Numa análise a um relatório da McAfee sobre hacktivismo, John E. Dunn, da Techworld, conclui que este tipo de movimento tem de amadurecer rapidamente ou acabará descredibilizado – ou pior…
O hacktivismo é um movimento amorfo que pode agora estar a esconder um leque de motivações mais obscuras como a criminalidade e o “phishing” patrocinada pelos Estados, sugere uma análise do fenómeno pela McAfee.
“Hacktivism: Cyberspace has become the new medium for political voices”, por François Paget, é longo na descrição das suas várias vertentes, mas não tem certezas – como a maioria das análises – de cujos interesses pode estar a servir. No entanto, há algumas pistas que vale a pena ter em atenção.
Esta análise aberta divide o hacktivismo em três campos: os que procuram publicidade, como os Anonymous, “ciberguerreiros” politicamente motivados de países como o Irão, China e Rússia, e os “ciberocupantes”, os “verdadeiros” activistas que tentam construir movimentos mais concretos através da co-operação.
Como todas as descrições, esta é abrangente e menciona a formação a 12 de Setembro de 1981 do famoso Chaos Computer Club, em Berlim, que marcou os primeiros sinais do idealismo digital.
Quanto a 2012, Paget, da McAfee, não está muito convencido de que os Anonymous não são outra coisa senão um guarda-chuva que parece capaz de cuspir o estranho grupo de “jokers” como os LulzSec.
Mais significativos são os ciber-dissidentes do descontentamento social, como na Primavera Árabe, mas a sua existência trouxe forças novas e preocupantes de contra-acção, particularmente aquelas com algo a perder, principalmente os governos.
O perigo é, talvez, o de cair na armadilha de tomar o hacktivismo pelo seu valor. Independentemente das suas motivações, uma razão pela qual isto acontece é simplesmente porque pode. A retribuição é tida como improvável, o anonimato é muito mais fácil do que com uma actividade fora da Internet e a publicidade é garantida. O hacktivismo é deprimentemente barato.
Alguns argumentam que o custo idealista para os activistas – os ciberocupantes dissidentes – é que o mundo fica muito habituado ao hacktivismo. Os mediáticos ataques DDoS de ontem ou a irritante modificação ilegal de páginas Web tornam-se o protesto normal de hoje, como os ovos atirados aos CEOs das empresas da Fortune 500 quando saiem dos seus SUVs nas assembleias de accionistas para os flashs das câmaras.
Paget pode discordar – o perigo real é que o hacktivismo é oco por dentro, por aqueles que o querem explorar e subverter. As pessoas não param de ouvir tanto como param de concordar.
“[A] aparente aleatoriedade do propósito sugere que alguns indivíduos estão, talvez, a fazer jogo duplo, escondendo actividades ilegais sob a capa do hacktivismo político. Hackers “white-hat” salientam que a falta de ética em muitas operações sugerem que alguns hacktivistas podem ser controlados pelos serviços secretos de governos”, conclui Paget.
“Se os hacktivistas permanecem desfocados e continuam a aceitar qualquer nova pessoa para agir em seu nome, podemos estar à beira de uma guerra civil digital. Todo o movimento hacktivista pode ser vítima de um aumento na criminalização”.
Pensativo, Paget sugere que, apesar das suas actividades aleatórias e ilegais, ainda não deitámos fora as ideias centrais de um movimento. O perigo, de facto, é que outros sequestrem o seu nome. O hacktivismo pode ser, no seu melhor, activismo em formato digital, mas precisa de amadurecer rapidamente ou enfrentar o poder ser desacreditado – ou pior.