O grupo de trabalho da área médica fez novas propostas ao Ministério da Saúde, num debate organizado pela APDSI.
João Martins, gestor de investimento da Pathena, desafiou os médicos portugueses para a exportação dos seus serviços de saúde, aludindo à utilização de sistemas de telemedicina, em debate na conferência “As TIC e a Saúde no Portugal de 2013” organizada pela APDSI. Na mesma ocasião o coordenador de telemedicina no Alentejo, Luís Gonçalves, revelou uma série de novas propostas avançadas pelo grupo de trabalho da telemedicina da Comissão de Acompanhamento da Informatização Clínica, ao Ministério da Saúde. Uma das mais relevantes será afirmar na legislação nacional a acessibilidade geral e universal da população à telemedicina.
A medida reveste-se de particular importância tendo em conta, como o responsável recordou, que a telemedicina em Portugal teve o seu impulso mais significativo a partir de 2012, quando foi institucionalizada. O grupo de trabalho propôs ainda, no ínicio de Fevereiro, o alargamento gradual das consultas de triagem/rastreio suportadas por métodos de telemedicina a outras especialidades, além da dermatologia: angiologia/cirurgia vascular, cirurgia plástica, neurologia ou oftalmologia, entre outras.
De acordo com o grupo, o processo deverá abranger todo o território nacional. No âmbito do mesmo, a direcção nacional de saúde será a entidade a emitir, gradualmente, as normas de orientação para cada especialidade.
Além disso, segundo a proposta da equipa, nas áreas de saúde onde já funcione, a solicitação das consultas de triagem/rastreio teledermatológico deve ser sempre através do serviço Consulta a Tempo e Horas (CTH).
Centro, Lisboa e Vale do Tejo e Alentejo com prioridade na PDS-LIVE
Paralelamente, os serviços de saúde deverão começar a empregar a plataforma PDS-LIVE para generalizar a teleconsulta e telemedicina, num processo que deverá ganhar maior impulso durante o primeiro trimestre de 2014. “Na primeira fase, a PDS-LIVE dará prioridade a unidades de saúde que participam no rastreio teledermatológico localizadas nas Administrações Regionais de Saúde – Centro, Lisboa e Vale do Tejo e Alentejo”, disse Luís Gonçalves.
No caso da triagem e rastreio teledermatológico, o responsável prevê que, até Dezembro de 2014, 50% das unidades de saúde estejam preparadas para as fazer. A cobertura total do território só será atingida cerca de um ano depois.
Em Abril ou Maio deverão arrancar os serviços de telemedicina nas unidades das ARS Norte , Centro e Lisboa e Vale do Tejo, tendo como referência os hospitais de São João e Santo António (Porto), o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, e o Hospital de Santa Marta, em Lisboa.
Entretanto, decorre um projecto-piloto de telemonitorização, com seguimento de 15 doentes no seu domicílio, à escala nacional. São feitas avaliações diárias de vários parâmetros, como a tensão arterial e temperatura.
Outro projecto, para facilitar o acesso a consultas especializadas de dermatologia às populações transmontanas, decorre há três meses. É suportado pela colaboração entre o Hospital de Santo António e a Unidade Local de Saúde do Nordeste, de Bragança. O processo envolve a solicitação de consulta de teledermatologia com pedido sob a forma de formulário, com fotografias da lesão, feito a partir do serviço CTH.
Como resultado da iniciativa, Luís Gonçalves, referiu que o tempo de espera para efectuar os rastreios passou para um dia, tendo sido efectuados 86 rastreios. Não foram necessárias teleconsultas, e foi preciso apenas uma consulta presencial (para rastreio).
“50% dos casos ficaram resolvidos com a análise das fotografias pelos especialistas”, referiu. O projecto resultou ainda na realização de consultas de cirurgia no Hospital de Santo António, com duas a três semanas de tempo de espera. Nos hospitais da ULSN foram realizadas duas consultas deste tipo.
Preservar contacto com doentes
Na perspectiva de João Martins (Pathena), o sector da saúde, passa hoje por uma fase de convergência de tecnologias, à escala mundial, envolvendo sistemas mais clínicos, de imagiologia, o poder de computação, mas também sistemas de Big Data. Contudo, o responsável chamou a atenção para a necessidade de preservar “o contacto dos médicos com os doentes”.
E sublinha a importância de se manter o controlo humano sobre todos os automatismos a introduzir no sistemas de saúde. Segundo o gestor de investimento da Pathena, o tempo de atenção do médico com os doentes ronda actualmente os sete minutos, com tendência a piorar com a série de dispositivos tecnológicos aos quais o profissional tem de atender, na consulta.
Apesar de tudo, para o gestor, era importante no futuro que os sistemas evoluíssem para garantirem mecanismos de acompanhamento dos doentes à distância.“Mas a recolha dos dados não pode ser intrusiva e tem de ser bastante facilitada“, diz João Martins.
Ao mesmo tempo, e tanto quanto possível, é importante capacitar os doentes para essas operações. O executivo sugere que o lar dos doentes é o ambiente ideal para serem acompanhados com medições do estado da sua saúde e enviarem os dados aos médicos.
Será o “lar digital médico”, que se configura como um elemento ideal num sistema defendido pela Pathena com um contínuo de dados clínicos – disponibilizados ou recolhidos remotamente. Mas para Luís Pisco, vogal da ARS de Lisboa e Vale do Tejo, os problemas dos serviços e também na esfera da administração dos mesmos, é que “as informações não circulam nas organizações de saúde“.
Isso constitui um problema importante, na sua perspectiva, porque a cooperação será um dos factores mais importantes num processo de melhoria da qualidade ‒ e a partilha de informação é um factor de cooperação. A mudança “mais importante” a fazer num processo de melhoria da qualidade é alterar o comportamento das pessoas, segundo o responsável.
Contudo, o mesmo não deixa de referir os sistemas de informação como suporte para implantar boas práticas. Luís Pisco sublinhou bem este aspecto e definiu “três caminhos” de evolução do processo de melhoria de qualidade dos serviços de saúde em Portugal: eficiência, a garantia de acesso, e a implantação de um processo estruturado de identificação de problemas e possíveis soluções inovadoras.
“Não é preciso grandes consultoras. A questão central é manter o processo de melhoria de qualidade de forma sustentada num organização de saúde”, diz.
Citando especialistas internacionais do sector da saúde ‒ Donald Berwirck, por exemplo ‒, o administrador sublinha que “a eficiência é a dimensão da qualidade dos serviços”. No entanto, ressalva, isso será alcançado não nos hospitais e sim nos processos de serviços ambulatórios.
O objectivo é conseguir mais saúde por menos dinheiro, reforça. Apesar da evolução dos sistemas de saúde, Luís Pisco admite que as pessoas, à escala global, não estão a ter acesso aos serviços como deviam. Daí a acessibilidade merecer especial atenção.
O responsável sublinhou ainda que em geral, a gestão dos serviços de saúde em Portugal padece de um problema recorrente: “somos pouco persistentes, mudamos muito de metodologia”.