Cisco deverá reforçar recursos humanos dos seus centros de serviços

O director-geral da empresa em Portugal, Nuno Ferraz de Carvalho, não sabe quantas pessoas será preciso contratar este ano. Mas prevê essa necessidade. A instalação de mais um centro de serviços não está descartada.

“É minha preocupação trazer mais investimento para Portugal”, diz o director-geral da Cisco, Nuno Ferraz de Carvalho, em entrevista para o Computerworld. Instalar mais um centro de serviços internos para as operações da Cisco não está fora de um conjunto de hipóteses, de acordo com o mesmo.

Mas o responsável não sabe se as decisões sobre uma série de iniciativas vão ser tomadas ainda no corrente ano. Quase certo, nas previsões do executivo, é que a organização precise de reforçar a estrutura de recursos humanos dos cinco centros existentes em 2013.

A Cisco implantou em Portugal o projecto Hércules em 2007, o centro Liberty em 2008, no ano seguinte o Inside Sales Supercentre. Há dois anos instalou o EMEA Recruitment Hub e o Partner Advisor.

Hoje, a estratégia da empresa em Portugal tem necessariamente a mobilidade como um dos seus principais sustentáculos. E a resposta à tendência BYOD (Bring Your Own Device) está na agenda.

Computerworld – Quais são os pilares principais da estratégia da Cisco em Portugal?

Nuno Ferraz de Carvalho – Vídeo, mobilidade e cloud computing (no centro de dados). Somos muito abrangentes mas estas áreas representam tudo o que está por baixo e é oferta da Cisco, em termos de routing, switching e aplicações.

São áreas onde estão a acontecer alterações profundas. As tendências portuguesas são semelhantes às mundiais.

Não queremos só manter o negócio que temos. Gostamos de criar oportunidades e construir as bases para ir atrás delas.

E não temos só produtos. Cerca de 22% do nosso negócio mundial é realizado em serviços.

CW – O que é pouco para os vossos objectivos.

NFC – Sim.

CW – Porque a Cisco pretende ser uma empresa de Managed Services, serviços geridos, e de software. E o volume de negócios relativo ao software também ainda não é tão importante: 25% da vossa facturação.

NFC – Sim, mas é preciso considerar de onde partimos.

CW – Há algum tempo já que a Cisco quer ser uma empresa de serviços e de software.

NC – Os serviços representam pouco para o que ambicionamos, mas nos últimos resultados referentes a 2012, essa área teve 10% de crescimento. Quanto à parte de software, o nosso presidente [John Chambers] diz querer duplicar este negócio de 6 mil milhões de dólares para 12 mil milhões, em cinco anos, o que revela muita confiança.

CW – O que são Managed Services para a Cisco em Portugal?

NFC – Termos soluções que, em conjunto com os nossos parceiros, sejam integradores de sistemas ou outros, com Managed Services para o cliente.

CW – Para operadores ou outras empresas?

NFC – Pode ser para o operador numa perspectiva corporate, mas normalmente este é também um parceiro. Mas a área de TI é cada vez mais complexa, com mais dispositivos e funcionalidades.

Nem todas as empresas têm capacidade de acompanhar o desenvolvimento. Os Managed Services são uma forma de facilitar a adopção rápida e exploração dessas tecnologias.

Há dois movimentos na base disto: a existência de infra-estrutura de banda larga, e a largura de banda que deixou de ser uma limitação. Depois há operadores e integradores a adoptarem um modelo de negócio baseado na venda de serviços [assente nessa infra-estrutura].

CW – Mas a Cisco nunca vai pensar em fornecer esses serviços directamente?

NC – As nossas iniciativas de go-to-market [de interacção com o mercado] será sempre através de parceiros. Mas há situações pontuais nas quais para aquecer o mercado ou tornar mais rápida a adopção vamos nós directamente [até ao cliente].

CW – Este não é o caso?

NC – Não. Mas há o exemplo da WebEx que comprámos, integrámos e continuámos as suas actividade directamente. Mas também nos tornámos parceiros de operadores para estes serem um canal na venda do serviço gerido da WebEx.

“Estão muitas coisas em cima da mesa”

CW – Têm em perspectiva novas contratações para o vosso centro de serviços internos, em 2013?

NC – Não sei se vai ser na ordem dos 5% ou dos 10%, ou mais,  mas com base no nosso crescimento mundial, e das unidades que temos em Portugal, temos a perspectiva de continuar a crescer, em recursos humanos, para toda a organização.

CW – Mas vai haver mais algum centro vosso em Portugal? Isso ainda está em perspectiva?

NC – Não se fecharam as portas. Estamos a trabalhar numa quantidade de iniciativas.

É minha preocupação trazer mais investimento para Portugal. Estão muitas coisas em cima da mesa. Mas não sei se vão ser decididas este ano.

CW – Mas será para prestar serviços para clientes ou para um âmbito interno?

NC – Será sempre para prestar serviços internos. Até porque os nossos serviços são sempre feitos através de integradores ou operadores.

CW – Quanto já foi investido nos centros até agora?

NC – Ao certo, já não sei. Mas para a Cisco são centros de lucro.

Com eles deixámos de precisar de duas ou três pessoas noutros países, contratando uma pessoa aqui.

CW – Com o facto de basear estes centros em Portugal, a Cisco poupou quanto?

NC – A iniciativa faz parte de um projecto enorme. Quando em 2008 se iniciou a crise actual, o nosso presidente anunciou aos accionistas a intenção de reduzir 1,2 mil milhões nos custos operacionais.

