Atingir a saturação da capacidade de economia proporcionada por infraestruturas virtualizadas é uma situação comum em empresas. Saiba como a evitar.
Virtualizar e consolidar servidores de centros de dados proporcionam um benefício financeiro tão claro para as organizações que há poucas empresas, em qualquer indústria, para as quais a tecnologia não é adequada. Mas algumas que começaram projectos de virtualização para cortar custos, sem planear uma segunda fase de migração, em que os gastos com ferramentas proporcionam ainda mais benefícios, podem ficar presas na primeira etapa, sem aproveitar todo o seu potencial.
O benefício financeiro de obter de 10 a 20 servidores virtuais pelo preço de uma caixa física impulsionou muitas empresas para a migração. Mas muitas, ao virtualizarem de 25% a 35% de todos os servidores físicos, chegam a uma situação na qual as vantagens de custo do servidor virtual sobre o físico desaparecem. Em inglês, isso é chamado de “VM Stall”, ou limite da virtualização.
De acordo com James Staten, analista da Forrester, esse quadro é gerado por alguns custos subtis e questões organizacionais que afectam directamente o projecto de virtualização. “As empresas podem chegar a uma migração de 50% no seu parque de servidores com a mesma mensalidade do mundo físico. A previsão de custos é só em questões óbvias, como licenças, número de máquinas, etc. Para lá desse ponto, chega-se às questões de desempenho e gestão de capacidade, que precisam de suporte. As empresas não têm isso em consideração ao planear os projectos”, refere.
Segundo o vice-presidente da Gartner, Chris Wolf, planear a virtualização de cada carga de trabalho em cada servidor, sem modificar os requisitos de planeamento de capacidade de TI ou a forma como os recursos informáticos são alocados, além da previsão de horas de trabalho dos profissionais, resulta num departamento de TI cheio de processos em duplicado, com uma queda brutal no retorno sobre o dinheiro gasto na migração.
“Tentar replicar a mesma estrutura que era usada no mundo físico levará a empresa a um ciclo de diminuição dos retornos rapidamente”, diz Wolf. Manter o projecto no caminho certo requer mudanças organizacionais e tecnológicas, além de manter os dois lados coordenados de acordo com cada estágio da migração. Aqui vão alguns conselhos para evitar a perda de benefícios financeiros durante as quatro fases-chave dos projetos:
Fase 1: eficiência técnica e consolidação
Segundo o analista da IDC, Gary Chen, a primeira onda da virtualização é empolgante, pois economiza muito mais dinheiro, de forma muito mais rápida, do que qualquer outra fase de migração e operação de uma infraestrutura virtual.
O benefício de eliminar 10 servidores físicos, substituindo-os por um servidor maior, virtualizado e mais automatizado, dá à equipa de TI e às áreas de negócios a falsa sensação de sucesso. Segundo Chen, isso gera expectativas irrealistas para o futuro.
Muitos departamentos prendem-se às mesmas métricas do início para estimar o sucesso, o que significa focarem-se em quão densamente as máquinas virtuais podem ser empacotadas num “host” físico, sem investir em ferramentas de gestão ou formação que dá aos gestores de TI uma melhor ideia de como alocar recursos virtuais, diz Chen.
“As pessoas precisam de tirar da cabeça que devem orgulhar-se da sua taxa de migração ou quantas máquinas físicas conseguem retirar de um ambiente, isso não diz nada”, declara Staten, que completa: “a necessidade real é chegar ao ponto no qual se entrega alta eficiência, altamente sustentada por métricas de utilização e picos de todo a ‘pool’ de recursos, com um alto grau de controlo sobre toda a infraestrutura”.
Fase 2 : escolha de alvos e simplificação da administração
A próxima fase da migração requer conhecimento mais específico sobre o que cada máquina virtual está a fazer, para que unidade de negócios e quais os recursos que ela exige.
Segundo Staten, isso requer mais do que densidade e retorno sobre o investimento (ROI). Requer mudanças na administração das TI e no suporte para melhoria dos processos como gestão de mudanças, provisionamento e gestão de incidentes. Tudo isto não é compatível com os antigos métodos organizacionais.
