Um mapa da agência norte-americana mostra colocação de malware para aceder a redes localizadas em Portugal e obter “informação sensível”.
A agência norte-americana de espionagem (National Security Agency ou NSA) infectou com malware mais de 50 mil redes de telecomunicações em todo o mundo, incluindo em Portugal.
Um mapa alegadamente da NSA e revelado este fim de semana pelo jornal holandês NRC Handelsblad mostra que as ligações a partir de Portugal estão classificadas pela agência na classe de acesso “regional”, sendo visíveis as ligações por cabos submarinos para o Brasil, África e norte da Europa. A sobreposição da imagem da NSA com outros mapas de cabos submarinos aparenta que o malware terá sido colocado num único centro de telecomunicações, a sul de Lisboa.
Os documentos de 2012 foram cedidos por Edward Snowden e vistos pelo jornal, que afirma que mais de 50 mil redes em todo o mundo foram infectados com malware, através do uso de “Computer Network Exploitation” (CNE) – “a infiltração secreta de sistemas informáticos concretizada para instalar malware”. Um exemplo conhecido desta táctica ocorreu com a operadora Belgacom.
Este tipo de ataque é concretizado por um departamento especial da NSA, o Tailored Access Operations (TAO), visto como uma equipa de 600 hackers de élite a funcionar todos os dias, durante 24 horas, segundo o Washington Post. Este jornal cita a revista Foreign Policy para afirmar que “o TAO é também responsável por desenvolver programas que possam destruir ou danificar computadores estrangeiros e redes por ciberataques se houver ordens para isso pelo presidente” dos EUA.
O número de malware colocado em 2008 atingia os 20 mil, revelou o Washington Post, tendo aumentado para 50 mil no ano passado. A NSA recorre a este tipo de operações desde 1998, segundo o jornal norte-americano. A revista Wired revelava em Outubro de 2010 como a NSA estava autorizada para escutar os acessos telefónicos ou os dados da Internet, devido a uma “sortuda coincidência da economia“.
Reacções em Portugal
A revelação pode ser tão mais problemática dado que o Governo português declarou há dias não haver qualquer “colaboração institucional dos serviços de informação nacionais com a agência norte americana NSA“. Em comunicado, o gabinete do secretário-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP), Júlio Pereira, reiterou “de forma peremptória que não existe qualquer cooperação institucional através do SIS [Serviços de Informações de Segurança] e do SIED [Serviço de Informações Estratégicas de Defesa] com a National Security Agency (NSA), tal como já foi referido por diversas vezes e por diversos meios”.
Dias antes, já Keith Alexander, director da NSA, afirmou que a “informação que tinha de países como Espanha, Portugal e Itália provinha de ‘parceiros europeus’”. Mas uma “fonte anónima” revelava que a NSA espiava “Espanha e Portugal directamente”, apesar da NSA considerar Portugal no grupo de “aliados seguros” e que “partilha informação de espionagem“.
Na sexta-feira passada, o Primeiro-ministro de Portugal considerou “inaceitáveis e no mínimo criticáveis” as actuações da NSA relativamente “à recolha de informações”, e que “a luta contra o terrorismo e o crime organizado não pode ser feita a qualquer custo”. Passos Coelho considerou que “não podemos supor que esta questão, pela justificada controvérsia que a rodeia, se possa considerar encerrada – longe disso“.