Conseguimos esse objectivo em quatro anos em vez de cinco. Uma parte importante dessa redução resultou destas iniciativas, entre outras, que envolveram outros países.

CW – Os custos dos recursos humanos acabaram por ser um factor importante, certo?

NC – Não foi o factor mais importante, e hoje já não é o factor mais importante. Não estávamos entre os países candidatos com a mão de obra mais barata.

CW – Mas se calhar considerando a relação entre qualidade de serviço e preço até estávamos, ou não?

NC – O que posso dizer é que ficámos em primeiro lugar na matriz final, na qual influenciava o custo, mas também outros factores: as leis, a qualidade de vida, o conhecimento, a agilidade na captação de talento, a formação em línguas, a localização e o espaço, os voos, a proximidade do aeroporto, entre outros.

Quando entrámos na corrida, estávamos em oitavo lugar. Ao fim de três meses de trabalho conseguimos demonstrar que em todos os factores nós éramos melhores.

Manter equidistância nas parcerias

CW – Como está a correr a parceria com a VMware, no âmbito do consórcio VCE?

NC – Os nossos parceiros têm as suas estratégias e nós  também. Somos parceiros e concorrentes.

Essa parceria continua a acontecer e estamos muito empenhados nela. Somos agnósticos para a nossa tecnologia de centro de dados, tanto para hipervisores como para fornecedores de armazenamento.

Tanto temos uma parceria com a EMC como com a NetApp.

CW – Recentemente reforçada.

NC – Mas queremos manter equidistância e as duas têm espaço.

CW – E que lacunas vem colmatar a parceria com a NetApp?

NC – O Flexspot lançado com a NetApp é uma solução dirigida para empresas com pequena dimensão mas existentes em maior número.
A plataforma VCE é mais para grandes empresas. Há mercado para as duas.

CW – Mas a parceria com a NetApp é capaz de ser mais interessante em Portugal, concorda?

NC – Se considerarmos que há mais empresas de média dimensão do que grandes, isso é verdade. Mas existem algumas empresas de grande dimensão muito importantes para nós.

“Já estiveram equipas da Cisco em Portugal para avaliar empresas portuguesas”

CW – A dada altura, a Cisco falou na hipótese de comprar uma empresa em Portugal. Isso ainda está em cima da mesa?

NC – Em todos países, a Cisco está atenta a boas oportunidades e boas empresas, constantemente. E já estiveram equipas da Cisco em Portugal para avaliar empresas portuguesas, porque também são boas. Mas não há nada em concreto.

CW – Como explica que o vosso negócio de plataformas de colaboração tenha decrescido, quando houve um enfoque tão grande nessa área?

NC – Há dois aspectos: o negócio de colaboração decresceu do ponto de vista absoluto; mas a nosssa quota de mercado desceu menos do que o negócio global.

CW – Qual é vossa visão para as redes definidas por software,  Software Defined Networks. Muitos observadores dizem que a Cisco ainda está muito agarrada ao negócio do hardware, muito centrada no portefólio Open Network Environment e numa série de APIs que pretendem implantar nas redes?

NC – A Cisco entende que as SDN têm interpretações diferentes conforme a origem dos intervenientes no mercado. Mas achamos que os clientes são diferentes face ao que procuram nas SDN para fazer o que quero da rede.

Estamos preocupados com o que os clientes querem. Procuramos trabalhar em três frentes essenciais: temos activos importantes no hardware, temos estratégia para o software, e um investimento enorme no desenvolvimento de ASICS próprios, os elementos que conferem desempenho, nas várias camadas, desde rede até aos dispositivos.

CW – O encerramento do negócio ligado à tecnologia Linksys tem um impacto muito importante para a operação em Portugal?

NC – No negócio global essa operação representava 1%, e em Portugal era essa ordem de grandeza também. E o negócio de retalho não passa por nós, está centralizado.

Reforço da aposta na gestão de BYOD

Depois de em 2012 ter desenvolvido uma aposta na satisfação de necessidades dos clientes, no âmbito da tendência, a Cisco volta a incidir nesse esforço. O fabricante diz estar a desenvolver uma abordagem holística, com unificação de políticas de segurança e simplificação de gestão assente na arquitectura Borderless Networks.

A iniciativa está a ser impulsionada por três conjuntos de desenvolvimento tecnológico:

– novos desenvolvimentos no Cisco Identity Services Engine (ISE – Dispositivo de Serviços de Identidade da Cisco) proporcionam a unificação de políticas nas redes locais (LAN) com fio, sem fio, celulares e VPN, segundo o fabricante. Os mesmos proporcionam auto-aprovisionamento dos dispositivos dos utilizadores e a integração de políticas com soluções de gestão de dispositivos móveis (Mobile Device Management);

– actualizações da infra-estrutura LAN sem fios, através da Cisco Unified Wireless Network Software 7.2, deverão oferecer mais segurança nas experiências de utilizador, em toda a rede com e sem fios, promete o fabricante. As actualizações oferecem até o dobro da capacidade de expansão para transmissão de vídeo “multicast”, e permitem que um único controlador suporte até 30 mil dispositivos, oferecendo ainda o suporte nativo ao protocolo IPv6.

Segundo a Cisco, as actualizações vão ajudar a melhorar a qualidade das aplicações de colaboração, como a Jabber e a WebEx, com vídeo em tempo real.

– a introdução das aplicações Prime Assurance Manager e Prime Infrastructure ajudará os profissionais de TI a compreender o desempenho da aplicação do ponto de vista do utilizador, diz a Cisco. A simplificação proporcionada na gestão de redes permitirá acelerar a resolução de problemas e a reduzir os custos de operação, promete o fabricante.




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