“Startups portuguesas já têm uma vantagem na Web Summit”

O CEO da empresa organizadora, Paddy Cosgrave, revela que vai anunciar uma iniciativa durante o evento para mais empreendedores e startups se fixarem em Lisboa.

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Paddy Cosgrave, CEO da Web Summit

Faltava mais de uma semana para a realização da Web Summit, quando o CEO da empresa organizadora, Paddy Cosgrave, fez algumas recomendações às startups e empreendedores estreantes no evento, em entrevista para o Computerworld. Avançou também como pretende atrair mais recursos de empreendedorismo internacional a Lisboa, objectivo de uma iniciativa a apresentar na cimeira que se realiza de 7 a 10 de Novembro.

E numa perspectiva mais abrangente, o economista explicou porque aceita um modelo de desenvolvimento em que, no curto prazo, haja pólos de recursos humanos a fornecerem, para o estrangeiro, serviços de TIC de valor pouco sofisticado.

Computerworld ‒ Em que área vê surgirem mais startups disruptivas?

Paddy Cosgrave ‒ Vejo um conjunto enorme na área da inteligência artificial e aprendizagem de máquina. No segmento do hardware havia muitas há dois anos, mas percebeu-se que é muito difícil de produzir máquinas.

Há muitas empresas a surgirem no segmento da condução autónoma e isso é uma das razões para a Mercedes, a Cadillac, a BMW, a Renault, a Ford, e alguns fabricantes chineses estarem presentes. Não é só para fazerem as suas demonstrações, mas também para encontrarem-se com empresas mais pequenas. As suas equipas de inovação e investigação vão estar presentes, interessadas desenvolver reuniões com os empreendedores.

CW ‒ Como é que as startups, sobretudo as portuguesas poderão diferenciar-se melhor na Web Summit de 2016?

PC ‒ Acho que sendo uma startup portuguesa já terá uma vantagem. O âmbito mais amplo da conferência não vai apenas das nove às cinco horas. Haverá muitas reuniões e jantares importantes a acontecerem à noite.

E sendo os empreendedores portuguesas, vão estar a acolher pessoas numa cidade que conhecem melhor. Têm a vantagem de saberem onde estão os hotéis, onde estão hospedados os grandes investidores.

Se não sabem agora, vão perceber depois com uma rede de empreendedores a descobrir isso rapidamente. Os investidores norte-americanos estarão noutro fuso horário e à meia-noite estarão ainda acordados a beber um copo algures, sendo interessante estar aí.

CW ‒ Mas para a presença no recinto da conferência e da exposição, qual é a fórmula?

PC ‒ Aquilo é como um mercado. E os bons empreendedores vão descobrir formas de sobressair. Quando mais de mil investidores viajam desde o Japão, São Francisco, para um único sítio, não o fazem pela pastelaria ou o vinho. São investidores profissionais, querem descobrir empresas nas quais investir.

A outra parte cabe ao empreendedor, mas há muita concorrência. Um dos erros que se comete é tentar vai falar com ele, sem fazer trabalho de casa.

Todos os investidores focam-se em sectores particulares, mesmo só em determinadas zonas geográficas. Teremos cá investidores de São Francisco porque sabem que estarão startups fantásticas daquela zona, por incrível que isso seja.

Um empreendedor português deve tentar perceber se os potenciais investidores a abordar, investem na Europa ou em Portugal. Às vezes as regras dos fundos de investimento não permitem.

Interessa saber se investem na mesma área tecnológica da startup. Se já o fizeram e se revelam que sim. Imediatamente chega-se a uma selecção de 20 a 30 investidores com quem se deve falar.

A pergunta seguinte é: alguém na minha de rede de contactos conhece este investidor? Talvez algum dos empreendedores de alguma startup bem sucedida. Porque se essa pessoa interceder, encetar a apresentação presencial ou fizer uma recomendação a um investidor, isso é muito mais valioso  do que 50 emails!

paddy-cosgrave-ceo-da-web-summit_iii_1CW ‒ Das personalidades que estarão cá, pode destacar algumas que sejam mais disruptivas?

PG ‒ Não queria estar a favorecer startups. Mas seja o se quiser encontrar desde robôs para hospitais, tecnologia para agricultura, drones, impressão 3D, ou de outra área, vai ser possível descobrir.

CW ‒ Disse que a Web Summit tinha o objectivo de fazer com que mais startups se estabeleçam em Portugal. Como planeia conseguir isso?

PG ‒ Lançaremos a iniciativa durante a Web Summit. Vamos passar o resto de 2016 e o ano de 2017 a tentar descobrir engenheiros designers interessados em trabalhar de forma remota e empreendedores preparados para se fixarem em Lisboa, depois da conferência, com o objectivo de passarem seis meses a trabalharem connosco no nosso “hub”. Na conferência explicaremos mais.
Mas acho que não precisaremos de fazer muito.

