A falta de capacidade da Google em aprender com os erros dos outros pode estar a preparar o seu fracasso, alega Rob Enderle, presidente e analista-chefe do Enderle Group.
Recentemente li um texto interessante escrito por um funcionário da Microsoft que deixou a companhia para se juntar à Google e depois regressou após descobrir que a erva não era tão verde do outro lado da cerca. A Google é bem conhecida por fornecer um dos melhores ambientes de trabalho do mundo, mas como muitas empresas que têm sido reverenciadas de forma similar, parece estar eliminando esse ambiente, pelo menos de acordo com esse texto. Tudo isto soou muito familiar e vejo na Google uma repetição de todos os erros catastróficos cometidos pela IBM, Apple, Microsoft, Netscape, Sun e Yahoo nalgum momento da história dessas empresas.
Deste grupo, a Microsoft sobreviveu, a IBM está quase restaurada e a Apple, na realidade, tornou-se maior do que nunca, sugerindo que o padrão não precisa de ser terminal. Mas a Sun, Netscape e possivelmente o Yahoo ilustram que esse pode ser certamente o fim de empresas que um dia foram bem sucedidas. Vamos espreitar como a falta de capacidade da Google em aprender com os erros dos outros está a preparar o palco para o seu fracasso.
O blogue Microsoft-Google-Microsoft
Várias vezes na minha própria carreira eu poderia ter escrito algo similar ao “post” que descreve como a Google perdeu a sua forma. Ele conta a triste história de uma companhia que se iniciou fundada com pó de fada e sonhos e que, de repente, teve de enfrentar duas realidades: perder o foco e começar a ficar obsoleta pelo Facebook. O que é interessante é que o escritor, James Whittaker, deixou a Google e depois voltou para a Microsoft. Imagino que isto seja devido ao facto de a Microsoft estar num estado estável, enquanto a Google está em transição – e transições são incrivelmente dolorosas e desmotivadoras, principalmente quando elas surgem à custa de queridos direitos.
Whittaker também conta a história de uma companhia que perdeu a sua essência e que tem a necessidade desesperada de ser vista como bem sucedida. Uma companhia que interpretou errado o conselho de Steve Jobs sobre ter foco e simplicidade. A Google está simplificando e focando-se nas pessoas, o que é algo consistente ao conselho de Jobs, mas parece ter pulado a parte sobre decidir no que são bons e se focarem nisso. A Google ainda parece estar atrás da Microsoft, Apple ou, nesse “post”, do Facebook.
A IBM agora está mais focada
Quando passei por um problema semelhante pela primeira vez, eu era um analista interno da IBM. A companhia dominava o mercado da tecnologia e estava operando sob o modelo que actualmente conhecemos por SaaS. De facto, era ainda mais avançado. Tudo era basicamente serviço. Líderes corporativos viram os computadores pessoais emergirem e a Apple crescer como uma ameaça. Responderam a essa ameaça através da criação do IBM PC e da formação de uma parceria com a Microsoft para formar um bloqueio à Apple e então viram a Sun aparecer e decidiram sacrificar a estrutura principal no altar da computação cliente-servidor. Depois, identificaram a Microsoft como uma ameaça e decidiram fazer software terceirizado com a plataforma OS/2.
Cada tentativa de se tornar outra companhia enfraqueceu a IBM a um ponto onde a empresa quase foi à falência. Agora que a IBM mudou as suas engrenagens e se está focando em ser a melhor IBM que pode ser, sem tentar parecer ser a Google ou o Facebook, as suas acções estão a ser negociadas pelo valor mais alto de sempre.
A Microsoft ainda encara desafios
A próxima da lista é a Microsoft, à qual o sucesso foi ligado à terceirização do software. Os engenheiros de hardware nunca entenderam realmente o software e a grande ideia da Microsoft foi a de fornecer serviços terceirizados. Primeiro fizeram-no para a Apple e depois para a IBM. O que, eventualmente, resultou no Windows. Contudo, a IBM ficou preocupada por estar a ter o seu lugar ocupado pela Microsoft, e então as duas companhias entraram em guerra. A Microsoft começou a vender directamente para as organizações.
Depois, a Microsoft viu a AOL como uma ameaça e criou o MSN, mas faltou a parte nele da Web e foi emboscado pelo Netscape. No processo, a Microsoft perdeu o foco nos utilizadores e nos OEMs. Começou a preocupar-se com o facto de a Sony estar a planear transformar a PlayStation num PC e então criou a Xbox, o que mais tarde alienou os OEMs e, basicamente, acabou com o negócio dos jogos de computador.
Finalmente, a Google chegou e a Microsoft gastou milhões a tentar ser melhor do que a Google. Mas a Microsoft não pareceu entender o modelo central da Google. O modelo uma vez imbatível de software terceirizado para a plataforma Windows já não era tão imbatível. A Microsoft continua, mas os OEMs que inicialmente fizeram a companhia imbatível estão agora a usar a Google, e a Microsoft perdeu o seu lugar no campo dos smartphones e tablets.