Segundo Wolf, sem a capacidade de construir um inventário de recursos mais detalhado do que simplesmente a lista de servidores físicos disponíveis, não há forma inteligente de distribuir máquinas virtuais ou cargas de trabalho pelos servidores.
Para chegar a isto, são necessárias ferramentas de gestão, dando aos administradores de sistemas a responsabilidade de programar as máquinas virtuais de acordo com as unidades de negócios que as utilizam, sem se importar com a localização física das mesmas.
A falha nesse aspecto pode levar a uma falta de uso eficiente dos recursos, com duplicados, trabalho a dobrar e lacunas na definição da responsabilidade sobre as tarefas, tudo isso gerando enormes desperdícios para as empresas à medida que as máquinas virtuais existem sem que haja um responsável por elas.
Para evitar tudo isto, a empresa também precisa de pensar em automação, gestão de ciclo de vida, entre outras ferramentas presentes no mercado.
Fase 3: automação de processos
Segundo Wolf, restringir a proliferação de máquinas virtuais sem controlos adequados não restringe a ambição de migração da empresa. Pelo contrário, ajuda no processo.
A vantagem real das infraestruturas virtuais é a flexibilidade. Para garanti-la, o departamento de TI tem de estar pronto para lançar mão da portabilidade de máquinas virtuais, gestão de recursos que atinjam a infraestrutura em profundidade, provisionamento automatizado e gestão de mudanças, ou não haverá eficiência.
A medida, aqui, não deve ser quão alta é a utilização de um único servidor ou grupo de máquinas virtuais para rodar uma aplicação, mas qual é o grau de utilização de todo o centro de dados.
Isso requer conhecimento e gestão em tempo real dos recursos. Para isto, é preciso saber como usar os instrumentos certos para monitorizar e alocar os recursos para melhorar o desempenho para cada carga de trabalho, cada servidor, cada data center e cada servidor físico, de acordo com as melhores práticas para a virtualização da Gartner, publicada em 2009.
Chen alerta, no entanto, que além do uso inadequado das máquinas virtuais, o uso excessivo ou não supervisionado de licenças também aumenta custos de maneira significativa.
Uma das soluções encontradas para muitas empresas é renegociar acordos de licença justamente por essa razão. É muito fácil para utilizadores finais criar servidores, ou instâncias de aplicações, que consomem licenças, deixá-las a utilização e lançar mais uma na manhã seguinte.
Segundo o vice-presidente e analista da Forrester, Galen Schreck, outra questão dos processos é a granularidade. Muitas empresas reconhecem o potencial benefício da granularidade, mas não conseguem atingir esse degrau, em parte por conta da limitação das ferramentas, ou porque não têm pensamento avançado para serem suficientemente confiantes para atingir isto.
Sem gestão de recursos granulares e um alto nível de gestão baseado em políticas, a maioria das empresas vai ficar limitada nos 50% de migração para o ambiente virtualizado, ou desperdiçará mais dinheiro do que economizará tentando ultrapassar essa barreira.
Fase 4: eficiência de custos
Apesar da notada falta de eficiência na automação das empresas, 36 de cada 100 dólares gastos em servidores físicos em 2014 serão direccionados para hardware voltados para o “host” de servidores virtuais, de acordo com um estudo da IDC de Dezembro passado.
O estudo prevê que os 2,2 milhões de servidores registados representam, na verdade, 18,4 milhões de máquinas virtuais, uma média de 8,5 máquinas virtuais por “host” em 2014.
Os números representam mudanças para o departamento de TI, mas as empresas devem pensar em novas formas de prestar contas, traduzindo os custos da virtualização para as unidades de negócios. “Se as pessoas olhassem só para os custos iniciais, o Hyper-V, ferramenta de virtualização da Microsoft, venderia muito mais do que vende hoje”, diz Chen.
Uma máquina virtual extra pode dar a impressão de não causar custos pois não requer custos de capital, mas Staten alerta para os custos de licenciamento, uso de recursos, administração, armazenamento e todas as outras questões que não são adequadamente transferidas para a análise do orçamento para serem entendidas pela área de negócios.
A falha em entender custos reais da virtualização pode minar até mesmo um projecto bem-sucedido do ponto de vista técnico.
(CIO/IDGNow!)