A SAP diz que pretende aproveitar a base de dados open-source e conjugá-la com as facilidades da sua appliance HANA, para proporcionar um melhor retorno. É o que diz Steve Lucas, director-geral do fabricante para Business Analytics & Technology.
“Nunca” será uma palavra muito forte, mas indica a atitude da SAP face à presença da base de dados open-source Hadoop nos sistemas de informação de um cliente. Segundo o director-geral da SAP para Business Analytics & Technology, Steve Lucas, em vez de substituí-la, será mais proveitoso conjugar as suas reconhecidas capacidades, com a High-Performance Analytics Appliance (HANA): baseada em tecnologia “in-memory”, esta tem sido promovida como sendo um marco de inovação, e fundamental para revitalizar o negócio da SAP. A Hadoop tem ganho forte protagonismo como plataforma capaz de suportar a avalanche de dados, à qual estão cada vez mais sujeitas muitas empresas.
Em entrevista para o Computerworld, Steve Lucas não deixa de defender a sua “dama”. Veio a Portugal falar dela a parceiros e a um cliente , do sector da “construção civil”. E mesmo admitindo que a plataforma não está preparada para todos os sistemas críticos, define um prazo claro para isso acontecer: fim de 2012 ou princípio de 2013.
Computerworld – Qual é a razão da sua visita?
Steve Lucas – Vim falar a potenciais clientes sobre a HANA
CW – Que organizações em concreto?
SL – Não posso revelar nomes, mas digo-lhe de que falei como uma empresa de construção civil. E também falei com um grande parceiro da SAP.
CW – Falaram mais de projectos de cloud computing ou de projectos de âmbito mais interno?
SL – De ambos. Falei-lhes da HANA em geral, mas a questão da cloud computing é hoje inevitável. O estado da economia é um factor importante para esta questão.
CW – Face à crise economico-financeira os clientes olham para a HANA já de uma perpectiva de cloud computing, ou ainda segundo um modelo tradicional?
SL – Bom a nossa solução HANA na cloud disponibiliza basicamente infra-estrutura de cloud computing para se ter a HANA. Mas a maioria dos clientes ainda tem de lidar com leis que impedem a colocação de dados, por exemplo financeiros, numa plataforma de cloud computing. Muitos clientes estão a olhar para a appliance como uma forma de consolidarem a sua infra-estrutura.
CW –A tecnologia “in-memory“ ainda é vista por muitos observadores na indústria das TI como sendo demasisado cara e imatura. Que comentário faz a isso?
SL – A tecnologia “in-memory” pode ser nova para muitos , mas não para nós. Estamos a desenvolver soluções com a HAA há oito anos.
CW – Mas a conjugação com a cloud é nova.
SL – Sim é verdade, Mas acho que a HANA representa a tempestade perfeita. Olhando para tecnologia da HANA ela seria impraticável há uns anos: um servidor normal teria 2 CPU e perto de 16 GB de RAM. Hoje têm 8 CPU e podem ser expandidos até aos 2 TB de RAM. Num servidor HANA é possível ter 4 e 8 TB em RAM. Torna-se prático armazenar dados na memória física do servidor e é pouco custoso. Os preço dos discos caíram muito e os de RAM estão seguir o mesmo caminho.
HANA não tem a ver apenas com a tecnologia de base de dados “in memory”. Com o sistema podemos consolidar muitos outros, as base de dados, os sistemas OLAP, repositórios colunares, num só sistema de forma a reduzir a quantidade de hardware e de gestão.
CW – Mesmo assim há responsáveis do sector a questionarem-se sobre se não é demasiado cedo para as empresas, adoptarem hardware de armazenamento de tecnologia SSD.
SL – Não nego que seria útil ter armazenamento em hardware SSD. Com o mesmo modelo de dados seria mais rápido aceder a eles. Mas com tecnologia de “in memory” há um aspecto muito diferente . Podemos ter uma grelha muito grande de dados armazenados num sistema de informação e não é necessório ter grandes precupações com modelos, e com a estrutura dos dados. Obter-se-á melhor desempenho das memórias RAM também.
CW – Mas usando bases de dados colunares também se resolve o problema.
SL – Contudo nesse caso é preciso fazer a re-modelagem dos dados. E no HANA posso ter uma situação mais simples, sem ter de comprar uma base de dados colunar. E do ponto de vista da optimização há benefícios em termos de BI, porque toda essa parte foi desenvolvida para funcionar directamente sobre a HANA: tanto em termos de dados, camada de semântica, estrutura OLAP e depois os relatórios. Nós criámos os modelos da HANA com a base de dados integrada. É um repositório colunar, mas também se pode ver os dados de múltiplas dimensões, e assim posso criar hierarquias superiores. E significa poder ter um software cliente Hana num portátil a ligar directamente à base de dados, sem haver camada semântica. Simplificámos a arquietctura, não é preciso SQL , Hyperion, e mais o BI.
