Banda larga para todos: Portugal e a Europa

Quais os diferentes caminhos que os países da UE estão a tomar para terem banda larga de elevada qualidade e quais as perspectivas para Portugal, em análise por Tim Johnson, analista-chefe da consultora Point Topic.

As metas da UE
Um dos objectivos que a União Europeia estabeleceu é ter a certeza de que todos os cidadãos podem usar banda larga super-rápida em casa em 2020, se quiserem. Um novo estudo da Point Topic para a Comissão Europeia, mostra que a Europa já está a meio caminho para essa meta. Este artigo analisa os diferentes caminhos que os países da UE estão a tomar para atingirem a banda larga de elevada qualidade para todos e as perspectivas para Portugal em particular.

Mais de 105 milhões de lares na UE já podem ter banda larga super-rápida a 30 megabits por segundo (Mbps) ou mais, se precisarem e a puderem pagar. Entretanto, a cobertura de banda larga básica está quase completa, estando disponível para mais de 95% dos 210 milhões de lares da UE.

Portugal lidera em banda larga super-rápida
Neste contexto, Portugal está a fazer muito bem nalgumas áreas importantes. Tem já quase 75% de cobertura de banda larga super-rápida (também conhecida como NGA, de “Next Generation Access” ou acesso de próxima geração), em comparação com apenas 50% para a Europa como um todo. Apesar de ser um país com relativamente baixos rendimentos, Portugal tem a quinta maior cobertura na UE, apenas superado por países mais ricos ou com uma muito maior densidade populacional. Portugal já está a três quartos do caminho para o objectivo que a Agenda Digital definiu para o conjunto da UE até 2020.

A principal razão para a liderança de Portugal é ter uma alargada rede de televisão por cabo que está agora largamente convertida para a nova trecnologia Docsis 3. Esta pode fornecer aos utilizadores dados a 100 Mbps ou mais, e Portugal tem a quarta maior cobertura de qualquer rede Docsis 3 nos 29 países do estudo, com 74%.

A banda larga por cabo é agora apoiada com extensas redes de fibra até aos edifícios (“fibre-to-the-premises” ou FTTP), totalizando 41% de cobertura. Onde a fibra vai até aos apartamentos ou casas (“fiber-to-the-home” ou FTTH) pode proporcionar velocidades ainda mais elevadas do que Docsis 3.

Uma desvantagem é que as redes de cabo e de FTTP se sobrepõem em grande parte umass com as outras dado que diferentes operadores competem para servir as rentáveis médias e grandes cidades, deixando as áreas rurais muito menos bem cobertas.

Como mostra o mapa, a Grande Lisboa, Porto e Algarve têm todas uma cobertura super-rápida a 100%. Todas as regiões com baixa cobertura estão no norte e leste com baixa densidade populacional, incluindo duas (Douro e Pinhal Interior Sul), onde o estudo não encontrou qualquer cobertura super-rápida de todo.

Estas áreas com baixa densidade populacional apresentam os maiores problemas de Portugal na realização dos objectivos da Agenda Digital, até mesmo para a banda larga básica. Apesar de Portugal relatar uma boa cobertura de banda larga básica, que é definida como o fornecimento de tão pouco como 144 kilobits por segundo (kbps), a rede telefónica em áreas rurais está finamente dispersa. Muitos ustilizadores devem estar tão longe do seu ponto de acesso que apenas conseguem DSL (banda larga pela linha telefónica) de baixo desempenho, se a houver.

Uma solução para essas áreas será preencher as lacunas com os serviços móveis, mas será melhor no longo prazo se a fibra pudee ser estendida até às áreas rurais carentes, mesmo se a última ligação para casa for sobre cobre. A tecnologia VDSL (para “Very fast DSL”) pode ser usada para fornecer banda larga super-rápida através da rede telefónica, usando a fibra até aos armários na rua e, em seguida, a linha telefónica existente para as últimas poucas centenas de metros.

Tanto quanto o estudo detectou, a VDSL não estava em utilização em linhas para o consumidor em Portugal no final de 2011, mas poderia fazer uma contribuição valiosa para completar a disponibilidade da banda larga de boa qualidade em Portugal nos próximos anos. A VDSL pode custar menos de metade do que a FTTP por agregado familiar em áreas menos densamente povoadas, pelo que é mais facilmente financiada pelas receitas dos utilizadores e faz sentido como um investimento na infra-estrutura em tempos difíceis.

Mas, apesar de alguns pontos fracos, Portugal como um todo está numa posição relativamente forte, tanto quanto a cobertura de banda larga está em causa. O país precisa de tirar o máximo dos seus pontos fortes, mais do que nunca no clima económico actual. Assegurar que as empresas têm a banda larga de que precisam é um objectivo, mas ter banda larga em casa também pode dar um contributo importante para o crescimento económico. Trabalhar a partir de casa, oferecer educação interactiva para melhorar as competências profissionais, usar a banda larga para reduzir o custo de serviços caros, como os cuidados de saúde – estas são apenas algumas das maneiras em que a realização dos objectivos da Agenda Digital podem ajudar a tornar Portugal melhor.

