Um relatório forense das autoridades dos Estados Unidos cuja análise incidiu sobre o dispositivo apela a regras mais severas na indústria petrolífera.
O dispositivo de controlo de emergência do fluxo de petróleo extraído na plataforma de petróleo Deepwater-Horizon, operado pela BP, teve graves falhas no sistema de backup, segundo um relatório da consultora especializada Det Norske Veritas, contratada pelo governo dos Estados Unidos .
Alguns componentes do sistema de controlo de backups “não funcionaram como se esperava” sobre o sistema de prevenção de explosões, concebido para conter o fluxo de petróleo no caso de pressão anormal, concluiu o relatório. A notícia surge depois de a BP ser autorizada a reiniciar as operações de perfuração no Golfo do México, podendo o fazer já em Julho deste ano.
Um estudo forense demonstrou que “nem todos os sistemas de controlo de backup tinham redundância”. Mas não foi possível determinar se o interruptor automático “Deadman”, projectado para accionar dispositivos de contenção tinha funcionado, explicou o relatório.
O relatório é a peça final do puzzle de investigações sobre o derrame de petróleo no Golfo do México, e sugere ainda a necessidade de os sistemas “blowout preventer” (BOP) serem sujeitos a testes de perícia. A principal causa das falhas do BOP tiveram a ver com uma pequena parte de tubagem que sofreu uma torção e se alojou nas válvulas preparadas para desligar o petróleo, concluiu o relatório. Mas este destacou outros problemas graves.
O trabalho também aponta falhas de regulamentação da própria indústria e de boas práticas em torno dos sistemas, para justificar o desastre. “A análise das normas da indústria indicam a inexistência de exigências de desempenho para sistemas de back-up (por exemplo, de tempos de resposta para fechos) como fazem para os sistemas de controlo primário”, afirmou.
“Recomenda-se que indústria reveja as suas normas para o desempenho do back-up dos sistemas de controlo ser equivalente aos requisitos estipulados para os sistemas de controlo principal.” As reguladoras da indústria também deverão estabelecer requisitos claros sobre como efectuar testes a sistemas BOP de back-up “para garantir o seu funcionamento durante todo o tempo o tempo de funcionamento da unidade no poço”.
Também será necessário rever as exigências em torno da “avaliação de vulnerabilidades dos sistemas de back-up para o controlo preventivo de explosões para assegurar que não estão sujeitos a eventos ou sequência de eventos capazes de os levar a qualquer tipo de insuficiência”.
A BP disse num comunicado: “A fim de obter uma visão mais abrangente das razões pelas quais o BOP não funcionou como se pretendia, a BP solicitou testes adicionais ao sistema e está presentemente a trabalhar com as partes envolvidas e o tribunal para desenvolver um quadro de regulamentações segundo o qual os testes tenham de ser conduzidos. Apoiamos os esforços dos reguladores e da indústria para tornar os BOP mais fiáveis e eficazes. ”
A petrolífera tem insistido nos últimos meses que a obtenção de dados em tempo real, e o controlo rigoroso de processos de pessoal e tecnologia, estarão no centro da sua estratégia para inverter o histórico de desastres. A Cameron, empresa que fabricou o BOP, na plataforma Deepwater Horizion, não se pronunciou.
A Transocean, proprietária do equipamento, disse que os resultados “confirmaram que o BOP estava em bom estado e funcionava como projectado”. E acrescenta que “as altas pressões do fluxo criaram condições que ultrapassaram o âmbito dos parâmetros do projecto da BP”.
Edward Markey, um deputado do Comité dos Recursos Naturais gerido pela Câmara dos Representantes, considerou que o relatório “coloca em questão as reivindicações da indústria do petróleo sobre a ineficácia dos sistemas de prevenção de explosões “. Outros relatórios do governo questionaram a decisão da BP de ignorar as conclusões do software de modelação, e optarem pelo funcionamento com um baixo número de dispositivos de estabilização.
Os mesmos também afirmaram que se registou uma pressão anormal, antes da explosão, claramente visível nos sistemas de monitorização do equipamento. Mas estes não tinham mecanismos de alarme apropriados para alertar os engenheiros sobre o problema, concluíram os relatórios.
A BP está a enfrentar um processo de 15, 3 mil milhões de euros por parte do governo dos EUA, o qual numa linguagem forte culpa a petrolífera e os seus parceiros por não usarem “a melhor e mais segura tecnologia de perfuração e avaliação ” das condições de perfuração em águas profundas.
Há também indicações de que o departamento de Justiça dos Estados Unidos está a ponderar acusar a empresa por homicídio, devido à morte de onze trabalhadores da plataforma durante o acidente.