Com uma estratégia voltada para os serviços em modelo de cloud computing, a empresa pretende reforçar as suas capacidades em território português. André Kiehne prometeu novidades no decorrer do ano, sobre o assunto.
A Fujitsu está cada vez mais dedicada à prestação de serviços de cloud computing. Em cinco anos o negócio poderá representar perto de 70% da sua facturação, embora hoje seja pouco significativa, de acordo com o vice-presidente da companhia André Kiehne. Numa entrevista realizada nas instalações da empresa em Augsburg, o responsável considerou a estrutura de serviços mantidas em Portugal, como bastante importante para a estratégia da empresa. Por isso prometeu maior investimento nas estruturas da empresa no país para 2010.
De acordo com o responsável, uma boa governação é cada vez mais importante no contexto actual de proliferação de máquinas virtuais, fáceis de constituir. Adensando o problema, existe uma escassez de importante de recursos humanos, capazes de fazer essa governação. Todos este cenário serve de argumento para a Fujitsu, vender a sua oferta de cloud computing.
André Keihne procurou frisar em conferência de imprensa que o fabricante de hardware não pretende fazer concorrência à Amazon. Hoje pretende sobretudo disponibilizar uma infra-estrutura muito dinâmica e eficaz do ponto de vista dos custos. Trata-se de facilitar uma estratégia de transformação de custos fixos em custos variáveis, por parte dos clientes, em relação ao seus activos de TI. Contudo o responsável não escondeu que a companhia pretende disponibilizar serviços de aplicações. E já começou a fornecer alguns.
Computerworld – Qual é a vossa estratégia de Infrastructure as a Service (IaaS)? Tencionam ficar pelo IaaS ou tentarão evoluir para outros serviços?
André Kiehne – Nós decidimos ficar primeiro pelos serviços de infra-estrutura, devido a uma série de boas razões. A primeira é que acreditamos nos benefícios de uma infra-estrutura dinâmica, como fundação de tudo o que se possa implementar sobre ela: aplicações ou middleware. Tudo precisará de uma infra-estrutura flexível e eficaz face aos custos. E nós temos os ingredientes para essa fundação. Até o middleware necessário para colar isto tudo, como por exemplo a plataforma de automatização, como o IaaS Portal, automatizada. Depois acreditamos que a IaaS é uma oferta das mais apelativas para os nossos clientes usarem como alicerce para recursos de aplicações e middleware, armazenamento, computação, e de posto de trabalho. Estão tão ligados que o middleware pode usar estes recursos de forma bastante redundante. A segunda razão é que temos uma abordagem ao mercado de forma directa e de forma indirecta. E os nossos parceiros estão muito interessados em providenciar sobre estas infra-estruturas, o seu valor: gestão de aplicações, serviços de consultoria. Portanto habilitamos os nossos parceiros a fornecer aplicações como SaaS. Vamos desenvolver no futuro uma oferta de SaaS? Sim, com certeza, mas o mercado não está ainda preparado, quanto ao ambiente empresarial para esse tipo de oferta. Mas estamos a avaliar este campo e deveremos apresentar ainda este ano ou no próximo, alguma coisa de concreto.
CW – Mas se o mercado não está pronto para a Fujitsu avançar, como estará preparado para os parceiros?
AK – É preciso olhar para certos grupos de clientes. Um deles é o das pequenas organizações. Usam o SaaS porque estão num estado de evolução inicial, são startups, e portanto podem facilmente adoptar serviços de SaaS. Mas a maior parte dos nossos clientes não estão tão “verdes”, têm um ambiente de TI gerido de forma tradicional, e não podem desligá-lo e mudar para outro, de um dia para o outro. Tem de haver um caminho de transição. Se olharmos para uma empresa grande, nem conseguem mudar as suas aplicações, por nem estarem preparadas para ser fornecidas numa plataforma de SaaS.
CW – Portanto haverá bons negócios, para os parceiros, a fazer a preparação das aplicações para os parceiros…
AK – Claro!
CW – Mas não para a Fujitsu? Não faz parte dos seus objectivos?
AK – Não vou dizer que não faz parte dos objectivos… Mas para já o nosso enfoque é numa infra-estrutura muito dinâmica e muito eficaz.
CW – O facto de a vossa oferta incluir middleware não a torna mais uma oferta de Platform as a Service (PaaS)?