A Apple, que já esteve perto do seu fim, está agora mais forte do que nunca.
A Apple, que começou como uma empresa de computadores pessoais, teve o seu lugar inicialmente ocupado pela Commodore, que se focava melhor no cliente, e quase ia acabando ao tentar ser uma melhor fornecedora de computadores para empresas. Após perder Jobs, a Apple pareceu ter-se perdido, primeiro ao tentar ser como a Compaq, Sony ou HP e depois a Microsoft. A companhia expandiu massivamente as suas linhas de hardware e depois aventurou-se em softwares terceirizados através do licenciamento com o MacOS.
A Apple estava apenas a meses de distância de falir quando Jobs voltou. Ele reconcentrou a empresa nos negócios voltados para os clientes de computadores e então, prevendo que o crescimento do PC estava a diminuir e reconhecendo que acertaria a Microsoft no seu ponto fraco, passou para o entretenimento. O novo foco nos clientes e na excelência permitiu que a companhia recriasse a sua própria imagem. A Apple é a única empresa que, após perder o seu foco, emergiu mais forte do que na sua melhor época.
Netscape culpou a Microsoft erradamente
O Netscape foi o primeiro exemplo do que acontece ao esquecer a sua essência. O Netscape era a Internet e, quando as pessoas inicialmente começaram a usar a Web, todas utilizavam um produto Netscape. Mas o Netscape não conseguiu entender como fazer o que a Google eventualmente viria a fazer mais tarde: monetizar a Web da forma correcta. Em vez disso, a empresa decidiu focar-se em eliminar a Microsoft.
Milhões de dólares foram gastos por muitas companhias nas últimas três décadas neste esforço de derrubar a Microsoft – mais do que qualquer outra estratégia fracassada -, e isso ocorreu com quase todas as empresas. O que é fascinante é que quando se conversa com um ex-executivo do Netscape, ele irá muitas vezes dizer que a empresa saiu dos negócios pela Microsoft, a qual, numa briga similar com a Google, não tem tido muito sucesso. Cada grande fracasso levou a uma decisão tomada pelos executivos do Netscape que era ligada, em grande parte, a algo que não tinha nada a ver com o seu domínio da Internet.
O sol pôs-se para a Sun quando tentava ser a Microsoft
A Sun protagonizou algo similar ao efeito que a Google teve para a Microsoft com a IBM. A companhia foi, em grande parte, responsável por fazer a IBM esquecer o seu modelo de sucesso e quebrar a sua fórmula. Mas pouco depois, a Sun fixou-se na Microsoft, criando uma estratégia que ‘comoditizava’ a indústria, ainda que não fosse conseguir sobreviver num mercado de “comodities”. Resultado: a Sun causou uma quantidade significativa de danos à Microsoft mas, durante esse processo, faliu.
A Sun foi um dos exemplos mais catastróficos do que ocorre quando uma empresa esquece o seu propósito e se foca excessivamente no modelo de outra. Na realidade, a Sun deveria ter entendido que ela não era uma concorrente directa da Microsoft e sim ter identificado a IBM, HP e a crescente Dell como as suas rivais primárias. A Sun estava em guerra com o modelo de terceirização que a Microsoft representava mas, em vez de seguir os passos da Apple e focar-se em concluir soluções e ser proprietária das mesmas, a Sun tentou transformar-se na Microsoft e foi paralisada no meio dessa transição.
Yahoo: a história mais triste de todas
Talvez a companhia que mais esteja a sofrer seja o Yahoo. Possuía redes sociais antes de começarmos a chamá-las de redes sociais. Ainda mais triste é o facto de que a AOL e a Compuserve (que se fundiram) também as possuíram, antes do Yahoo. O Yahoo fascinou-se pelo Google, empresa na qual o Yahoo pôs um grande investimento. Mas em vez de alavancar a parceria e reconhecer que o Yahoo estava mais perto do objectivo de fornecer publicidade de alto valor do que a Google (dado o envolvimento mais acentuado dos clientes), os executivos da companhia foram atrás do objecto brilhante para lá da Google e o perseguiram.
É irónico que o Facebook seja hoje a maior ameaça à Google e tanto a Microsoft quanto o Yahoo não tenham sido nada além de um estímulo que manteve a Google focada nas pesquisas. De facto, pode argumentar-se que caso as duas empresas tivessem evitado o negócio da pesquisa, a Google teria-se tornado tão regulada como óbvio monopólio e vulnerável a avanços na tecnologia que não teria notado.
Tendo a lição com os erros do Netscape, é provável que se o Yahoo e a Microsoft tivessem ambas permanecido nas suas respectivas áreas de competência, a Google teria apanhado ambas – o Yahoo nas receitas publicitárias e a Microsoft nas plataformas e software.
