Dentro de cinco anos a cloud computing será a fonte preferida de serviços tecnológicos, diz o CTO da Fujitsu, David Gentle. E para os fornecedores haverá desafios de gestão importantes.
A Fujitsu quer tornar-se uma fornecedora de serviços digitais “tanto para indivíduos como organizações”. Faz sentido: na visão da empresa – e do seu CTO, David Gentle – dentro de cinco anos, as plataformas de cloud computing dominarão as preferências das empresas na obtenção de serviços tecnológicos.
Contudo o orador do evento IT Future – a ser realizado em Lisboa no 29 de Setembro – alerta que tudo muda quando um serviço passa para um modelo de distribuição em cloud computing. Em entrevista, explica ser necessário fazer importantes alterações funcionais ou de administração. Por exemplo pode ser necessário mudar como os serviços interagem uns com os outros.
Computerworld – Qual será, na sua opinião, a evolução da cloud computing nos próximos cinco anos? Que estratégia deverão seguir?
David Gentle – No prazo de cinco anos veremos a cloud tornar-se na fonte preferida de serviços tecnológicos e organizações a funcionar com base numa política de compras que privilegia este modelo. A cloud computing vai evoluir de duas formas.
Em primeiro lugar, vamos assistir a um efeito de ‘canibalização’, à medida que as organizações vão consumir uma fatia maior dos seus serviços tecnológicos a partir da cloud, o que vai permitir que os negócios funcionem com maior liberdade e reactividade. Em segundo lugar, vamos assistir ao surgimento de novos serviços que exploram a capacidade da cloud para disponibilizar soluções informáticas inteligentes em grande escala. A esta visão damos o nome de Sociedade Inteligente Centrada no Ser Humano.
A nossa estratégia é manter os nossos produtos e serviços de alta qualidade ao mesmo tempo que desenvolvemos um novo portefólio capaz de explorar novas tecnologias e traz maior valor aos nossos clientes. Ao concretizar a sua visão, a Fujitsu tornar-se-á uma fornecedora de serviços digitais – proporcionando serviços digitais a indivíduos e organizações, bem como soluções de escala superior, implementadas de forma transversal a indústrias e infra-estruturas sociais.
CW – Conseguirá uma cloud privada ágil evitar que os gestores ignorem os responsáveis pelas TI?
DG – Provavelmente não. Mas é complicado. Uma cloud privada tem muitas vantagens para uma grande empresa, pois permite que um responsável pelas TI actue como fornecedor cloud no contexto daquela organização e seja capaz de oferecer serviços de cloud (elásticos e escaláveis, self service e pay-per-use) às suas unidades de negócio.
Para muitas organizações que pretendem manter o controlo sobre os seus serviços tecnológicos este é o método de distribuição mais eficaz. No entanto, construir uma cloud privada vai sempre exigir algum investimento de capital fixo e tempo de implementação.
Além disso, a cloud pública tem uma escala e uma velocidade de inovação que as soluções privadas terão sempre dificuldade em acompanhar. Como tal, mesmo com uma cloud privada, é provável que as chefias continuem a olhar para o outro lado da vedação, para ver se a relva está mais verde.
CW – Um cloud privada será capaz de proporcionar serviços mais baratos do que uma cloud pública, tendo em consideração os melhores SLA inerentes à primeira, envolvendo segurança e privacidade reforçadas?
DG – Em qualquer produto, as características técnicas e o custo tendem a ter uma relação de equilíbrio, e é natural que quanto mais se deseje uma solução feita à medida, menos comercializável ela seja. A cloud não é excepção. Por isso, quando falamos de serviços cloud, precisamos de pensar no valor. Este pode variar de cliente para cliente e depende da natureza do serviço – alguns vão querer maior segurança ou um melhor SLA, outros vão preferir flexibilidade comercial. Ter em conta qual é, para o cliente, a forma mais rentável de fornecer o serviço irá determinar o modelo de distribuição adequado pelo mínimo custo.
CW – As migrações para a cloud têm sido lentas. Excluindo questões de segurança e privacidade, quais são os principais problemas?
DG – A cloud é um modelo de distribuição completamente diferente – tudo muda quando se move um serviço para a cloud. Agora, nem todas as migrações para a cloud serão lentas, especialmente no que respeita a serviços específicos e pouco dependentes de outros sistemas ou processos.
No caso de outros sistemas, poderá ser necessário efectuar alterações funcionais, tais como o modo como um serviço interage com outros sistemas. Poderá haver dados ou informação de utilizadores a migrar. E será necessário implementar mudanças na administração, tais como a forma como o serviço é gerido e cobrado e o modo como ele se integra com outros serviços.
CW – Como podem a velocidade e a segurança da informação ser ainda mais importantes no futuro em termos de tomada de decisão?
DG –Uma série de tecnologias em desenvolvimento irá, rapidamente, tornar a computação inteligente numa realidade. Os recursos de computação escaláveis e baratos que associamos à cloud, a capacidade de os usar para processar grandes quantidades de dados e as ferramentas analíticas que tal exige, bem como a diversidade de dispositivos móveis e sensores que enviam informação pelas redes e tiram partido das respostas inteligentes que recebem. Podemos estar a entrar numa “corrida ao armamento informativo” em que as organizações que se revelarem incapazes de reagir rapidamente serão ultrapassadas pela concorrência.
CW – Como pode a segurança da cloud melhorar ou, pelo menos, proporcionar maiores garantias?
DG – Há a ideia de que a segurança na cloud é fraca. Porém, as medidas de segurança física implementadas na maioria dos sistemas cloud é tão boa quanto a que se encontraria em sistemas internos, e muitas vezes até é melhor. Só que como os serviços cloud são fornecidos remotamente e podem estar alojados numa região ou geografia distinta da do consumidor, onde as políticas e as regras podem ser diferentes.
Além disso, sendo serviços de consumo, os clientes não têm o nível de controlo a que poderão estar habituados e, obviamente, as quebras nas clouds são públicas, ao passo que as quebras internas raramente são divulgadas. Mas a segurança pode sempre ser melhor.
É possível que o segredo para o desenvolvimento esteja em permitir às organizações que separem o seu volume de dados das aplicações e sistemas que usam, permitindo-lhes vedar o acesso a dados pessoais e empresariais importantes, explorando ao mesmo tempo o valor da cloud. E os fornecedores de serviços cloud podem proporcionar maior transparência acerca das suas medidas de segurança e, em particular, dos padrões aos quais aderem.