Despedimentos iniciais vão afectar 12.500 postos de trabalho relacionados com divisão de dispositivos e serviços da Nokia. Em Portugal, empresa está a expandir-se.
A Microsoft anunciou esta quinta-feira que vai cortar a sua força de trabalho até 18 mil empregos (ou 14%) até ao próximo ano, como parte de um esforço para dinamizar a empresa, na sequência da aquisição da fabricante de telemóveis Nokia. O processo deve estar “substancialmente terminado” a 31 de Dezembro próximo e “completamente finalizado” a 30 de Junho de 2015.
Numa mensagem para os funcionários pelo CEO divulgada pela empresa, Satya Nadella diz que o seu “trabalho para sinergias e alinhamento estratégico com a divisão Nokia Devices and Services deverá representar cerca de 12.500 postos de trabalho, composto por trabalhadores profissionais e de fábrica. Estamos a mover-nos agora para começar a reduzir as primeiras 13 mil posições, e a grande maioria dos trabalhadores cujos empregos serão eliminados vão ser notificados ao longo dos próximos seis meses”.
A mensagem de Nadella diz que a empresa vai adicionar empregos noutras áreas.
Nela, ele promete mais informações sobre onde a empresa vai concentrar o investimento em inovação numa “conference call” para discutir os lucros da empresa, a 22 de Julho, e convidou a equipa a participar numa sessão interna mensal de perguntas e respostas com ele na próxima sexta-feira para saber mais deste assunto.
Membros séniores da equipa de gestão vão discutir o efeito dos cortes nas suas organizações na tarde desta quinta-feira, segundo Nadella. Aos funcionários despedidos será oferecida uma indemnização e, em muitas posições, ajuda para encontrar um novo emprego, disse.
Além da integração do negócio de telemóveis da Nokia, Nadella disse que os cortes nos empregos vão incidir sobre a simplificação do trabalho, eliminando camadas de gestão e mudar o que a empresa espera de cada uma das disciplinas envolvidas nas actividades de engenharia. Essas mudanças têm a intenção de acelerar o fluxo das informações e a tomada de decisão, escreveu.
Em Portugal, quadro de colaboradores da subsidiária vai expandir-se.
Nadella também revelou alguns detalhes dos seus planos para o portefólio dos dispositivos Nokia.
A empresa vai “concentrar-se em inovação de topo que expresse e anime o trabalho digital da Microsoft e as experiências de vida digitais” para vencer nos níveis de preços mais elevados, disse ele.
Mais intrigante, os telemóveis de baixo custo com Android – os Nokia X, introduzidos como estratégia de último suspiro pela Nokia antes de vender a divisão de telemóveis para a Microsoft – vão sobreviver mas não como Android. Em vez disso, disse Nadella, “pretendemos mudar projectos de produtos Nokia X para se tornarem produtos Lumia com o Windows”. A Nokia tinha preparado o terreno para, antes da venda, ter as suas próprias aplicações e uma interface de utilizador para Android que se assemelhava ao Windows Phone.
Numa outra mensagem aos funcionários, o responsável do Devices Group da Microsoft, Stephen Elop, disse que a empresa continuará a vender os dispositivos Android nalguns países, dependendo das condições locais.
Ele também detalhou onde serão alguns dos cortes nos empregos. O trabalho de engenharia em telemóveis vai continuar em dois locais na Finlândia – Salo para dispositivos “high-end” Lumia e Tampere para dispositivos mais acessíveis -, mas será desacelerada em Pequim, San Diego e em Oulo, na Finlândia. O fabrico de telemóveis continuará em Hanói e, em menor extensão, em Pequim e Dongguan. Ele não fez qualquer menção às operações de fabrico da Nokia na Índia.
Haverá uma mudança limitada para as equipas que trabalham com os dispositivos Surface e hardware Xbox, já que tinham sido re-estruturadas no início do ano, disse Elop.
A 5 de Junho passado, a Microsoft tinha 127.104 empregados, 61.313 deles nos EUA, de acordo com o seu site. Os cortes planeados de empregos podem afectar cerca de 14% da força de trabalho.
Impacto em Portugal e na Europa
Em Portugal, a empresa emitiu um comunicado onde refere que, relativamente ao nosso mercado, “o que podemos confirmar por agora é que o nosso quadro de colaboradores da subsidiária se vai expandir em três novas posições e [quarta-feira passada] anunciámos a contratação de 15 recém-licenciados para o nosso centro internacional de suporte remoto sedeado em Lisboa, cerca de seis meses depois de termos anunciado a primeira expansão deste centro, com a contratação de 25 novos técnicos”.
A subsidiária refere ainda que a redução dos 13 mil postos de trabalho, “fruto do alinhamento estratégico resultante da aquisição da unidade de dispositivos e serviços da Nokia” não visa “objectivos de redução de custos e assenta na necessidade de fazer evoluir a organização e a cultura da Microsoft, de modo a permitir-lhe atingir os objectivos ambiciosos a que se propõe no futuro imediato e que foram oportunamente comunicados pelo novo CEO aos colaboradores da empresa, num email de 17 de Julho”.
Em termos europeus, László Andor, comissário para o emprego, revelou em comunicado que os despedimentos na Europa vão afectar principalmente a Hungria e a Finlândia, considerando que uma “re-estruturação de empresa é um facto da vida, mas isso deve ser feito de uma forma socialmente responsável, com base no diálogo social e com o devido respeito pela legislação em vigor sobre a informação e consulta dos trabalhadores e sobre os despedimentos colectivos”.
Segundo ele, “o facto de que partes de uma grande empresa de software vão reduzir de tamanho não deve ser um motivo para parar de investir em competências digitais e apoiar a criação de emprego digital na Europa, muito pelo contrário. As competências digitais são necessárias para apoiar a transição para novos serviços, como a cloud e dados, bem como para uma economia de recursos e mais eficiente em energia. A economia digital está a mover-se tão rapidamente que até mesmo empresas de tecnologia têm que fazer ajustes significativos. Portanto empresas, governos e parceiros sociais devem melhorar a antecipar necessidades de competências e a investir em pessoas de todas as idades para melhorarem as suas competências digitais. Trabalhadores afectados pelo anúncio de hoje devem receber apoio para se re-formarem se necessário e ajuda a encontrar um novo emprego o mais rápido possível. Noto o compromisso da Microsoft para trabalhar com os representantes dos trabalhadores e os governos em questão, a fim de apoiar o re-emprego dos trabalhadores afectados noutras partes da empresa ou noutro lugar. Autoridades nacionais e regionais relevantes podem também aceder ao apoio da União Europeia para re-formação e re-emprego através do Fundo Social Europeu ou do Fundo Europeu de Ajustamento à Globalização, se estiverem preenchidas as condições aplicáveis”.