A implementação do software livre no Brasil está a gerar polémica. Governo e indústria estão divididos quanto à sua importância
As políticas para implementação do software livre nos órgãos públicos brasileiros estão a gerar polémicas na indústria e no próprio governo.
Sérgio Amadeu, presidente do Instituto de Tecnologias de Informação (ITI) revelou que as opiniões estão divididas.
Por um lado os defensores dos sistemas de código fonte aberto alegam que tais soluções iriam permitir ao país economizar cerca de 1,1 biliões de dólares.
Por outro lado, a indústria alega que essa implementação iria comprometer a inovação do mercado de software.
Ao que parece, entretanto, os debates estão mais perto de um ponto comum.
Grande parte dos grupos a favor ou contra a adopção do software livre já aceita que a transição gradual seria a melhor solução para não comprometer a indústria, ao mesmo tempo em que contribui para a redução nos custos com licenças.
Uma pesquisa feita pela CompTIA, há um ano, com 180 fabricantes de software, integradores de sistemas e provedores de aplicações, na América Latina – sendo 65% empresas brasileiras -, revelou que 75% das empresas identificavam-se como utilizadores apenas de sistemas proprietários, 10% ofereciam sistemas híbridos e 13% ofereciam sistemas abertos.
Perante esta polémica, o governo brasileiro não deve estabelecer uma política fixa para a escolha dos softwares que irá utilizar nos seus órgãos ou que irá empregar em projectos de inclusão tecnológica.
Esta é a opinião comum dos parlamentares e representantes da indústria de software, que estiveram no Brazil Tech Fórum, promovido pela BSA, em São Paulo.
“O governo não pode escolher só software livre ou só aplicativos proprietários porque não cabe a ele tolher ninguém. É necessário dar oportunidade aos dois tipos de aplicações”, destacou o deputado federal Júlio Semeghini (PSDB-SP).
Na opinião de Semeghini, a adopção de um único tipo de software comprometeria, por exemplo, os projectos de inclusão digital porque os novos utilizadores teriam contacto com ambientes restritos nas máquinas.
Para Luiz Sette, director do departamento jurídico da Microsoft para a América Latina, mais do que levar em conta o tipo de licença, o governo deve analisar o software que for mais adequado para as necessidades de determinado órgão ou projecto.
“O sistema operacional representa só 2% do custo total de propriedade do sistema.
Deve vencer a batalha o software que tiver mais mérito, independentemente da licença”, disse.
A Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes) também defendeu a livre competição entre os softwares proprietários e livres nas iniciativas do governo.
Por seu lado, o presidente do ITI, Sérgio Amadeu, salienta que só os órgãos públicos brasileiros gastam 80 milhões de reais por ano com programas básicos e 250 milhões de reais em licenças.
Ao todo, os utilizadores brasileiros pagam às empresas americanas 1,1 bilião de dólares, anualmente, pelo uso das licenças, lembra o responsável.
No Brasil, empresas como a Petrobrás já utilizam programas livres para a localização de poços de petróleo. Segundo o ITI, outras companhias nacionais também estão a passar para o software livre.
Entre elas a Varig, Sucos Mais, Embrapa, Carrefour e o metro da cidade de São Paulo. Segundo Sérgio Amadeu, entre as cem maiores empresas do país, 78% “já usam pelo menos um programa ou solução em software livre”.
Até o governo já foi “atingido” pelo software livre.O coordenador de Informática do Ministério das Cidades, Gustavo Noronha, revelou que um quinto dos computadores do ministério já usa o sistema de software livre.
A expectativa, segundo ele, é de que até 2005 todas as máquinas do ministério adoptem essa tecnologia.
O Programa Brasileiro de Inclusão Digital (PBID), actualmente discutido no governo federal, quer ampliar o acesso dos cidadãos, principalmente os de baixa renda, das classes C, D e E, às tecnologias da informação.
O uso de software livre é o elemento central do programa. Além de reduzir os gastos com licenças e a remessa de royalties para o exterior, o software livre permite que os usuários se apropriem das tecnologias e incentiva o País a conquistar autonomia na área de tecnologia da informação.
Por exemplo, em países como a China o software livre abrange a maior parte da Indústria. Várias companhias chinesas, em parceria com a IBM, HP, Intel e Novell, criaram a Aliança Chinesa de Promoção ao Software de Código Aberto.
O principal objectivo é promover o desenvolvimento cooperativo do Linux, além de promover a criação das aplicações abertas no país.