Em entrevista à CIO Magazine, Brian Arthur, economista e professor do Santa Fé Institute, diz que a tecnologia vai alavancar a economia ao integrar sistemas, processos e funções. Cabe ao CIO canalizar estas integrações
Computerworld
Este prolongado mercado em baixa não deixou as transformações em suspenso para a maioria das indústrias?
Brian Arthur
Não. O crescimento, no momento, está em suspenso.
O Silicon Valley está a conseguir sobreviver, mas não está muito melhor do que qualquer outra indústria do mercado global.
Por outro lado, o processo de transformação que estou a descrever é inevitável – e já está a ocorrer nos sectores militar, bancário, de indústria e distribuição alimentar.
Computerworld
Mas de que forma é que esse processo está a acontecer?
Brian Arthur
A tecnologia digital faz face a muitos processos de negócio e técnicos e torna-se parte integrante deles.
As próprias empresas e tecnologias estão continuamente a “conversar” entre si. Por exemplo, o míssel de cruzeiro (Cruise) está a conversar com um satélite GPS e com seu porta-aviões.
Por outras palavras, a digitalização está a tornar-se num processo neurológico na própria indústria.
E quando a economia começar a recuperar de uma forma segura e consolidade, ou mesmo até antes, o processo continuará em ritmo acelerado e as indústrias do mercado vão descobrir novas funcionalidades e transformá-las.
Na minha opinião, não vejo como este processo possa parar.
São como as mutações que, inevitavelmente, transformam ou substituem o DNA original de um organismo e levam à evolução…
É exactamente a frase que eu utilizaria. À medida que a digitalização penetra nos processos, ela está a ligá-los a todos nas áreas de indústria e serviços da economia. E novas coisas inteligentes estão a surgir.
Computerworld
Existe algum precedente histórico para isso?
Brian Arthur
Sim. Na década de 1880, os caminhos-de-ferro ligaram pela primeira vez tudo a tudo nos Estados Unidos.
Eles tornaram-se na rede de comunicação, no sistema nervoso do momento.
E deram existência a novas indústrias: não haveria uma indústria de carne em Chicago se não se pudesse transportar o gado, de comboio, do curral até o local de abate e depois levar a carne até os consumidores.
Agora, a história do nosso tempo é a ligação de todos estes processos e tecnologias em conversação contínua.
Computerworld
Presumindo que estas “conversas digitais” ultrapassam as fronteiras das organizações e fluem de organização para organização, serão grandes barreiras para o progresso os problemas de confiança e segurança?
Brian Arthur
Sim, considero que existe uma enorme barreira no que diz respeito à confiança.
É preciso haver segurança, identificação, criptografia e acesso adequados para garantir a confiança.
E esse é um processo que ainda vai levar algum tempo tempo.
Computerworld
Qual será o efeito, sobre a economia, dos confrontos da indústria com a tecnologia?
Brian Arthur
Os confrontos tornam-se os motores económicos do crescimento. Não vejo esta alavanca partindo de nenhum outro lugar.
Não vejo uma procura de consumo reprimida, ou a descoberta de um vasto novo mercado (com a possível excepção da China) em relação às maneiras tradicionais pelas quais uma economia se teria expandido há 150 anos atrás.
Não vejo nenhuma outra fonte que possa fornecer um crescimento profundo em muitas décadas à frente.
Computerworld
Quais são os papéis do CIO e da organização de sistemas de informação neste motor de crescimento?
Brian Arthur
Nos anos 70, um profissional de TI teria dito qualquer coisa assim: “a minha empresa está a comprar computadores.
E sou eu quem sabe lidar com computadores.
Vou colocar os computadores a funcionar na empresa, fazer projectos de aplicações e fazê-las funcionar”.
Agora a tarefa é muito diferente. Cada funcionalidade ou processo na empresa está a começar a ser afectada por outra.
O pessoal de TI está a integrar aplicações, dados, padrões. Eles estão a suportar múltiplas plataformas – PDA, equipamentos sem fios, computadores portáteis.
Eles estão a preocupar-se com o armazenamento e o múltiplo acesso a dados. Toda esta actividade tem a ver com fazer pessoas, dispositivos e aplicações interagir, conversar uns com os outros.
O que os CIO precisam fazer é, em primeiro lugar, perceber o que está a acontecer.
Eles não podem apenas reagir passivamente e dizer “sim, as pessoas lá em cima pediram que mantenhamos contactos constante com Frankfurt ou Boise, Idaho”.
Eles têm que imaginar como tudo isso deve acontecer de uma forma de confiança e inteligente, e dar eles próprios o pontapé de partida.
Computerworld
Para tirar uma conclusão lógica, então, o grande motor de crescimento da economia estará nas mãos dos profissionais de TI?
Brian Arthur
Isso mesmo. Nenhum outro executivo empresarial é capaz de vislumbrar como fazer isso.
Se se for um administrador de empresas, um advogado ou gestor de nível médio, não se pode esperar que tenha a imaginação para ver o que é possível.
É complexo demais. Portanto, acho que será o pessoal de TI que mostrará à gestão de topo o que é possível.
A curto prazo, acho que os CIO ficariam frustrados e diriam: “adoraria ficar ocupado a impulsionar a economia.
Mas, como a economia não está a crescer, ninguém me está a dar dinheiro para a impulsionar”.
O que estou a ouvir dos CIO é: “não, não estamos a comprar equipamento novo porque nosso orçamento é limitado.
O que estamos a tentar fazer é usar o equipamento antigo e integrá-lo, e fazer tudo conversar entre si”. E isso não depende de ter uma grande verba.
Depende de pegar no seu pessoal de TI e de o deixar livre para fazer a tecnologia existente trabalhar muito melhor para a empresa.
É o pessoal de TI, mais uma vez, que terá que fazer isso.
Então, não é porque ninguém está a comprar que as TI estão liquidadas e que o pessoal de TI está acabado.
Ao contrário, eles serão a principal força da nossa economia.