Tecnologia não é suficiente para enfrentar o PRISM

O especialistas em cifragem, Phil Zimmermann, considera que tem de ser uma política a proteger a privacidade de pessoas e organizações.

O PRISM da National Security Agency (NSA) é um sistema de vigilância capaz de gerar graves problemas no futuro e deve ser combatido com políticas públicas, considera um dos maiores especialistas em tecnologia de cifragem. O CEO da Silent Circle, afirmou que apenas a utilização de tecnologias de segurança mais inteligentes, por si só, não será suficiente.

Trata-se de uma posição inesperada de um homem cuja nova empresa vende, possivelmente, o único serviço anti-vigilância mais credível no mercado. Além disso, o executivo foi o inventor do lendário Pretty Good Privacy (PGP), software de cifragem no início de 1990.

Também é justo dizer que a controvérsia em torno do PRISM pode ser boa para o modelo de negócios da Silent Circle, constituindo até uma espécie de gigantesco sinal em neon a dizer “nós avisámos”. “O aumento de interesse que temos tido ao longo dos últimos 10 dias é enorme”, admite Zimmermann em declarações para a IDG numa conversa telefónica, passível de ser monitorizada facilmente pelo PRISM.

No caso de Zimmermann, as escutas telefónicas não são muito necessárias, pois ele diz logo o que ele pensa sobre a era da vigilância, mesmo antes de se fazer a pergunta. “Eu reconheço que a NSA tem um trabalho a fazer, mas há um excesso de alcance e isso é  prejudicial”, afirma.

“Se criarmos uma infra-estrutura tecnológica como aquela revelada na semana passada, o governo poderia usá-la para criar uma incumbência, que não se pode mudar através de eleições”.

Para alguns cidadãos, o PRISM será reconfortante, no pressuposto ingénuo de que não fizeram nada de errado, ou mesmo por verem a vigilância como inevitável. Contudo permitir a existência desses sistemas sem supervisão é extremamente arriscado para os EUA, e para qualquer país, afirma Zimmermann.

E 2017?

“Mesmo imaginando-se que este Governo implantou o PRISM com boas intenções, no futuro, um governo pode abusar dela. Quem vai ser presidente em 2017? Não temos qualquer ideia”, lembra.

“Será que esse governo vai ter a sensibilidade moral de Thomas Jefferson ou a de Vladimir Putin?”

Zimmermann considera que um sistema poderoso, e capaz de ver tudo como o PRISM, estabelece parâmetros para governos pouco não preocupados com nuances morais. Vão querer ter as mesmas capacidades, assim como as organizações criminosas determinadas a descobrir detalhes de contacto sobre testemunhas de crimes ou, pior, sobre os agentes judiciários.

O PRISM é um exemplo, funciona como uma prova de conceito, e sem esforço levanta suas possibilidades perigosas. O facto de sabermos da existência do Prisma é responsabilidade de apenas um ex-empregado, Edward Snowden, o qual decidiu prescindir da sua posição por um princípio. E se um outro funcionário optar por vender dados secretos?

“A tecnologia é uma consequência da vigilância”

A era da vigilância será marcada certamente por preocupantes riscos para todos. Haverá muitos PRISM, prevê o responsável.

Colocado perante a ideia de que, pelo menos, os utilizadores da Internet têm ferramentas à sua disposição para proteger os seus dados privados, com por exemplo a cifragem, Zimmermann desvaloriza essa capacidade. A tecnologia é uma consequência da vigilância e não a solução para lhe fazer face.

“Preocupo-me com o facto de as pessoas caírem no fatalismo de assumirem que não podem fazer nada sobre o assunto”, diz. “Temos de lutar não apenas com tecnologia, mas com a ordem pública”.

Para o responsável, o momento chave da questão foram os atentados de 11 de Setembro, no qual o sistema sofreu um solavanco histórico. “Antes disso eu estava preocupado, principalmente, com a Lei de Moore, pois esta corrói a privacidade”, diz. O crescimento exponencial da capacidade de processamento oferece mais e mais possibilidades na busca de padrões de dados, com sistemas automatizados, em tempo real.

“Depois do 11/9, a Lei de Moore foi acelerada pelas políticas públicas”. Segundo o responsável esse momento histórico importa porque o potencial da lei de Moore passou a ser alimentado por decisões públicas, nas quais se assumia, a maior necessidade de haver vigilância. Esses eventos serviram para “ganhar” discussões que deviam ser públicas.

O efeito Facebook

Uma coisa parece ter mudado desde 2001: a percepção de algumas pessoas sobre a sua privacidade. Estudos provam frequentemente como a privacidade ainda é uma prioridade para as pessoas que se registam felizes no Facebook.

Zimmermann preocupa menos com a integridade das práticas das  empresa do que aquilo que ela gera na sociedade como um todo. “A Facebook tem tido o efeito de “des-sensibilizar” as pessoas sobre a privacidade. Cada violação torna-se uma base para mais violações”, diz.

O especialista queixa-se amargamente sobre a complexidade dos muitos controlos de privacidade, regularmente reformulados de uma forma que os utilizadores não conseguem acompanhar.

Quanto aos operadores de telefonia, as suas expectativas são baixas. “As companhias telefónicas têm 100 anos de comportamento favorável às escutas “. Está simplesmente demasiado enraizado neles para não tornarem isso fácil, e sempre funcionou assim.

(John E Dunn, Techworld.com)




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