Agora, o Yahoo perdeu tanto a sua essência completamente e foi forçado a processar o Facebook por uma tecnologia que já não utiliza. Em vez de ser uma fornecedora dominante de redes sociais, a empresa é agora um exemplo patético do que acontece quando se esquece quem é.
A Google em negação, à beira do precipício
A Google está no negócio da publicidade e ainda assim parece estar nalgum tipo de estado de negação. Todo o seu foco devia estar centrado em encontrar maneiras de tornar os anúncios na Internet mais rentáveis e em ser a fonte primária de gestão de receitas de anúncios para todos. A sua fórmula vencedora estava a monetizar a Web, constituída na verdade por um super conjunto de anúncios. Mas é claro, institucionalmente, que a Google está em negação sobre a fonte real do seu sucesso.
A Google devia ter trabalhado para ter a Microsoft e o Facebook como seus parceiros, não concorrentes. A julgar pelo blogue do ex-funcionário da Google que nos trouxe aqui, a Google parece estar a deixar a ideia de se tornar numa Microsoft e tentar ser o Facebook, fracassando nesse processo.
O que é particularmente triste é que a Google parece ter vindo para o mercado com a ideia de ser uma anti-Microsoft, com a percepção implícita de que a gigante do software era uma força do mal. Hoje, quando se pesquisa pelas duas empresas, encontram-se possivelmente referências nos últimos cinco anos que denunciam que a Google está a fazer mais coisas más do que a Microsoft.
Essa pesquisa sugere que nas melhores universidades (e a Google só contrata nas melhores), eles simplesmente não ensinam muita história e, possivelmente, aparentam focar-se em dizer mal de quem está no poder, o que indica que a próxima geração possivelmente sairá da faculdade a querer acabar com a Google, tal como a geração do Google saiu a desejar destruir a Microsoft, que por sua vez teve uma geração que entrou no mercado querendo ficar com o lugar da IBM.
Será que o Facebook pode evitar os mesmos erros?
Dada esta tendência, o Facebook pode parecer ser a próxima empresa a cometer o erro de esquecer a sua essência e focar-se excessivamente noutra companhia. A Pinterest começou a emergir como uma desafiante à coroa e, enquanto a Pinterest está no espaço do Facebook, seria tolice tentar ser uma Pinterest melhor – se isso significasse abandonar tudo pelo que o Facebook já é conhecido. Para já, não há indicação de que o Facebook esteja a cometer esse erro mas, dado o histórico de outras empresas, é fácil imaginar que ela eventualmente o fará, seja para ir atrás da Pinterest ou de alguma outra companhia.
Três passos fáceis para destruir uma empresa
A lição? Parece existir um caminho bem definido sobre como destruir uma empresa de sucesso. Tudo começa por dentro, com a companhia a esquecer a sua essência ou a deixar de entender a fórmula que criou o seu sucesso em primeiro lugar. Segue-se um foco excessivo no concorrente, o que faz a empresa competir com aquele novo concorrente na zona de conforto do mesmo. Tudo isso termina com uma série de esforços mal executados e cada vez mais desesperados para se tornar na companhia que tanto os assusta.
Reciprocamente, existem três passos fáceis para garantir o sucesso. Conheça a sua fórmula para o sucesso e proteja-a. Concentre-se no objetivo – o cliente –, não no competidor. E tente ver para onde o mercado está a caminhar e chegue lá antes, o que normalmente significa que precisará de guiar o mercado para aquele objectivo.
A IBM e a Apple representam o que pode acontecer quando executivos esquecem a essência e, mais recentemente, elas são índices de como competir num mercado que muda constantemente.
Seria sábio para os executivos actuais, particularmente aqueles da Google, darem um passo atrás e decidir se querem ser a próxima IBM ou Apple ou a próxima Netscape ou Yahoo.
Eu sei em qual dos lados gostaria de estar, ainda assim continuo a surpreender-se com o número de executivos que estão a ter estratégias que os colocam no caminho mal sucedido.
Como naquele antigo ditado, aqueles que não aprendem com a história estão condenados a repeti-la. Pode parecer que, a menos que algo mude, este possa ser o epitáfio da Google.
No centro deste padrão estão os conceitos de predisposição de confirmação, a noção de que favorecemos raciocínios que confirmam as nossas crenças e uma armação para explicar porque o raciocínio muitas vezes resulta em decisões irracionais. Mal se entenda isso, poderá explicar-se porque os executivos cometem esses erros repetidas vezes.
(Infoworld/IDG Now!)
Meu caro é ridiculo como com base em alguem que sai da Google voçe constroi toda uma argumentaçao sobre o fim da Google. Estava a espera que a pessoa que saiu dissesse o que? Enfim…