Para cumprir objectivos da FCT no âmbito do programa Horizon 2020, será necessário apoiar melhor os investigadores portugueses. E estes têm de adoptar uma abordagem mais voltada para a internacionalização.
A comunidade de investigadores tem de encontrar um nicho de especialização na eHealth, para Portugal conseguir acomodar um centro de co-localização do European Institute of Innovation and Technology (EIT) dedicado a essa área. Será aquela na qual o país terá mais hipóteses e que interessa mais aos sector das TIC português considera Eduardo Maldonado, o coordenador dos pontos de contacto no país para o programa Horizon 2020.
Numa breve entrevista para o Computerworld – e perante uma conjuntura de corte de custos –, o responsável diz ser necessário ajudar melhor os investigadores a estarem em certas plataformas europeias. O facto de o programa obrigar a uma maior internacionalização das investigações e dos resultados – poderá talvez ajudar a convencer quem decide sobre investimento público.
Mas os investigadores também precisam ser mais sensíveis à necessidade de internacionalização.
Computerworld – A FCT pretende trazer para Portugal um centro de co-localização de investigação do EIT, no âmbito do programa Horizon 2020. Quais são os objectivos mais concretamente?
Eduardo Maldonado – O EIT tem a funcionar três comunidades, sobre energia, ambiente e outra sobre TIC. Portugal só uma pequena participação naquela da energia, através de um consórcio onde está a EDP e outras empresas.
E funciona sob a capa do centro de co-localização em Barcelona. Não há nenhuma sede da entidade de investigação localizada em Portugal.
E por isso queremos incentivar a comunidade portuguesa de investigação a movimentar-se para ter um centro de co-localização em território nacional
CW – Em que área temos maior potencial?
EM – Depende dos temas. Por exemplo, nos dois temas que vão arrancar agora em 2014, sendo o primeiro sobre o envelhecimento activo, há um posicionamento forte dos três grandes centros, do Porto Lisboa e Coimbra.
CW – Com conhecimento consolidado sobre a matéria?
EM – Sim, Coimbra está com uma dinâmica muito grande, Lisboa também, o Porto, como sede de clusters em torno da saúde, estão a desenvolver iniciativas, para ver se conseguem um centro de localização.
CW – Mas esse tema terá já muito a ver com TIC.
EM – Imenso. Nada se consegue fazer hoje sem TIC e estas acabam por ser transversais a todos os temas. As TIC são praticamente transversais a toda a ciência.
CW – Para o sector das TIC o eHealth será o sub-tema com maior interesse, correcto?
EM – Sim, tanto na parte de técnicas de diagnóstico, de acompanhamento das pessoas, como nos mecanismos de ajuda pessoas com dificuldades em deslocar-se, sistemas de acesso à computação, tecnologias de vestir, por exemplo.
O outro tema é o das matérias-primas e há também boas competências para isso em Portugal.
À escala europeia a investigação é organizada por centros de especialização. Por exemplo, na área da energia há um centro para as renováveis há um centro para a energia nuclear.
E por isso, teremos de encontrar o nosso nicho de especialidade, na saúde.
CW – Dentro do tema de eHealth?
EM – Sim, sem estarmos fechados à colaboração com outras entidades europeias.
CW – Mas há capacidade para concorrer em todas as áreas?
EM – Temos um conjunto excelente de cientistas, e também de empresas: é necessário trabalhar em conjunto com elas.
CW – Qual será a melhor estratégia para a atingir o aumento de 20% nos fundos provenientes do 8º programa-quadro (face ao do 7º programa)?
EM – Vamos precisar de dar melhores apoios do Estado à participação dos nossos cientistas nas plataformas europeias, e outros ambientes. Mas também precisamos de sensibilizar as nossas empresas, e os nossos cientistas para a necessidade de internacionalização. Precisamos que tenham um pouco mais de ambição do que aquela mantida até aqui.
CW – Isso quer dizer o quê?
EM – Muitas vezes as empresas e investigadores a preferem tentar obter financiamento do QREN por ser mais fácil do que no âmbito da União Europeia. Isso é verdade mas também traz limitações na internacionalização.
Estamos a falar de montantes muito mais pequenos. E se em vez de tentar trazer um grande contrato e plano de investigação, um investigador preferir trabalhar de forma mais isolada, acaba por não internacionlizar-se.
A excelência obriga a trabalhar em equipa, Portugal é muito pequeno, e é preciso colaborar à escala europeia ou até mundial.
CW – Para as empresas qual será a melhor estratégia?
EM – Têm muitas estratégias. Podem por exemplo participar nestes projectos colaborativos tradicionais, e aí formam consórcios, com universidades ou com outras empresas, para desenvolverem um tópico.
CW – Portanto passa sempre pela parceria?
EM – E pela internaciobalização. Se o problema a resolver for apenas português, não é financiável por programas europeus. O projecto tem de estar voltado para o mercado europeu ou pelo menos para parte dele.