Alertas para riscos na privacidade em “smart cities”

A correlação de dados em grande volume, provenientes de redes de sensores, pode colocar em risco lembrou o responsável da Anacom, durante a 2ª Conferência “Cidades Inteligentes – Cidades do Futuro”.

Manuel Barros_director de seguranca de comunicacoes da Anacom

Manuel Barros, director de segurança de comunicações da Anacom

O director de segurança das comunicações da Anacom, Manuel Barros, foi o único responsável a dar relevo específico à questão da privacidade em contexto de desenvolvimento das “smart cities”, durante a 2ª Conferência “Cidades Inteligentes – Cidades do Futuro“, realizada na terça-feira passada. O fraco ênfase dado ao tema contrastou com a importância, sublinhada por vários intervenientes, de os projectos colocarem os cidadãos no centro dos potenciais benefícios dos projectos.

Para aquele responsável, a correlação de dados pode colocar em risco a protecção de dados pessoais ao produzir “informações privilegiadas sobre as pessoas”. Referia-se, por exemplo, “à identificação de perfis de consumo”, elementos capazes de atentar contra direitos fundamentais dos cidadãos. “Alguns dos riscos já são perceptíveis, outros não”, alerta.

De outra perspectiva, esses aspectos também apelam a um certo “sentido de descoberta” sobre um universo de possibilidades. O representante da Anacom confirmou que a Internet das Coisas – conceito e ferramenta na base de muitos projectos de “smart cities” – eleva o acompanhamento do funcionamento das redes para uma “nova importância”.

Os perfis de tráfego das redes máquina-a-máquina (M2M), em termos de pico de volume, apresentam “diferenças enormes“ (em comparação com as de outros conteúdos) e deverão exigir alterações às infra-estruturas a curto ou médio prazo.

A displicência com o tema da privacidade resultou numa certa ironia ao longo do evento. Sobretudo quando os oradores defendiam, com mérito apesar de tudo, as qualidades das abordagens nas quais se privilegia o capital humano e social, em detrimento da prevalência das TIC.

Catarina Freitas, da Câmara Municipal de Almada, caracterizou como redutoras as estratégias nas quais as tecnologias predominam e são até insuficientes para atingir objectivos de sustentabilidade, eco-eficiência e resiliência. A responsável defende uma perspectiva na qual se valoriza o capital humano com um desenvolvimento baseado na capacidade de as pessoas criarem, inovarem, serem empreendedoras e gerirem processos.

Também Catarina Selada, directora da unidade de cidades na Inteli, sublinhou o interesse de as “smart cities” serem fundadas no papel das pessoas e das comunidades, embora envolvendo empresas, com enfoque nas capacidades colaborativas: na linha do que Paulo Carvalho, da direcção de economia e inovação da Câmara Municipal de Lisboa, denominou como “economia colaborativa”.

Na perspectiva deste responsável, será estratégico criarem-se “clusters” de empresas focadas numa oferta para “smart cities”, abertos à colaboração com o exterior, incluindo entidades estrangeiras. O presidente da Câmara Municipal de Cascais, Carlos Carreiras, explicou também que a sua estratégia na gestão da autarquia tem procurado privilegiar “não capital, nem trabalho”, mas sim o “talento”.

O governante garante que a aposta é “na cadeia de valor”, tendo esta maior importância do que “o preço”. Planos de “smart cities” orientados à tecnologia, assumindo as cidades como sistemas urbanos a serem optimizados, levam ao que a Catarina Selada defendeu como “determinismo tecnológico”. Acabam por ser liderados “por multinacionais e operadores de serviços” e tendem a seguir uma “visão neoliberal” das cidades como empresas.

A responsável defendeu ainda a preferência por evoluções incrementais, em detrimento das radicais, num quadro de aplicação de metodologias de inovação aberta (por exemplo, de crowdsourcing) e processos de inteligência colectiva. A utilidade da tecnologia não é negada pela directora.

Como refere, 65% das pessoas a viver em favelas brasileiras usam smartphones e 50% têm Internet. E isso ajuda a fazer “o mapeamento participativo” em projectos de “smart cities”. Aliás, vários intervenientes assinalaram os smartphones como elemento destacado de suporte a várias interacções no âmbito das chamadas “cidades do futuro”.




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