Estudo da Point Topic
O estudo que a Point Topic concluiu no ano passado foi concebido para medir o progresso dos objectivos da Agenda Digital em toda a Europa. Encomendado pela DG Connect, a Direcção-Geral responsável pela Agenda Digital da CE, o relatório “Broadband Coverage in Europe in 2011” ajuda a moldar as decisões sobre a política e os investimentos necessários para garantir que o ambicioso objectivo da banda larga para todos é conseguido.

O estudo é único porque, pela primeira vez, ele mapeou a disponibilidade das principais variedades de banda larga em todos os 27 países da UE (mais a Noruega e a Islândia) por província.

As tecnologias de banda larga em causa incluem tanto as que usam as linhas fixas, como DSL, cabo e FTTP, e aquelas que utilizam acesso móvel e sem fios, como HSPA, LTE e WiMAX. Esse mapeamento significou fazer estimativas sobre a cobertura de cada tecnologia em cada uma das mais de 1.300 áreas administrativas nos 29 países que vão desde a Islândia até Chipre e de Portugal à Finlândia.

Descobrir a verdade
A banda larga tem de ser mapeada desta forma detalhada para se descobrir quantas famílias podem ter acesso a ela por pelo menos uma das tecnologias. Em particular, o mapeamento é necessário para descobrir quão amplamente a banda larga super-rápida está disponível. Não é apenas suficiente descobrir a cobertura de cada tecnologia diferente e juntá-las porque as redes super-rápidas usam diferentes tecnologias que muitas vezes se sobrepõem.

Os investidores privados querem geralmente construir essas redes em áreas que serão rentáveis, o que significa que devem ter uma elevada densidade de população para manter o custo por família baixo. Em resultado disso, os lares em áreas urbanas têm muitas vezes duas ou mais redes super-rápidas para escolher, enquanto os habitantes de zonas rurais não têm nenhuma.

Por exemplo, juntas, as três principais tecnologias super-rápidas (cabo Docsis 3, VDSL e FTTP) cobririam 70% da Europa. Na verdade, por causa da sobreposição, atingem apenas 50%. Ao mapear província a província, e tendo em conta as distinções entre as áreas urbanas e rurais, tem-se uma primeira aproximação em que essa sobreposição ocorre e não ocorre.

Tal mapeamento também revela quanto maior o fosso digital está nas áreas rurais, especialmente quando a banda larga super-rápida está em causa. 78% das casas rurais da UE têm acesso à banda larga padrão, mas apenas 12% – 5 milhões – têm NGA disponível. Assim, 35 milhões dos 40 milhões de domicílios rurais na Europa estão à espera que chegue banda larga super-rápida. Fazê-lo exigirá um esforço e investimento consideráveis.

As tecnologias que funcionam
O estudo também mostra a importância relativa das tecnologias de banda larga individuais. A DSL, a tecnologia para fornecer banda larga através das linhas telefónicas, é de longe a mais amplamente disponível tecnologia de banda larga fixa na Europa, com cobertura de 92% dos lares. O cabo de banda larga “standard”, fornecido pelas redes de TV por cabo, surge em seguida com 42%. WiMAX, a nova geração de banda larga sem fios, oferece uma solução através de antenas fixas para menos de 15% do mercado europeu. Todas elas se sobrepõem extensivamente para que, em conjunto – o que o estudo chama de cobertura padrão total (ou “Total Standard Coverage”) – atingem 95,7% dos lares europeus.

Olhando para as tecnologias NGA tem-se um quadro ainda mais surpreendente. Ao contrário de uma impressão generalizada, são as redes de TV por cabo que lideram em disponibilizar velocidades super-rápidas para os lares europeus. O Docsis 3, a mais nova norma de banda larga por cabo, pode entregar 100 Mbps ou mais sobre os tradicionais cabos coaxiais. Ele foi implementado rapidamente nas redes de cabo da Europa e agora é, de longe, a mais importante tecnologia super-rápida com uma cobertura de 37%.

A VDSL fornece banda larga super-rápida através das linhas telefónicas. Isto é favorecido pelas operadoras incumbentes que detêm as linhas telefónicas. Ela generalizou-se rapidamente para chegar a 21% dos lares europeus no final de 2011.

Entretanto, a FTTP, apesar do alto nível de atenção que atrai, atingiu apenas 12% dos lares da Europa. A FTTP tem uma capacidade quase ilimitada em termos das velocidades de banda larga que pode entregar, até 1.000 megabits (1 gigabit) e mais, o que lhe dá uma vantagem imbatível aos olhos dos seus entusiastas. As suas desvantagens são que é geralmente – não sempre – muito mais cara para instalar do que as tecnologias rivais, enquanto o mercado ainda não desenvolveu uma procura “must-have” para as velocidades mais elevadas que pode proporcionar. Os objectivos da Agenda Digital para 2020 podem ser largamente atendidos ao depender de Docsis 3 e de VDSL embora a FTTP seja importante em casos especiais – como a alta densidade habitacional – e onde uma infra-estrutura completamente nova seja necessária.