Ao trazermos as pessoas já esperadas a Lisboa, muitas vão perceber de repente que a cidade tem um clima maravilhoso, em comparação com outras. Os custos de vida são baixos e a qualidade de vida é tão alta. Em muitas cidades da Europa é tão difícil para as startups estarem! As rendas, a comida e os recursos humanos são caros. Quando se paga um café em Lisboa até se pensa que houve um engano!

CW ‒ Há o risco de Portugal se tornar um repositório de recursos de baixo custo para o desenvolvimento de TIC?

PG ‒ Será uma questão de procura no mercado de recursos humanos. Quando mais procura houver e conforme o mercado aquece, o preço da mão de obra aumenta.

Mas além disso, há outra ideia importante. Por exemplo, a Rocket Internet uma empresa alemã que clona empresas norte-americanas, tem escritórios de engenharia com 400 profissionais. Diz-se que esses engenheiros não estão a fazer nada de inovador, que a operação é apenas uma “sweatshop” para serviços de back-office.

Eu concordo, isso é verdade hoje! Mas tem havido um padrão de evolução no mundo. Em Taiwan, na China, Coreia do sul, até no Japão houve uma altura qem que eles apenas fabricavam para outros países.

E pouco a pouco começaram a perceber que talvez pudessem desenvolver carros, smartphones, televisões, tecnologia. Acho que a operação no Porto é um bom pólo de formação. No médio e longo prazo é uma coisa boa. No curto talvez não seja tão bom.

Acredito que muitos engenheiros, tendo passado por lá, vão a montar a sua empresa. Ou estão a trabalhar hoje para empresas portuguesas. Quando os primeiros fabricantes de chips saíram da Irlanda e foram para a o Leste Europeu, muitos irlandeses perderam os seus empregos.

Muitos engenheiros perceberam que a única coisa a fazer era criarem as suas próprias empresas. Uma destas foi adquirida pela Intel, pelos chips específicos que produz para drones.

CW ‒ A WeB Summit estará disponível para organizar eventos com universidades e outros agentes, de modo a disseminar melhor o conhecimento de múltiplas individualidades presente na cimeira?

paddy-cosgrave-ceo-da-web-summit_iiPC ‒ Sim. Há duas formas. Uma delas é darmos acesso a estudantes de universidades, ao se voluntariarem para trabalhar no evento e houve um excesso de três mil candidatos (Ganham dois dias de acesso, em troco de um dia de voluntariado). Outra forma é através da cedência de bilhetes mais baratos.

Mas podemos fazer mais? Sim, nesta edição, por exemplo, vamos a implantar um programa de 30 a 40 reuniões e palestras ao longo da cidade, à noite.

CW ‒ Como é que a cidade pode garantir um retorno previsto de 175 milhões de euros com a realização da Web Summit?

PC ‒ Temos de pensar no longo prazo. Há uma ditado que diz: não se deve esgotar o cavalo, mas sim alimentá-lo. Isso implica pensar em formas de levar as pessoas a voltarem, por exemplo de férias, já no fim de semana a seguir ao evento ou pouco depois de terem estado cá na Web Summit, proporcionando uma boa experiência.

Existem riscos com estes eventos enormes de, por exemplo, os preços de hotéis aumentarem 1000%. Mas nem os taxistas, nem os restaurantes podem fazer isso.

E os hotéis acabam por absorver a maior parte do retorno, os visitantes ficam aborrecidos e os organizadores do evento acabam por ir-se embora. O Governo português conseguiu que a inflação tenham sido baixa. Desde início esse aspecto fez parte do acordo. Portugal tem lidado bem com isso e será útil  que continue assim.

Uma das coisas mais importantes é que as pessoas tenham um experiência agradável, boa comida e bebida, com pessoas amigáveis. Para regressarem a casa partilharem com os amigos e conhecidos e venham todos à próxima Web Summit.

CW ‒ Quem vai pagar pela iniciativa Inspire Portugal e os bilhetes que vão vender mais baratos?

PC ‒ Nós, como agradecimento por terem feito tanto por nós. É mesmo complicado trazer 50 mil pessoas, coordenar o tráfego, os transportes e a segurança.

CW ‒ Está preocupado com a falta de cartões de título de transporte para o metro?

PC ‒ Não. Acho que conseguiram uma boa solução. Ao chegarem ao aeroporto os visitantes vão conseguir comprar facilmente os bilhetes. Vamos encorajar as pessoas a usarem o metro, porque senão o tráfego vai tornar-se demasiado intenso.




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