Vírus informáticos podem saltar para o mundo biológico

Segundo investigadores, semelhanças entre vírus humanos e informáticos podem levar à criação de código baseados em DNA.

Hackers podem criar um malware capaz de cruzar a linha que separa a tecnologia da biologia, desenvolvendo um vírus que pode espalhar epidemias perigosas, disseram investigadores na conferência Black Hat Europe.
“Estamos realmente na fronteira entre vivos e não-vivos”, disse Guillaume Lovet, gestor sénior de pesquisa de ameaças da Fortinet, durante uma palestra para discutir as semelhanças entre vírus biológicos e de computador.
A comparação foi para dar aos investigadores de segurança uma melhor compreensão porque o sistema imunológico humano é muito melhor na batalha contra os vírus do que os softwares antivírus.
“Pode soar como um cenário para um mau filme de Hollywood, mas não é uma pergunta tão estúpida”, disse Lovet.
Um dos principais itens que levaram os investigadores a esta conclusão é a semelhança entre os vírus. Em essência, comportam-se da mesma forma, incluindo a informação que instrói o comportamento parasitário dentro de um hospedeiro.
Dentro desta linha de pensamento, um ataque de negação de serviço (DDoS) pode ser comparado ao HIV, pois ambos visam a sobrecarga de um sistema, disse Ruchna Nigam, investigador de segurança na Fortinet.
Há outras comparações entre os vírus de computador e o HIV. Este ataca o sistema imunológico, tornando os humanos mais vulneráveis a determinadas doenças. Os de computador, como o W32/Sality, também usam esta estratégia, fechando os antivírus e autorizando um programa malicioso dentro da firewall do Windows.
Uma pessoa ser contaminada ao visitar um médico não é um cenário impensável, disseram Lovet e Nigam. Da mesma forma, os computadores podem ser infectados ao visitar um site e fazer o download de um malware automaticamente. “Foi assim que o troiano Zeus construiu uma botnet com 3,6 milhões de máquinas só nos EUA”, observaram Lovet e Axelle Apvrille, outro investigador da Fortinet, num estudo.
Mutações
Vírus biológicos, tais como o da gripe, também são conhecidos por sofrerem alterações após a sua replicação. Este comportamento é comparável ao do Conficker e Koobface. É um pesadelo para os analistas de segurança, porque cada amostra replicada é significativamente diferente da antecessora. Isso pode tornar as assinaturas de antivírus, criadas para detectarem os vírus, praticamente inúteis.
Uma diferença importante entre estes vírus polimórficos é que o malware apenas muda de forma. “Só o empacotamento é alterado, o código não é reescrito”, disse Nigam.
Vírus como o Conficker também são conhecidos por se incubar, aninhado-se em sistemas antes de atacar – o que é comparável à gripe. “Estas ideias são tiradas do mundo físico”, disse Nigam.
Existem diferenças entre os vírus biológicos e os de computador, claro. Se alguém escrevesse o vírus da gripe em código, o arquivo não seria maior do que 22 KB. Os vírus informáticos são muito maiores e mais avançados. Os vírus biológicos não são capazes de implementar técnicas de criptografia. Isso é muito bom, porque os remédios teriam graves dificuldades para eliminar tais variações.
No entanto, Lovet especula que eles podem convergir no futuro. A maioria dos vírus humanos são essencialmente código DNA ou RNA, que contêm instruções genéticas essenciais para todos os organismos vivos conhecidos. “Em poucas palavras: um vírus biológico é a informação para o comportamento num hospedeiro”, dizem os investigadores. Os malwares são essencialmente a mesma coisa.
A fronteira entre o digital e o mundo biológico já está a desaparecer, disseram os investigadores, citando as ciberpróteses como exemplo. Algumas pessoas têm vários dispositivos electrónicos no corpo, como ‘pacemaker’, estimuladores cerebrais profundos e implantes cocleares, lembraram.
Assim que estes dispositivos comuniquem com um equipamento externo, o que acabará por ser necessário nalgum momento, eles tornar-se-ão, em tese, vulneráveis a malware.
Bioterrorismo
Em 2002, alguns cientistas foram capazes de sintetizar o vírus da poliomelite. Desde então, a biotecnologia avançou, tornando possível sintetizar bactérias e organismos que são geneticamente modificados quase todos os dias, disseram os investigadores. Além disso, todo o código para um DNA sintético está em computadores.
“O software usado no sequenciamento do DNA de um organismo vivo, e as bases de dados onde estão os códigos para essa sequenciação, provavelmente não estão livres de vulnerabilidades”, dizem os investigadores.
Mas se é possível fazer um vírus com sequências maliciosas de DNA que poderiam, uma vez transcritas em bits, explorar essas vulnerabilidades, isso ainda não foi feito. Usar um vírus codificado para afectar a biologia humana para fins militares é altamente improvável, uma vez que a sua disseminação seria muito difícil de controlar. Libertar um vírus destes pode ter efeitos inesperados e infectar o próprio exército do país atacante. No entanto, os bioterroristas podem estar interessados em ataques baseados em tais vírus, disse Lovet. “E isso é um pensamento muito assustador”.
(IDG News Service/IDG Now!)




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