Quanto à banda larga móvel, a HSPA – a versão mais recente do 3G com capacidade de banda larga de multi-megabits – cresceu rapidamente para 95% de cobertura. Está à frente da DSL e tem quase tantas casas passadas como todas as tecnologias de banda larga padrão combinadas. Na outra extremidade da escala, o LTE é ainda muito recente, com menos de 9% de cobertura. A tecnologia de banda larga de quarta geração tem a capacidade de oferecer velocidades super-rápidas para os utilizadores finais, mas ainda não está claro exactamente qual o papel que terá no mercado ou o quão longe se vai espalhar a sua cobertura.

Onde o objectivo já está alcançado
Proporcionar o acesso universal à banda larga super-rápida é certamente um dos mais importantes objectivos da Agenda Digital e o mapa de cobertura actual mostra como é ambicioso.

O mapa mostra apenas onde os europeus mais ricos e mais urbanizados vivem. O Vale do Reno, os Países Baixos, as grandes cidades e áreas urbanas da Escandinávia, Inglaterra e França já têm uma cobertura super-rápida bem acima da média de 65% ou mais. Mas grandes áreas da Europa Oriental e da Península Ibérica também estão acima da cobertura média. Aqui, as redes super-rápidas foram lançadas para chegar a áreas que estavam mal servidas por redes de telecomunicações no passado. Até agora, estas redes também estão na sua maioria em cidades e subúrbios.

A distribuição das áreas com cobertura bem abaixo da média (menos de 35%) também é surpreendente à primeira vista. A maioria dessas áreas estão em três dos maiores países da Europa – Itália, França e Reino Unido. Quase tudo o resto está na Grécia ou as partes mais remotas da Finlândia.

Aqui a situação é o inverso da Europa Oriental. A Itália, França e Reino Unido herdaram boas redes telefónicas de cobre que são capazes de fornecer, pelo menos, os serviços básicos de banda larga DSL em praticamente todos estes países. Mas isso significa que, pelo menos até agora, o incentivo económico para a implantação de novas redes tem sido relativamente fraco. Os potenciais clientes já têm banda larga adequada e estarão relutantes em pagar um adicional necessário para financiar a actualização para serviços super-rápidos. Um grau de intervenção activa do governo será necessário para preencher a lacuna de financiamento e isso já está a começar a fazer efeito.

Somando os números dos países
Três dos países estudados já têm 100% de cobertura de banda larga super-rápida, ou próxima – Holanda, Bélgica e Malta. São os três países mais urbanizados da UE e todos têm uma cobertura quase total por redes de cabo e ampla disponibilidade de VDSL, também. Com um legado tão forte, prestaram relativamente pouca atenção ao desenvolvimento das redes FTTP, embora haja alguns exemplos de ponta na Holanda.

Outros 13 países podem ser classificados no grupo “acima da média”, com cobertura super-rápida de 60% a 75%. Estes são uma mistura de países altamente desenvolvidos com relativamente grandes áreas rurais e os países menos desenvolvidos da Europa de Leste e da Península Ibérica, que estão a abraçar as oportunidades das redes de novas tecnologias super-rápidas mais entusiasticamente. O primeiro grupo inclui Luxemburgo, Finlândia, Áustria e Dinamarca, todos ricos mas relativamente rurais, enquanto o segundo integra a Bulgária, Eslovénia, Eslováquia, Lituânia, Estónia e Letónia, mais urbanos, em média, do que os outros membros do antigo bloco comunista.

A Alemanha, um país que permanece neste grupo, é um caso especial. A maioria das províncias densamente povoadas e prósperas ocidentais têm redes super-rápidas, mas as do leste ainda carregam o legado do subdesenvolvimento da era comunista com cobertura de banda larga na sua maioria abaixo da média em todas as velocidades.

O terceiro grupo compreende 10 países com uma cobertura super-rápida em torno da média do estudo de 50,1%, variando entre dos 36% a 58%. Este grupo da “média” é uma mistura completa, incluindo três dos países nórdicos (Noruega, Suécia e Islândia), quatro da Europa Oriental (Hungria, Roménia, República Checa e Polónia), e três da Europa Ocidental (Reino Unido, França e Irlanda).

Finalmente, há três países com baixa cobertura super-rápida até à data: a Itália, com 11%, a Grécia, com 4%, e o Chipre com praticamente nada no final de 2011. De facto, é provável que o Chipre salte na escala em 2012, à medida que a sua extensa rede de cabo passa para Docsis 3. A Itália e a Grécia, por outro lado, não têm a vantagem do cabo e enfrentam um processo relativamente lento e caro para se aproximarem do objectivo da Agenda Digital.




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