AK – Pois,isso tem a ver com a definição dos serviços…. O PaaS é uma plataforma de ambiente de execução, para o qual se pode desenvolver as aplicações. Portanto é necessário uma linguagem e um ambiente de execução. O que estamos a fazer é providenciar o middleware sobre o qual os sistemas operativos e componentes e aplicações padronizadas podem correr. Se quiser, estamos a tornar aptas para a cloud, as aplicações tradicionais.
CW – Que dimensão pode ter este negócio para Fujitsu?
AK – É preciso olhar para o mercado do outsourcing. Tanto a IDC como a Gartner estão sobretudo atentas à bolha do mercado de outsourcing, que é bastante grande. E os novos tipos de disponibilização de serviços, como os serviços de cloud estão a emergir desta área. E até os analistas estão a dizer que o IaaS será a fatia maior desta bolha do outsourcing. E quando se olha para o cliente típico ele diz: “Somos uma organização, especial, preciso destes e destes processos, destas ferramentas, e tudo tem de correr como no meu centro de dados”. Portanto no passado era um passo enorme para este tipo de clientes, passar para outro modelo baseado em SLA. Hoje falamos com eles e dizem: “Nós temos de passar para esse modelo!”. E a ideia deles não é ter 90% em regime tradicional e 10% em cloud computing, mas 30% num modelo tradicional e 70% em cloud computing….
CW – Isso quer dizer que em cerca de cinco anos o vosso volume de negócios vai configurar-se segundo esse equilíbrio, em termos de repartição de receitas?
AK – Acho que em cinco anos isso será bem possível. Esse é o nosso objectivo! É fácil tornar apta a infra-estrutura para a cloud computing. É muito mais complicado preparar o middleware e as aplicações. E é por isso que o IaaS vai evoluir de forma mais forte nos próximos tempos.
CW – Está a emergir uma tendência mundial de concentração vertical nas empresas, segundo a qual as maiores estão a reintegrar nas suas organizações várias componentes da cadeia de produção. A Fujitsu está nesse processo também?
AK – Bom outras empresas estão todas a comprar organizações de áreas onde não têm competências. Essa não é a nossa estratégia. A nossa estratégia não passa por comprar companhias. Mas também não significa que não estejamos atentos a algumas empresas, mas não em nome da estratégia, para preencher vazios. A nossa estratégia passa por identificarmos parceiros com quem estabelecemos parcerias muito próximas, como a da Netapp, e Symantec, são para preencher certos vazios. Com a NetApp estamos a preparar uma oferta de armazenamento conjunta, bastante integrada, e isso terá muito valor para os clientes. Por não pre-estabelecemos os componentes de armazenamento que o cliente poderá usar, disponibilizamos o que há de melhor entre os melhores.
CW – Como fica a vossa relação com a EMC, face à parceria com a NetApp?
AK – Não se pode ser um fornecedor de uma única fonte ou de uma só desenho. É necessário ser aberto e isso é exactamente o que o cliente exige.
CW – É tendo isso em perspectiva que estabeleceram esta parceria, portanto…
AK – Sim. Obviamente vamos continuar a fazer negócio com a EMC. Mas decidimos que a NetApp tem as melhores características para preencher algumas das nossas lacunas com uma abordagem de parceria. O mais importante é que os clientes têm infra-estruturas muito heterogéneas e no fundo, nós precisamos de ser capazes de gerir essa infra-estrutura.
CW – A vossa oferta de IaaS está disponível na Alemanha vocês equacionam disponibilizá-la para a Suíça e para a Áustria. Para que outros países estão a pensar evoluir com esta oferta?
AK – Essa oferta inicial, tem a ver sobretudo com as proximidades linguísticas. Mas estamos em conversações muito adiantadas para Espanha e para Itália. Entretanto também estive em Portugal, e em várias conversas com clientes este foi o tema mais quente. Estamos a ver melhor e provavelmente teremos notícias durante o corrente ano. E faz sentido porque na IaaS, os componentes podem ser disponibilizados de forma centralizada, facilmente integráveis na estrutura existente dos países.
CW – Com que meios podem disponibilizar esse serviço em Portugal?
AK – Temos o nosso centro de dados em Portugal?
CW – E tem capacidade suficiente…?
AK – Depende. Quando olhamos para o IaaS, o importante não é a localização centro de dados, mas sim se terá capacidade para disponibilizar os serviços necessários de forma eficiente. E é preciso assegurar que se tem processos de governação muito ágeis e fluídos. Porque se não, nunca serão satisfeitas as exigências de preço do cliente.
