esteja a ser preparado há seis.
Desenvolvida uma prova de conceito, a APFIPP pretende agora dinamizar a adesão dos seus associados e outros agentes do mercado. Nos próximos meses vai apresentar a plataforma aos vários intervenientes de mercado nacional, na expectativa de desenvolver um teste-piloto com um grupo deles.
Segundo José Veiga Sarmento, presidente da associação, bastará a participação de três ou quatro agentes para a plataforma se tornar operacional em “alguns meses”. Nuno Alpendre, consultor sócio da Deloitte Portugal precisou que serão necessários três trimestres, para desenvolver as API de integração com os sistemas dos actores de mercado.
Mas antes disso será preciso perceber se a estrutura de custos, sobretudo de investimento inicial “se adequa” à disponibilidade dos intervenientes, reconhece Veiga Sarmento. Apesar de a consultora ter realizado um estudo de viabilidade da plataforma o valor dessa despesa não foi revelado.
Em fases mais avançadas o modelo proposto pela Deloitte prevê a preparação da rede para executar liquidações financeiras e a utilização de moedas digitais, além de estar aberta ao consumidor comum.
Os custos operacionais não serão factor de entrave, sobretudo devido ao carácter privado da rede. Em perspectiva e no todo está o desenvolvimento de um sistema de interligações com cerca de 50 nós, revelou o último responsável em declarações para o Computerworld.
Cada entidade participante precisará apenas de ter um equipamento servidor, mas será responsável pela segurança da informação contida no mesmo, avançou o consultor da Deloitte.
Os planos envolvem, a médio prazo, a abertura da rede ao consumidor comum e nessa fase os desafios tendem a ser maiores, em várias áreas, como as da segurança e consumo energético. Num terceiro estádio o modelo proposto pela Deloitte prevê a preparação da rede para executar liquidações financeiras e a utilização de moedas digitais.
A APFIPP diz que a plataforma desenhada explora o potencial da blockchain no actual contexto regulamentar, tornando-a passível de “implementação mediante ajustamentos já identificados”. Em declarações
para Compuerworld, Veiga Sarmento avançou apenas que envolvem “pequenas alteraçães” e sobretudo ligadas ao “reconhecimento dos mecanismos de validação” da plataforma.
Na sessão protocolar a presidente da CMVM, Gabriela Dias, manifestou a intenção de a entidade participar no projecto de “forma silenciosa”. Mas interessa à entidade perceber os desafios inerentes à tecnologia e à forma como se liga a plataforma aos processos de regulação. Além disso, Gabriela Dias reconhece que interessa entender com o quadro regulatório terá de ser adatado.
Facilidade de reporte de conformidade é argumento
Um dos argumentos de Veiga Sarmento para convencer os agentes de mercado aderirem à plataforma será a maior facilidade prevista, num processo de recolha de informação para reporte ao regulador capaz de se tornar mais eficiente e menos oneroso. Ao presidente interessa agilizar a operacionalização dos processos relativos à distribuição de fundos, sobretudo com a estagnação que o segmento vive.
Aqueles seguidos actualmente exigem comunicação manual entre as entidades envolvidas, com formatos de informação sem uniformização. A dependência face a sistema para reconciliação de informação pode ser reduzida na visão do responsável.
Com a plataforma em tecnologia de blockchain, a associação procura facultar aos aderentes a possibilidade de realizar transacções, sem a necessidade intervenção de terceiros. Mesmo que o seu projecto preveja a constituição de um organismo de governação, focado sobretudo na evolução da estrutura
Mas como noutros projectos um dos pontos mais interessantes é o de poder manter-se facilmente um registo de transacções, até agora potencialmente imutável, baseados em técnicas de cifra.
Além disso, o projecto surge com promessas de redução de custos de operação e o alargamento de mercado, tendo em conta a facilidade de acesso a clientes de concorrentes, proporcionada.
A APFIF tem cerca de 45 associados, gestores de 93 milhões euros em activos e fundos de pensões.