CMU Portugal equaciona se precisa de reforçar estrutura

O director do programa, João Claro, considera necessário avaliar se escala do empreendedorismo em TIC,no país justifica.

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João Claro, director do CMU Portugal

Em vez de aumentar o número de projectos apoiados, o Programa Carnegie Mellon Portugal (CMU Portugal) parece mais inclinado a afinar iniciativas e aprofundar o aproveitamento da rede da universidade dos Estados Unidos. O apoio à internacionalização das startups suportadas é um dos assuntos destacados por João Claro, em entrevista.

Perspectivas de mudança, debatidas também com o MIT Portugal e UT Austin Portugal, incluem perceber como aproveitar a experiência das universidades norte-americanas para alterar modelos universitários portugueses. Interessa falar com o Governo, mencionou João Claro que iniciou novo mandato à frente do CMU Portugal. O responsável terminou o primeiro no final de 2015.

Computerworld ‒ Que balanço faz dos inRes 2014 e 2015, no programa CMU Portugal?

João Claro ‒ Podemos dizer que o inRes de 2015 foi mais bem sucedido. Em termos de métricas procuramos avaliar a credibilidade daquilo que os projectos têm em mãos. O problema existe mesmo? A solução tal como foi pensada resolve-o?

E o modelo de negócio é credível? Os canais de distribuição são adequados, a empresa vai conseguir trabalhar com eles? O modelo de negócio vai captar valor de forma a sustentar a organização? A credibilidade validada é sustentada na informação de fontes extremamente fiáveis, das redes de contacto de Carnegie Mellon.

CW ‒ Portanto estes projectos têm, pelo menos para já, credibilidade?

JC ‒ Neste fase a métrica é a “Evidence Based Entrepreneurship”, envolvendo o conceito do produto, a proposta de valor e o modelo de negócio. Não podem ser só uma ideia na cabeça dos empreendedores, mas um algo que conseguem comunicar de uma forma validada por experiências e por contactos realizados.

CW ‒ Há alguma diferença relevante em relação à edição de 2014 para a de 2015?

JC ‒ Acrescentámos uma semana de imersão em Silicon Valley, o que foi muito importante. A CMU tem um campus muito dinâmico e forte em Pittsburgh e outro em Silicon Valley. Esta última região é o epicentro da inovação e empreendedorismo na área das TIC, à escala mundial.

Foi importante disponibilizar às equipas o acesso uma rede de contactos, numa comunidade com dinâmica mais acelerada. Isso  permitiu-lhes obter mais validação e construir uma rede de contactos, útil até para os objectivos de internacionalização.

A outra novidade foi a parceria com a Caixa Capital, importante como motivação, fonte de financiamento para as equipas e para nós, por constituir um reforço da ligação ao “ecossistema” de empreendedorismo em Portugal.

CW ‒ Mas acompanhou os dois processos de imersão. Que especificidades teve um e outro?

JC ‒ Este ano o nosso desempenho em termos de contactos melhorou. Em 2014 tratamos da preparação dos contactos cá e fizemos depois a transição para os EUA. As equipas fizeram um bom número de contactos úteis, mas percebemos que podíamos melhorar bastante.

Durante 2015 tivemos um sucesso enorme. Fizeram-se dezenas de contactos e entrevistas, as equipas aprenderam muito, estabeleceram ligações com pessoas e instituições muito relevantes.

Trabalhámos nisso em 2014 e incluindo na preparação uma agenda inicial.  Um contacto gera sempre outros e desse ponto de vista a reputação de Carnegie Mellon faz a diferença, pela capacidade de abrir portas. Tivemos equipas que fizeram mais de cem contactos.

CW ‒ E o valor acompanhou a quantidade?

JC ‒ Sim, pode-se dizer isso.

CW ‒ Mesmo assim, como em todos os projectos, haverá aspectos a melhorar. Quais?

JC ‒ Já não temos nada no programa que mereça dizermos que correu mal. Questionamo-nos mais sobre o que podemos fazer além daquilo que correu bem.