CW – Disse que os clientes não se importam onde fica localizado o centro de dados. Mas isso é um pouco estranho face à realidade…
AK – É válido para quase todos os países. As empresas querem ter os seus dados alojados no centro de dados, dentro do país e muito provavelmente na vizinhança. Isto é uma coisa que podemos fazer e tem a ver com a abordagem híbrida. E há obviamente a oportunidade de termos em Portugal uma centro de dados dedicado a um cliente. Mas aí chegamos a uma escala em que se é capaz de partilhar, um recurso, num volume necessário para dar um preço apropriado. Em Portugal temos um registo bastante bom de oportunidades na área dos centros de dados e dos desktops. Nós servimos 35 mil utilizadores com serviços de gestão de desktops.
CW – Quem é o dono da infra-estrutura no modelo indirecto da vossa estratégia de cloud computing?
AK – A Fujitsu será a dona do hardware. Isso não quer dizer que não possamos integrar a infra-estrutura dos nossos clientes. Temos de garantir que o centro de dados tradicionalmente baseado segundo um esquema de silos, geridos pela Fujitsu, sejam integrados nos nossos centros de dados. O que acabámos de mostrar é um portal de integração, cuja camada inferior é middleware e constitui a plataforma de integração, para suportar os centros de dados dos clientes, ambientes de cloud privada, e ambientes partilhados.
Sim primeiro o parceiro vende o serviço, e dá-lhe valor colocando sobre o mesmo a sua aplicação ou outro serviço. O parceiro típico será um que não tem capacidades para manter o seu próprio centro de dados, mas com o IaaS da Fujitsu, este parceiro poderá facilmente aceder a grandes centros de dados, de grande capacidade de disponibilização de serviço, ter service desk, disponibilizado pela Fujitsu.
CW – Tencionam investir de alguma forma em Portugal? Pretendem ampliar a vossa capacidade de serviços?
AK – Claro. Decidimos investir maciçamente na capacidade dos nossos centros de dados, de serviços geridos. Estou a falar de recursos humanos, marketing, e forças de venda. Depois decidimos que a nossa estrutura de service desks é uma parte vital da nossa rede mundial de disponibilização de serviços. Ela serve clientes muito grandes como a BP, a Total, a Electrolux. Lisboa é o melhor sítio para disponibilizar o tipo de serviços a serem disponibilizados. A cidade é vista como um local mais aberto e as empresas não se importam de estar lá. E certamente os novos serviços como o IaaS, serão bem acolhidos nesse tipo de países como Portugal, Espanha, e Itália, onde temos capacidade, onde o mercado está pronto. Posso dizer que os clientes portugueses estão a pensar seguir nesta direcção, em particular.
CW – Quando pensam começar a disponibilizar serviços de aplicações?
AK – Acabamos de o fazer. Nós providenciamos o nosso portefólio com serviços de infra-estrutura dinâmica, serviços de aplicações e no topo, serviços de negócio. Considerando as receitas mundiais 75% são realizadas em infra-estrutura, serviços de aplicações representam 20% e 5% são serviços de negócio.
Os serviços de aplicações vêm da integração da Fujitsu Services. Começámos a disponibilizar esta oferta, e a avaliar que tipo de serviços. Começámos pela área da SAP, muito importante para nós, especialmente no ambiente dos serviços de aplicações. E teremos novidades no próximo ano.
CW – Como se repartem as receitas entre vocês e os vossos parceiros?
AK – Os nossos parceiros têm um preço de retalho, e depois podem escolher que preços vão cobrar aos seus clientes, juntando os seus serviços.
CW – O advogado da Microsoft na Europa, Brad Smith pediu à Comissão Europeia a reforma da legislação relativa à protecção de dados e privacidade, adaptando-a para suportar melhor a tendência de as empresas adoptarem a cloud computing. Qual é vossa posição sobre isso?
AK – Acho que é uma questão de legalidade mas também uma questão de mentalidade. Por exemplo, é muito importante para os nossos clientes que os seus dados estejam localizados em Portugal. Mas acho que os provedores de serviços de tecnologias de informação, têm de implementar maior segurança na infra-estrutura, para assegurar um acesso seguro, e possamos mesmo disponibilizar serviços relevantes para a conformidade dos clientes.
CW – Mas a lei precisa de ser mudada?
AK – Ajudaria sim, mas é só uma parte.
CW – Em que aspectos precisa de ser mudada?
AK – Ajudaria se permitisse que as empresas pudessem colocar dados fora do país de origem, ou que a banca pudesse colocar alguns dados fora das suas instalações. E poderia acelerar a disponibilização desses modelos de prestação de serviços.