CW – Com que facilidade é possível implantá-la?
SL – Se eu vendesse hoje a HANA teria de ser instalado em hardware comprado separadamente. Mas estamos a trabalhar em projectos onde nós colocamos hardware e software juntos e quando se compra o hardware, vem tudo preconfigurado. Quando fornecemos o software ele vem com o sistema Suse Linux preconfigurado com o Hana e demora meio dia a ser instalado e configurado. Mas a modelação dos dados é o que custa mais.
CW – Mas se não é preciso mudar o modelo dos dados…?
SL – Bom, veja o caso da Red Bull: eles estão a correr o sistema Business Warehouse sobre a HANA e eles precisaram de duas semanas, para o projecto todo. Não tenho bem a certeza, mas julgo que demoraram dois dias a migrar a sua base de dados, mas não fizeram quaisquer alterações aos modelos de dados. Mas é onde o trabalho mais pormenorizado começa.
CW – Procuram parceiros portugueses para esta iniciativa de cloud computing baseada na HANA?
SL – Sim, especialmente em Portugal.
CW – Mas e já encontraram esses parceiros?
SL – Tive hoje as primeiras conversas com uma empresa. Mas a equipa da SAP já teve muitas conversas com a comunidade de parceiros portuguesa, embora não só especificamente sobre a HANA em cloud computing.
CW – Mas vão ter uma infra-estrutura de cloud em Portugal em Espanha ou na Europa para lidar com os constrangimentos regulatórios de armazenamento de dados?
SL –Nós temos uma infra-estrutura de cloud específica da região EMEA. Outra para as Américas e outra para a região da Ásia Pacífico.
Com a HANA teremos uma infra-estrutura para aplicações de cloud pública. Mas hoje se uma empresa quiser colocar os seus dados numa aplicação de cloud, provavelmente recomendaríamos uma versão mais tradicional, mais privada.
CW – E quando na cloud computing?
SJ – Quando começarmos a lançar as nossas aplicações em versão de cloud pública é porque teremos resolvido os problemas regulatórios. Deveremos fazê-lo ao longo do primeiro trimestre de 2012.
“É caro comunicar com a Hadoop”
CW – Como estão a lidar com a Hadoop?
SJ – Estamos a lidar com a Hadoop em vários âmbitos. A Hadoop consegue a armazenar dados na ordem dos petabytes e o que queremos é ligar a HANA a essa plataforma, e trazer gigabytes ou terabytes de informação para a HANA. São os que me interessam analisar verdadeiramente em rempo real. A forma como extraio informação pode ser assustadora. Por vezes preciso de um programador para desenvolver inquirições do tipo “map reduce” e preciso de desenvolver um “cluster” para analisar os dados. Colocando a HANA no meio e usando as nossas ferramentas de integração, capazes de proporcionar uma comunicação mais fácil com a Hadoop poderemos suportar uma infra-estrutura mais ágil. Mas nunca substituíremos a Hadoop num cliente.
CW – Mas haverá mesmo retorno na utilização da HANA sobre Hadoop considerando o preço da primeira? A Hadoop acaba por ser barata dizem as empresas.
SJ – É barata, mas não é rápida.
CW – É mesmo assim?
SJ – Sim. A Hadoop é gratuita, mas para fazer “queries” nela é difícil.
CW – É preciso fazer as perguntas certas?
SL – Sim, é preciso saber exactamente quais as perguntas a fazer. E com a HANA pode-se colocar qualquer questão. Nós recomendamos que as empresas mantenham a Hadoop pela sua grande capacidade de armazenamento e usem a HANA para interagir com os dados. É caro comunicar com a Hadoop.
CW – Uma recomendação da Gartner diz que as empresas não devem usar ainda a HANA para aplicações críticas. Quando acha que a plataforma vai conseguir maturidade para essas aplicações?
SL – Depende do que define como crítico. Para a Red Bull, o BW é muito crítico e correm-no sobre a HANA. Agora a HANA corre como um “Data Mart” e também como “Data Warehouse”, E também é possível correr aplicações como análise de controlo de rentabilidade.
No final de 2012 princípios de 2013 devemos correr o nosso sistema ERP com a HANA. A tecnologia “in memory” está madura, caso contrário não poderíamos correr o BW sobre a HANA. Mas é insensato dizer que fazemos tudo o que a Oracle faz.