O castigo dos media

Empresas da comunicação social precisam de ser mais tecnológicas e incorporarem gestores de tendências.

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As empresas de media têm de se tornar empresas de tecnologia, assegura Rosental Alves, professor da universidade do Texas (Austin). E é preciso nos media um “technologist trends manager”, alguém que consiga gerir “as tendências na prática jornalística”, defendeu Gustavo Cardoso, professor do ISCTE-IUL, na recente apresentação pública da plataforma NEM Portugal.

Para Rosental Alves, houve “três grandes revoluções”: a palavra escrita perante a voz, defendida pelo filósofo grego Sócrates, a imprensa (que rompeu com o monopólio do conhecimento e abriu caminho para o iluminismo – mas foi recebida com o mesmo cepticismo do tempo de Sócrates) e a revolução industrial, que “estendeu os nossos músculos ou a locomoção”.

Agora, “a era pós-industrial estende as nossas mentes, inteligência, comunicação em rede e isso já afecta os nossos cérebros e permite desenvolver novas capacidades cognitivas”. Passou-se dos meios de massa da era industrial para a abundância de meios na era digital, nota.

Dá o exemplo de que “o telemóvel é o verdadeiro PC”, no sentido de computador mesmo pessoal, enquanto “a mobilidade é a nova Web”. Por isso, e abordando as implicações dos novos dispositivos de realidade aumentada, “é imperativo ter em conta as dimensões revolucionárias das mudanças no meio comunicacional para repensar os media”.

Por exemplo, “os orgãos de comunicação social estão dependentes de outros”, como o Facebook, tendo-se passado de um sistema media-cêntrico para um modelo eu-cêntrico, de um ambiente de escassez para a abundância.

Se “as universidades pensam o mundo e as empresas fazem o mundo”, para os gestores “é muito difícil perceber o que está a acontecer quando ocorre a disrupção”.

Perante os modelos anteriores, há agora mais informação, mais meios, menos barreiras de entrada, baixos custos de produção, mais concorrência e sem limitações geográficas, comunicação horizontal, multidireccional e multimedia, sem limites de espaço e tempo, para uma audiência de nicho, activa, passando-se do tradicional monólogo fechado para o diálogo.

Nesta era digital, as redes sociais representam uma “nova lógica” e uma “supreendente força” comunicacional. Mas algumas empresas da comunicação social parecem não o perceber. Se “as universidades pensam o mundo e as empresas fazem o mundo”, para os gestores “é muito difícil perceber o que está a acontecer quando ocorre a disrupção”.

Nesse sentido, Gustavo Cardoso apontou que “os media erram e sabem que erram. Porquê? Pelas rotinas” instaladas. Daí ser difícil saírem dos modelos tradicionais de monetização (publicidade, “paywall” ou outros), quando se “tem de experimentar onde ir buscar dinheiro”.

Um estudo do grupo liderado por este investigador para a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), a ser finalizado ainda este mês, deverá apresentar conclusões para elucidar os “stakeholders” dos media em Portugal sobre o seu ecossistema e os diferentes modelos actualmente em vigor.

Uma conclusão é a de que “vivemos um tempo de experimentação”, referiu Gustavo Cardoso. Ou, como notou Carlos Magno, presidente da ERC, lembrando uma antiga punição grega, “vais viver tempos interessantes”.




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