CW ‒ E sendo assim, o que se pode prever?

JC ‒ Estamos a pensar se conseguimos aumentar o número das equipas que apoiamos. Isso obriga-nos a olhar melhor para a organização do programa, estando este montado para ter uma interface muito forte e personalizada com cada equipa.

Aumentar  a escala obriga-nos a reforçar o número dos nossos recursos humanos e arranjar forma de a experiência dos actuais ser transmitida aos novos.

Podemos também pensar em tirar mais partido da semana em Silicon Vallley, apesar de ter já corrido bastante bem.

Será possível tirar mais partido da rede da Carnegie Mellon com uma perspectiva mais internacional, porque a presença internacional da universidade é muito forte. Ela tem parcerias, campus, noutras áreas no Globo.

É uma rede com muito valor que podemos aproveitar, apesar do mercado dos EUA ser bastante importante.

CW ‒ A Ásia tem destaque ou é só mais uma das áreas?

JC ‒ Tem, porque a CMU atrai muitos estudantes asiáticos e há muito antigos alunos dessa região, que constituem uma rede. Está na nossa agenda pensarmos como aproveitar a rede à escala global.

CW ‒ O número de equipas poderá aumentar para quantas?

JC ‒ Precisamos de fazer algumas contas para perceber.

CW ‒ Tem a ver com o financiamento?João Claro CMU Portugal

JC ‒ Isso não será o problema principal.

CW ‒ Já tem o suficiente ou há garantias de que vai ter?

JC ‒ Para a fase II, o programa CMU Portugal tem, e Carnegie está aberta para continuar a dar a qualidade de apoio que já obtemos.

Mas temos de olhar com maior cuidado para a procura em Portugal. Considerando a qualidade das equipas ou projectos em fase adequada de evolução, não teríamos ido além das quatro, eventualmente mais uma [em 2015].

Mesmo que tivéssemos candidaturas.

CW ‒ Estão a nascer menos startups com qualidade, nesta área?

JC ‒ Não sei se estarão a nascer mais.

CW ‒ São demasiado imaturas?

JC ‒ Eu diria que não. É uma questão de escala. Enquanto por exemplo a Áustria tem 200 mil profissionais de TIC, para oito milhões cidadãos, nós temos 100 mil para dez milhões de habitantes, segundo professor Rogério Carapuça [presidente da APDC].

Para perceber se vale a pena fazer uma reforço de infra-estrutura temos de perceber se há escala para justificar.

Há uma dinâmica positiva de reforço, de contágio com mais projectos e de maior qualidade. Mas precisamos de ganhar sensibilidade para perceber essa dinâmica, para entender se vale a pena apostar ou quanto apostar.

CW ‒  Que outros desafios pode ter o programa?

JC ‒ Temos tido avaliações positivas. Mas é um facto que estamos além da metade da fase II e temos de pensar o que queremos fazer depois dela.

Demos um passo nesse sentido através de uma conferência com pessoas do MIT Portugal e UT Austin Portugal . E já concentrámos os parceiros nacionais e internacionais  para reflectir sobre os que as parcerias internacionais podem oferecer de útil e contemporâneo.

Neste momento temos de trabalhar em conjunto com o Governo para refrescar e actualizar as parcerias.

CW ‒ O que notou?

JC ‒ Surgiram várias ideias algumas mais ligadas à institucionalização das parcerias. Há desejos diferentes consoante os sectores.

Dada a experiência e maturidade dos parceiros norte-americanos nestas questões, existe a vontade de que algumas parcerias se virassem para algumas políticas públicas em Portugal. De modo a estas promoverem de forma mais eficaz, a inovação e empreendedorismo.

Há alguns desafios nos modelos universitários portugueses diferentes dos norte-americanos. Uma das propostas é promover uma  reflexão entre quem tem conhecimento de um modelo, e aqueles conhecedores do outro. Importa  perceber como a experiência norte-americana pode ser relevante para nós, em termos de carreiras de docentes e valorização das componentes daquelas, por exemplo.




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